Bibliotecas apostam em Instagram, YouTube e exposição

Ferramentas digitais trazem novas oportunidades para a divulgação do acervo

“Sempre imaginei o paraíso como um tipo de biblioteca”, disse o escritor argentino Jorge Luís Borges em um de seus poemas. Quem, como Borges, ama esse tipo de ambiente deve estar ansioso para a abertura da exposição “A Biblioteca À Noite”, que chega a São Paulo no dia 3 de outubro, após passar por Canadá, França e Rússia.

A instalação tira seu nome de um livro homônimo, escrito pelo argentino Alberto Maguel, bibliófilo e discípulo de Borges. A obra traz 15 ensaios, nos quais se configura um passeio por bibliotecas antigas e modernas. Inspirado nesses textos, o dramaturgo canadense Robert Lepage desenvolveu essa exposição, em que os visitantes percorrem, por meio da realidade virtual, um roteiro com dez bibliotecas reais ou imaginárias. A instalação será exibida no Sesc Avenida Paulista até 10 de fevereiro.

Essa junção de arte, história e tecnologia estimula várias perguntas. Entre elas: como as bibliotecas estão ocupando o ambiente digital hoje, aproveitando as novas ferramentas para atrair e encantar leitores de todo o mundo? Confira a seguir três iniciativas nesse sentido, desenvolvidas pela New York Public Library, pela Biblioteca Nacional de España e pela British Library.

Clássicos no Instagram
A New York Public Library divulgou, em agosto, seu Instanovel – um projeto que disponibiliza obras clássicas por meio do Stories, na conta da biblioteca no Instagram (@nypl). O famoso romance “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, foi a primeira obra a ser divulgada no novo formato, acompanhado por ilustrações e animações do artista Magoz (@magoz). Em seguida, serão disponibilizados o conto “O Papel de Parede Amarelo”, de Charlotte Perkins Gilman, e o romance “A Metamorfose”, de Franz Kafka.  A meta é transformar a conta da biblioteca, no Instagram, numa prateleira virtual.

“O Papel de Parede Amarelo” foi um dos precursores da literatura feminista nos Estados Unidos. A história gira em torno de uma mulher que é confinada pelo marido. Médico, ele a diagnosticou como deprimida e histérica, e a mantém presa e isolada, com a justificativa de que assim ela pode se recuperar. Publicado em 1891, o conto foi redescoberto na década de 1970 por teóricas feministas. Na versão para o Instagram, contará com ilustrações de Buck (@buck_design). Já “A Metamorfose”, de Kafka, dispensa maiores apresentações – mesmo quem não leu a obra provavelmente já ouviu falar do drama do caixeiro viajante Gregor Samsa, que um belo dia acorda metamorfoseado em inseto.  A ilustração do livro ficou a cargo de César Pelizer (@cezarpelizer).

O Instanovel se soma a uma série de outras estratégias adotadas pela New York Public Library para ampliar o alcance de seu acervo. A biblioteca já oferece, por exemplo, um catálogo de obras em braile, assim como audiolivros para download.

Receitas históricas no YouTube
Chefs, historiadores, arqueólogos, filólogos e outros pesquisadores se uniram para apresentar, em vídeos, receitas antiquíssimas da culinária espanhola, usando como base documentos históricos. O ChefBNE é uma série documental composta por 12 episódios, feita pela Biblioteca Nacional Espanhola, que disponibilizou o material em seu canal do YouTube.

Narrados em espanhol, com legendas em inglês, os vídeos contam como foi a chegada do chocolate à Espanha, assim como surgimento dos sorvetes e a influência da cultura árabe e judaica…

As histórias são ricas em detalhes saborosos. Por exemplo: sabia que, quando entraram em contato com o tomate (proveniente da América), os espanhóis não sabiam que se tratava de uma planta comestível? Os tomates eram cultivados com fins decorativos! Só no meio do século 18 aparecem as primeiras receitas com o ingrediente – curiosamente, a de molho de tomate aparece em um livro sobre confeitaria.

Exposição digital sobre Harry Potter
E, por falar em exposição, a British Library inaugurou no ano passado uma exposição para celebrar os 20 anos do primeiro romance da série Harry Potter – escritos por J. K. Howling, esses livros fizeram tanto sucesso que chegaram a mudar o status de obras com foco no público infanto-juvenil no mercado editorial. E essa mostra foi acompanhada por uma versão digital, desenvolvida em parceria com o Google.

A exposição ficou em cartaz em Londres até março deste ano, quando foi transferida para Nova York. Mas sua versão online continua ao alcance de qualquer um de nós, à distância de um clique, ajudando a divulgar não apenas informações sobre Harry Potter, mas também sobre outras peças que compõem o acervo da instituição.

Ao apresentar manuscritos, entrevistas e vídeos sobre os personagens da série, os curadores também chamam a atenção para vários documentos e objetos históricos relacionados a magia e seres míticos. Com mais de 200 milhões de itens, a coleção da British Library conta até com varinha de forma de serpente e bola de cristal. Entre os livros selecionados pelos curadores para a mostra, está um do século 17, chamado “A Chave do Conhecimento”, que trazia instruções para quem quisesse se tornar invisível. Outro, o “Old Egyptian Fortune-Teller’s Last Legacy”, publicado em Londres em 1775, ensinava estratégias para prever o futuro, por meio da leitura das linhas da mão e até levando em conta a localização de verrugas pelo corpo. Para entrar no clima, que tal tentar prever como será a biblioteca do futuro?

FONTE: ÉPOCA