Apex fará parceria com Alibaba para capacitar agricultores familiares para e-commerce internacional

Em paralelo, a Cainiao, braço logístico do grupo chinês, avalia instalar um “hub” no Brasil para sediar as operações do conglomerado nas Américas.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) ampliará em breve a parceria com o grupo chinês Alibaba, que atua no Brasil pelo braço “AliExpress”. O objetivo é replicar no país o modelo das “Taobao Villages”, unidade de negócios da multinacional de e-commerce, que capacita pequenas comunidades rurais para venderem produtos alimentícios e artesanato local pela plataforma de comércio virtual.

Em paralelo, a Cainiao, braço logístico do Alibaba, avalia instalar um “hub” no Brasil para sediar as operações do conglomerado nas Américas. O grupo mantém seis “hubs” em funcionamento em todo o mundo, mas nenhum deles baseado no continente americano. Há demanda para o investimento: são 1.800 rotas aéreas, mais de 3 milhões de m2 alfandegados e 8 voos semanais para o Brasil.

Em Pequim, onde coordenará nesta quarta-feira o Fórum Econômico Brasil-China, o presidente da Apex Brasil, Jorge Viana, intensificou a articulação para ampliar a parceria com o conglomerado chinês. Na terça-feira, a agência de fomento levou uma comitiva de empresários brasileiros para visitar o escritório do Alibaba em Pequim, e uma unidade do supermercado ligado à multinacional, o Freshippo.

Os números relacionados à multinacional chinesa de e-commerce impressionam. O grupo está presente em mais de 200 países, por meio de 135 unidades de negócios, com mais de 1,3 bilhão de consumidores ativos e dezenas de milhões de vendedores e organizações parceiras. A plataforma de pagamentos virtuais, Alipay, movimenta US$ 6 bilhões por dia. A plataforma de varejo on-line, Tmall, que abriga marcas consagradas, tem média de 100 milhões de compras por dia, enquanto o 1688.com é o espaço de comércio no atacado.

O Freshippo comercializa mais de 1.000 produtos importados de 25 países. A plataforma Fliggy vende passagens e pacotes de turismo, enquanto a nuvem de armazenagem de dados, Cloud Me, é patrocinadora dos Jogos Olímpicos de Paris. Os dirigentes do grupo criaram na China o “Eleven eleven” (11/11), ou “Single’s day”, comemorado em 11 de novembro, em um contraponto ao Dia dos Namorados. Na China, o evento ultrapassou a “Black Friday” em volume de vendas: no ano passado, foram mais de 580 mil transações por segundo.

Os números no Brasil são expressivos, mas a Apex e os chineses acham que ainda podem melhorar. As empresas brasileiras venderam aproximadamente US$ 253 milhões por meio das plataformas do Alibaba aos consumidores chineses em 2021. Os principais produtos comercializados foram café, açaí, granola, carne e mel. Em comparação, no mesmo período, os Estados Unidos venderam US$ 61 bilhões nas mesmas plataformas.

Já existe uma parceria entre Apex e Alibaba firmada em setembro do ano passado para estimular as exportações de produtos brasileiros pelo e-commerce internacional. Ao ampliar essa cooperação, reproduzindo no país o modelo das “Taobao Villages”, o “governo quer capacitar produtores da agricultura familiar e de pequenas cooperativas para exportarem seus produtos pelo e-commerce”, disse Jorge Viana ao Valor.

Por meio desse modelo de cooperação, que já está em curso no México, o Alibaba sela uma parceria com universidades públicas ou privadas para treinar professores universitários. Estes, por sua vez, treinarão alunos para operar as plataformas de comércio eletrônico do grupo chinês. Por fim, estes estudantes universitários serão enviados às famílias de pequenos agricultores e às pequenas cooperativas para capacitar seus integrantes a operarem as plataformas de comércio internacional.

Segundo Viana, há um universo amplo a ser explorado pelos brasileiros porque outros países se apropriam da marca “Brasil” para comercializar produtos locais. Cerca de 10 mil produtos que utilizam o termo “Brasil” registraram vendas mensais de mais de 2 milhões de unidades, com faturamento de R$ 43,7 milhões ao mês.

Dados do Alibaba mostram que a comercialização de “pedras brasileiras”, que não saíram do Brasil, movimenta quase 6 milhões de yuans ao mês. A venda de carne bovina, açaí e própolis não provenientes do Brasil, mas associados ao nosso país, mobiliza cerca de 1 milhão de yuans ao mês. A empresa que mais vende açaí no Alibaba é belga, e aquela que mais comercializa a castanha do Pará é da Índia.

Viana, que foi governador do Acre, argumentou que são necessárias políticas públicas para produtos específicos a fim de potencializar o comércio dos mesmos no exterior. Ele citou o exemplo do cacau: a Costa do Marfim exporta 2,2 milhões de toneladas do produto ao ano, enquanto Gana exporta 800 mil toneladas no mesmo período, e o Brasil, somente 200 mil. Ele considera esse cenário injustificável, porque o produto tem produção expandida no Pará e na Bahia.

Também há demanda pelo mel brasileiro, porque as abelhas são consideradas mais fortes e ‘não tomam’ antibióticos. Um caso brasileiro de sucesso no Alibaba é de uma pessoa baseada em Cotia (SP), que impulsionou as vendas ao divulgar seu produto como um mel completamente orgânico e o própolis verde.

Viana acrescentou que vai assinar o novo acordo de cooperação com o Alibaba junto com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, que fará a interlocução com os agricultores familiares e pequenas cooperativas. Ele negou que a falta de internet em regiões remotas do Brasil seja um problema, e que será preciso começar por onde a rede de transmissão de dados já estiver em operação.

Um estudo do Banco Mundial citado pelo grupo Alibaba mostrou que o e-commerce é uma ferramenta eficaz para combater a pobreza. Segundo dados reunidos pela multinacional, em 2009, havia apenas três “Taobao villages”. Pois 12 anos depois, em 2021 (dados mais recentes) eram mais de 7.023 distribuídas em mais de 28 províncias chinesas, segundo o Banco Mundial. Outro item relevante é que a renda média de famílias em “Taobao Villages” é três vezes superior à renda média familiar de outras comunidades rurais chinesas.

Pelas regras atuais do grupo chinês, para se qualificar como “Taobao Village”, a comunidade precisa atingir, coletivamente, vendas anuais de 10 milhões de yuans, ou R$ 75 milhões, e ter mais de 100 lojas de comércio eletrônico; ou, ao menos, 10% das famílias operando lojas de comércio eletrônico

FONTE: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/03/28/apex-far-parceria-com-alibaba-para-capacitar-agricultores-familiares-para-e-commerce-internacional.ghtml