Um headset de Realidade Virtual… para ratos

Headset de RV controlado via Raspberry Pi é usado para estudar as reações neurológicas de ratos a ambientes virtuais.

Pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, deram um uso inusitado para um Raspberry Pi: ele está sendo empregado como a central de processamento de um headset de Realidade Virtual… para ratos.

O dispositivo obviamente não foi criado para ser usado em uma noite de jogatina para roedores, mas para analisar as reações e o nível de imersão deles em ambientes virtuais.

O projeto veio do Laboratório Schaffer-Nishimura, cujo foco é estudar a visão de animais empregando ferramentas ópticas de análise avançadas, incluindo Realidade Virtual. O departamento é tocado pelos profs. Drs. Chris B. Schaffer e Nozomi Nishimura, enquanto o projeto é fruto de pesquisadores liderados pelo Dr. Matthew Isaacson, mais um time de graduandos.

O headset para ratos não rendeu um artigo (ainda), e a pesquisa inicial foi apresentada na feira anual do laboratório, a SFN 2022, mas todos os dados referentes ao equipamento foram publicados no GitHub, e estão acessíveis para quem quiser fuçar.

O que temos aqui, então? Um Raspberry Pi 4, dado seu formato de placa única (SBC) e design compacto, foi usado para desenvolver um headset de tamanho reduzido, fixado em um case impresso em 3D que incluidois suportes para os olhos dos ratinhos. Cada um deles conta com um display circular de 240 x 210 pixels.

Uma lente de Fresnel, posicionada a 15 mm de distância da cobaia, garante uma visualização com campos de visão de 240º na horizontal e 140º na vertical.

Para garantir que o rato usando o headset de RV tenha uma experiência imersiva (do ponto de vista dos pesquisadores), ele é posicionado em cima de uma bola de isopor, que funciona como uma “esteira” e permite ao roedor se mover em qualquer direção. Conforme ele caminha, os movimentos da esfera são captados por um microcontrolador Arduino Due, cujos dados são processados pelo RPi, para a criação de interações correspondentes.

O motor gráfico usado no experimento é o Godot, um projeto de código aberto e completamente gratuito, usado para o desenvolvimento de jogos e softwares, tanto gratuitos quanto pagos, o que rendeu inclusive um episódio em que ele foi usado na versão para PC de Sonic Colors: Ultimate, mas sem o devido crédito, como exige a licença MIT.

Voltando ao headset para ratinhos, os dados enviados pelo Arduino Due permitem que o software mudanças de câmera no ambiente virtual, que se move conforme as ações que o rato executar na “esteira”.

Os softwares usados para entreter os ratos envolvem o visto no tweet acima, uma simulação com um chão imitando um tabuleiro de xadrez, com espaços falsos onde é possível cair; o objetivo seria analisar o nível de imersão e entender se os ratos conseguem evitar buracos, uma vez que os detectem, e se realmente entendem o que estão vendo como uma paisagem “real”.

O GitHub também menciona experimentos para “estímulos iminentes”, e as reações do dos espécimes ao que eles experimentam, visto que segundo os pesquisadores, este é um “experimento de neurociência”.

Por outro lado, não há informações no site do projeto se a equipe está usando quaisquer sensores biológicos para avaliar a atividade cerebral, o ritmo cardíaco, ou outras características dos ratos, enquanto estes usam o headset de RV. Por enquanto, os dados passados dão a entender que num primeiro momento, a pesquisa se foca em uma avaliação comportamental, e não muito mais que isso.

Ainda assim, vale a pena ficar de olho ao menos para, talvez, entender se outras espécies também conseguem interagir com ambientes simulados, e se elas podem ser enganadas, ou não, por simulacros.

FONTE: https://www.terra.com.br/byte/ciencia/um-headset-de-realidade-virtual-para-ratos,e1b88760f3cf8168aea78936cfc209d3otxzbd2v.html