4 motivos para a transformação digital dar errado, segundo Cesar Gon

Cofundador da CI&T, parceira na transição de empresas como Coca-Cola, Itaú e Vivo, Cesar Gon diz que uma boa reforma começa de cima, envolve as regras de gestão e busca atender melhor o consumidor

CESAR GON, COFUNDADOR DA CI&T, EMPRESA ESPECIALIZADA EM TRANSFORMAÇÃO DIGITAL (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Co-fundador e CEO da CI&T — parceira na transformação digital de empresas como Coca-ColaItaú, Embraco e Vivo —, o engenheiro de computação Cesar Gon está acostumado a apresentar histórias de sucesso. Mas, no dia dessa entrevista — em um seminário sobre cultura Lean no Cubo Itaú —, usava uma camiseta preta com a imagem de Darth Vader, o vilão de Guerra nas Estrelas. Era um uniforme adequado para falar sobre o outro lado da força: os 4 motivos que fazem a transformação digital dar errado. E sobre as estratégias para contra-atacar:

O que dá errado na transformação digital?

1- Achar que a transformação digital é (só) uma mudança de cultura
“O gestor não pode fazer um programa de transformação digital porque está na moda mudar a cultura da empresa. Eu estou fazendo a transformação não porque é legal, mas porque vai gerar mais Ebitda ou mais receita, em prazos muito curtos”, diz Cesar. “Se não houver esse foco claro em resultado, os acionistas vão pressionar contra, e o projeto fatalmente será varrido para baixo do tapete corporativo.”

2- Tentar mudar os outros sem mudar a si mesmo
“A gente adora fazer a transformação dos outros, o duro é fazer em si mesmo. O CEO tem que estar dentro, tem que entrar no bote. Senão, não funciona. A mudança de estilo emana da alta diretoria, é top down by design”, diz Cesar. “Quando me convidam para um projeto de transformação digital, eu pergunto: ‘Você está mesmo a fim? Se você quer apenas passar batom no porco, é melhor nem seguir’.”

3- Reorganizar as equipes, mas manter o sistema de gestão
“Esse erro a gente cometeu, lá atrás, na CI&T: mudamos a forma de trabalhar, formando equipes multidisciplinares, e o topo da empresa estava engajado. Mas não mudamos o sistema de gestão”, diz Cesar. “Muitas empresas adotam o sistema de curva forçada da GE e, a cada ano, demitem 10% dos funcionários. Essa prática de gestão faz algum sentido quando tenho 50 pessoas fazendo a mesma coisa. Mas uma empresa que fez a transformação digital se organiza em células multifuncionais. Qual será a dinâmica social desse time? No fim do ano, eles sabem que 2 dos 20 serão demitidos. Nos primeiros três meses, o grupo vai formar um consenso sobre quem serão os dois. Quando o consenso tácito estiver implícito, vão começar a trabalhar. Então a empresa já perdeu três meses. E perdeu dois caras, porque serão excluídos pelos 18.” As métricas e recompensas do sistema de gestão precisam ajudar, e não atrapalhar os novos comportamentos.

4- Achar que transformação digital é um problema de tecnologia
“Em geral, os programas de transformação digital nascem na área de TI, como se o grande problema fosse ali. Não é. Melhorar a experiência do consumidor depende muito de tecnologia, mas ela serve como meio, não como um fim em si”, diz Cesar. “As empresas de sucesso na transformação digital entenderam que não faz sentido adotar mais tendências tecnológicas, como AI, big data e machine learning, só por estar na moda. Está fazendo bem quem começa olhando para o consumidor final. Como eu aproveito a tecnologia para saber mais sobre o cliente e para atendê-lo melhor?”

FONTE: ÉPOCA