Vendas dos 10 mil lojistas locais já respondem por 50% do faturamento da Shein no Brasil

Empresa começou a profissionalizar vendedores com opção de criarem “lojas de moda” para ter espaço premium no site. Objetivo é que projeto represente 50% do faturamento de vestuário em 2024.

O Brasil foi escolhido como o primeiro mercado global da Shein a ter um marketplace local, com vendas de sellers brasileiros, em março de 2022. A plataforma foi lançada oficialmente em abril deste ano. Hoje 10 mil empreendedores locais vendem pelo site, e o montante já representa 50% do volume de vendas da empresa no país. A equipe interna, de 140 pessoas, é gerenciada por Raul Jacob, diretor de marketplace da Shein (ex-Shopee).

O projeto do Brasil é o mais desenvolvido em todo o mundo. Desde junho, a Shein já tem marketplaces também no México e nos Estados Unidos, e a ideia é expandir a frente globalmente. No entanto, não está nos planos colocar os produtos dos vendedores locais na cesta de consumidores estrangeiros. O tíquete médio dos marketplaces é diferente, mas a Shein não abre o valor.

A empresa não cobra nada pela adesão do vendedor e dá 90 dias de carência para que o lojista possa se adaptar à plataforma. Depois, incide sobre cada transação uma taxa de 10%. Diferentemente de outras plataformas, a Shein exige que o empreendedor tenha CNPJ, ainda que seja Microempreendedor Individual (MEI), emita nota fiscal e possua, no mínimo, 50 SKUs comprovados. Isso, sabidamente, inibe a entrada de iniciantes.

Manter pequeno para ter controle

Se comparado a outros marketplaces bem estabelecidos, o número de sellers da Shein no Brasil ainda é pequeno. O Mercado Livre, por exemplo, divulga ter 10 milhões de vendedores cadastrados e até mesmo a Americanas, em crise desde o início do ano, acumula 149 mil sellers.

De acordo com Jacob, o número reduzido é proposital. Dessa maneira, é mais simples manter a rotina de visitas presenciais que certificam que o lojista tem os produtos anunciados, possui estoque suficiente e segue as regras do jogo da Shein.

Jacob explica que a empresa foi aprendendo, aos poucos, como traçar os critérios para aceitar os vendedores. Desde o início uma das principais preocupações foi com direito de uso das imagens e produtos vendidos — itens falsificados, que são considerados uma das principais fraquezas de canais do gênero, são barrados, de acordo com ele. “Hoje temos bastante inteligência artificial nesse processo, mas no começo revisávamos manualmente para ver se não tinha nenhuma imagem que infringisse direitos, fosse ofensiva ou que não pudesse estar lá”, diz.

Apesar de moda ser o carro-chefe da marca, o e-commerce já trabalha com outros segmentos. “Até setembro do ano passado eu foquei em trazer apenas varejistas de vestuário feminino, porque já tínhamos os dados das vendas crossboarder. A partir disso começamos a abrir moda masculina, e explorar outras categorias. Hoje temos quase todas abertas, exceto algumas mais sensíveis, como alimentos, que têm muito risco envolvido”, afirma Jacob.

Empresa assume logística

Todas as entregas são feitas pela própria Shein. Se o vendedor tem mais de 150 pedidos por dia, a Shein vai até ele para retirar as encomendas e leva para um dos cinco centros de distribuição que tem em São Paulo (três em Guarulhos, um Perus e um em Embu das Artes), superior a 200 mil metros quadrados. Se for menos, é preciso ir até um dos mais de 2 mil pontos de coleta da empresa. “Temos um modelo de cobrança por produto, que começa em R$ 4. A maior parte dos itens se enquadra nesse valor, e é o suficiente para controlar as entregas”, diz.

O domínio da logística acaba limitando a atuação local a São Paulo e, em casos pontuais, alguns outros estados. Mas a previsão é avançar no Rio de Janeiro até o primeiro trimestre do ano que vem.

Lojas de moda devem representar 50% do faturamento em 2024

Há cerca de um mês, a Shein colocou no ar um novo projeto dentro dos marketplaces: as lojas de moda. Novamente, o Brasil, que é o terceiro maior mercado mundial da empresa, é o primeiro a receber a modalidade. O objetivo é ajudar a desenvolver os empreendedores do marketplace, transformando-os em uma marca de moda, com espaço de destaque dentro do site. O próprio seller pode escolher a opção no ato do cadastro. “Víamos que alguns empreendedores tinham um produto sensacional, mas ainda não tinham encontrado a própria identidade”, diz Jacob.

Os dois critérios principais de elegibilidade são ter 50 SKUs no site e venda diária média de R$ 1,5 mil. “Ele precisa alcançar isso em até 45 dias”, diz Jacob. Segundo o executivo, 80% dos 10 mil vendedores já se enquadram no segundo parâmetro, atualmente. Outros aspectos analisados são a aderência à dinâmica do site e ter, pelo menos, 80% de seus itens cadastrados em uma das oito categorias: moda, esporte, casual, férias, elegante, festa, casamento, sexy e “anos 2000”, que são as lojas temáticas ds Shein.

O objetivo é que elas representem 50% das vendas totais de vestuário do marketplace em 2024.

Com consultorias e suporte premium, a Shein também pretende fazer com que as marcas se desenvolvam dentro da plataforma, tenham um espaço de destaque e se tornem reconhecidas no mercado. “No mundo dos marketplaces existem poucas oportunidades para eles crescerem. Queremos dar uma consultoria de moda para ajudar esses vendedores a escalarem”, diz Jacob.

De acordo com Jacob, não é necessário pagar nada a mais para se habilitar a ser uma loja de moda, mas todos os vendedores podem ou não ser aprovados após a avaliação interna. “A ideia é fazê-lo passar de um ‘lojista com potencial’ para um empreendedor que entende o que está vendendo”, afirma o executivo.

FONTE:

https://revistapegn.globo.com/negocios/noticia/2023/11/vendas-de-lojistas-locais-ja-respondem-por-50percent-do-faturamento-da-shein-no-brasil.ghtml