Venture capital: pesquisa mapeia principais motivações das startups para a escolha de fundos de risco

Levantamento do Boston Consulting Group ouviu mais de 100 líderes de empresas, em diversos estágios, no Brasil, México e Colômbia.

A possibilidade de atrair talentos está entre os principais motivos para startups optarem por fundos de venture capital — Foto: Freepik

O ecossistema de startups em todo o mundo tem enfrentado uma onda de instabilidade sem data para recuperação. Segundo dados da plataforma Sling Hub, somente na América Latina, os investimentos de venture capital – financiamento de risco tradicionalmente adotado por esse tipo de empresa – tiveram, em 2022, uma queda de 34% em relação ao ano anterior. No caso do Brasil, o cenário foi ainda mais catastrófico, com perdas de 50% no capital investido e de 80% na criação de novos unicórnios (empresas com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão).

Os números revelam o quanto a redução do apetite por risco tem penalizado o setor, com investidores cautelosos diante de um cenário macroeconômico pressionado por políticas que buscam reverter a crise pós-pandêmica. Esses cuidados com a alocação de capital têm feito com que os fundos de venture capital acabem buscando por empresas com maior potencial de retorno, mais maduras e com condições de se sustentar no longo prazo – o que aumenta o impasse.

No entanto, o capital de risco continua sendo um grande impulsionador desses negócios (com movimentação de US$ 12 bilhões na América Latina só no ano passado), e as startups ainda precisam dele para acelerar seus empreendimentos. Para enfrentar a crise, elas têm considerado critérios específicos para buscar fundos que melhor dialoguem com as necessidades da empresa. Assim, vantagens obtidas por meio desses financiamentos, como a facilidade para conquistar futuros investidores e a possibilidade de atrair talentos, estão entre os principais motivos para startups optarem por fundos de venture capital.

As conclusões são da pesquisa “O que os fundadores de startups esperam dos fundos de venture capital”, elaborada pela consultoria Boston Consulting Group (BCG), que desenvolveu o estudo sobre o cenário de venture capital na América Latina, desde o levantamento do capital pelas startups até os primeiros anos subsequentes de operação. Foram ouvidos 120 líderes de startups do Brasil, México e Colômbia.

No recorte do levantamento, realizado em 2022, estão fundadores de startups de diversos estágios de maturidade e de diferentes segmentos, principalmente do setor financeiro (fintechs), de saúde (healthtechs), do mercado imobiliário (proptechs) e de varejo (marketplaces).

Motivações para escolha dos fundos de venture capital

A influência do acesso a este tipo de financiamento para facilitar as rodadas subsequentes das empresas é o principal motivo apontado pelos entrevistados para a escolha do investimento de risco: 58% dos líderes. Para eles, aponta o estudo, os fundos ajudam na validação de suas teses, na otimização de seus modelos de negócio e no aumento de suas conexões com novos investidores.

O custo-benefício entre a diluição (fatia da empresa que os fundadores dão em troca do dinheiro) e o tamanho do cheque dos investimentos de venture capital aparece em seguida, como motivação de escolha para 42% dos empreendedores ouvidos.

Já a influência dos fundos de risco na atração de novos talentos foi o terceiro motivo mais mencionado, com incidência de 40% das respostas. Segundo o documento, os líderes de startups consideram que ter o investimento de um venture capital facilita a atração de bons profissionais no mercado, já que o recebimento do aporte é entendido como status de confiança no modelo de negócio.

As características que são levadas em conta pelas startups na hora de escolher seus investidores se diferenciam em prioridade a depender do estágio de maturidade da empresa. As startups de séries A e B priorizam a capacidade do fundo em ajudar a levantar capital (27% delas), enquanto isso fica em segundo lugar para empresas em fase inicial (20%).

Por outro lado, a influência no acesso a profissionais é prioridade para as empresas em estágio inicial, visto que elas têm mais dificuldade em encontrar talentos e precisam de maior suporte na condução do seu negócio.

Diante do atual cenário, o que o estudo mostra é que as empresas buscam critérios alinhados com a maior possibilidade de sobrevivência no mercado. Para Otávio Dantas, diretor executivo e sócio do BCG, as startups vão precisar equilibrar rentabilidade e crescimento diante dos investimentos escassos e vão precisar contar com os benefícios que o fundo de risco poderá oferecer durante o período de crise, além do aporte financeiro. “Existe ainda muita incerteza sobre até quando o inverno [das startups] vai durar”.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/startups/noticia/2023/04/venture-capital-pesquisa-mapeia-principais-motivacoes-das-startups-para-a-escolha-de-fundos-de-risco.ghtml