Apple anuncia recurso para combater vício ao smartphone

RECURSO SCREEN TIME VAI GERAR RELATÓRIOS DIÁRIOS E SEMANAIS COM O TEMPO GASTO EM CADA APLICATIVO. GOOGLE JÁ HAVIA ANUNCIADO FERRAMENTA SIMILAR PARA ANDROID (FOTO: PETER PARKS/GETTY IMAGES)

No início deste ano, dois acionistas da Apple escreveram uma carta aberta à empresa pedindo atenção para uma questão cada vez mais problemática entre crianças e adolescentes: o vício em smartphone. No texto, o fundo Jana Partners, de Nova York, e o fundo de pensão dos Professores Aposentados do Estado da Califórnia relacionavam o crescente uso de celulares por jovens a depressão, piora na qualidade do sono e ganho de peso. O vício estaria atrapalhando, inclusive, nos estudos, segundo pesquisas apresentadas pelos investidores — 75% de 2.300 professores entrevistados disseram que a habilidade dos estudantes em se concentrar diminuiu; e 90% afirmaram que o número de estudantes com problemas de ordem emocional aumentou. A resposta da Apple para combater esse cenário veio nesta segunda-feira (04/06). A companhia anunciou em sua conferência anual de desenvolvedores, a WWDC, ferramentas que permitem ao usuário controlar o uso que ele próprio (ou o filho) faz de iPhones e iPads. (São recursos que estarão presentes na nova versão do sistema operacional da Apple, o iOS 12, prevista para setembro.)

Batizado de Screen Time (Tempo de Tela), o recurso gera relatórios diários e semanais com o tempo gasto com cada aplicativo e cada categoria (redes sociais, entretenimento e produtividade). A ideia é que o usuário, com essas informações em mãos, defina alguns limites para si próprio. Acha melhor gastar 30 minutos por dia no Instagram em vez de uma hora? Estabeleça esse limite. Você vai receber uma mensagem quando seu tempo estiver acabando.

apple tempo de tela (Foto: Reprodução)

RECURSO “SCREEN TIME” (FOTO: REPRODUÇÃO)

Outra novidade também pensada para combater o vício é o recurso “Não Perturbe durante o Sono”. Hoje, já existe um “Não Perturbe”. Ele silencia o aparelho, mas as notificações continuam a aparecer. O “Não Perturbe durante o Sono”, além de silenciar por completo o aparelho, escurece a tela inteira, deixando visível apenas o relógio. O aparelho fica assim até a hora do despertador. É um modo que também estará presente em aparelhos com o sistema operacional Android, do Google. A maior parte dos recursos anunciados pela Apple, aliás, já haviam sido apresentadas pelo Google em maio, em seu evento para desenvolvedores, o Google I/O. Ambas as empresas prometem informar o tempo gasto por aplicativo, o número de vezes que o telefone foi desbloqueado, o número de notificações recebidas, entre outros dados. O Google não menciona, no entanto, controle parental.

De seus iPhones ou iPads, os pais vão poder verificar o relatório de atividades do filho. Pais e mães conseguirão também configurar um tempo de bloqueio de uso do aparelho (à noite, por exemplo). Se o filho quiser mais minutos ou horas para usar o celular ou para um determinado aplicativo, terá de pedir permissão ao pai.

Não é que as empresas tenham do dia para a noite adquirido essa nova preocupação com seus usuários — até porque, quanto mais você usa o celular, melhor é para a fabricante, já que a fabricante agora também é desenvolvedora de aplicativos (a Apple, por exemplo, tem o Apple Music, o Health, entre outros). Qualquer desenvolvedor deseja que você gaste seu tempo nos apps deles.

O ponto é que os movimentos de conscientização em torno do vício em celular cresceram muito do ano passado para cá. Tristan Harris, ex-funcionário do Google, foi um dos precursores dessa corrente. Cofundador da Center for Humane Technology, ele foi chamado pela revista The Atlantic como a “coisa que o Vale do Silício tem de mais próximo a uma consciência”. Em 2017, em apresentação no TED, ele já propunha o redesenho dos aplicativos com base no bem-estar dos usuários. De lá para cá, o pensamento de Harris ecoou entre usuários, investidores e outros ex-funcionários de empresas de tecnologia (os mais cientes em relação às artimanhas para manter o usuário grudado na tela do celular).

Nesta segunda-feira (04/06), os investidores que enviaram a carta à Apple no início do ano afirmaram, em novo comunicado, que estavam “satisfeitos, mas não surpresos, com o anúncio de hoje”. “Nós encorajamos vocês a manter contato próximo com os especialistas, para ajudá-los a desenvolver pesquisas públicas, e a manter as famílias informadas sobre os esforços da Apple (em combater o vício ao smartphone).”

FONTE: ÉPOCA