Três formas de restaurar a confiança na tecnologia

A desmistificação é um requisito mais importante do que nunca. O advento da IA, do aprendizado de máquina e bots e a percepção de uma maior privação de direitos humanos, se incorretamente, só irá gerar desconfiança

Como CEO de uma empresa de tecnologia com valor estimado de US$ 4 bilhões e presidente eleito do Comitê Diretor de Liderança de TI do Fórum Econômico Mundial, permaneço atentamente consciente a respeito da reputação de nossa indústria. Depois de anos de soluções, aplicativos e dispositivos que produziram progressos que economizaram tempo e mudaram vidas, a atenção no setor se tornou negativa, variando de cautela geral à desconfiança absoluta.

Isso é preocupante, mas, sem dúvida, não surpreende muito, dadas às rápidas mudanças de grande alcance e impacto que a tecnologia causou em nossa vida. A taxa de mudança é tão rápida que se torna quase impossível acompanhar. Afinal, a tecnologia está atingindo de forma cada vez mais profunda nossas vidas e nossos dados.

Com cada clique em um link e a cada pesquisa, surge uma imagem digital mais profunda e diversificada de nós mesmos. Esses dados são compilados e analisados, e então podem ser usados para nos trazer o que queremos, sem que nunca tenhamos expressado o desejo. Isso é o verdadeiro poder.

Indivíduos e instituições dependem quase inteiramente da tecnologia. Isso sustenta nossas economias, nossas infraestruturas e nossos governos, além de fazer parte diária de nossas vidas pessoais. O software, especificamente, chegou tão sutilmente e tão completamente em nossas vidas, que nunca consideramos seu impacto como devíamos.

Apesar da sua presença em todos os canais, há um ar de mistério sobre a tecnologia que é inquietante para a maioria de seus usuários. De acordo com uma recente pesquisa da Axios/SurveyMonkey, 78% dos entrevistados achavam que era “ruim” que as empresas de tecnologia pudessem coletar tanta informação sobre seus usuários, por medo de como eles poderiam ser utilizados.

A magia da tecnologia agora pode ser sentida como feitiçaria e a desmistificação é um requisito mais importante do que nunca. O surgimento de tecnologias disruptivas – inteligência artificial, aprendizado de máquina e bots e a percepção de uma maior privação de direitos humanos –, se materializado incorretamente, só irá gerar desconfiança. Chegamos à nossa adolescência digital, mas justamente por como a tecnologia se tornou inevitável em nossas vidas, precisamos considerar como evoluir para um relacionamento mais maduro com ela.

Este é o momento em que devemos corrigir a relação entre apreensão e necessidade. Nem a raça humana e tampouco a tecnologia estão indo embora. Pelo contrário, o casamento entre os dois tem um enorme potencial de bem social e avanço humano em praticamente todos os níveis. O software oferece a promessa de servir mais como uma linguagem universal do que construir comunidades, reunir pessoas e atualizar ideias.

Como uma indústria, nossa prioridade deve ser reconstruir a confiança crítica na tecnologia, tornando-a acessível para todos. A diversidade, a requalificação e o estabelecimento das melhores práticas da indústria são três maneiras importantes de fazer isso.

1. Diversidade – Devemos ser implacáveis em nossos esforços para diversificar a atual e a próxima geração de profissionais de tecnologia. Um ambiente inclusivo, acessível a qualquer pessoa que deseje participar, é obrigatório. Não pode haver “nós” e “eles” na batalha para alcançar confiança e colaboração de forma sustentável. Nós apenas desbloqueamos o nosso potencial coletivo se ele for exatamente isso: coletivo.

2. Requalificando – Há uma situação econômica de ganhos garantidos a ser realizada caso haja investimento adequado para requalificar a força de trabalho atual para empregos em tecnologia. De acordo com um estudo do Code.org, existem 500 mil vagas de trabalho abertas na área de computação nos EUA, enquanto a Comissão Europeia indicou que 44% dos cidadãos europeus não possuem habilidades digitais básicas. Nosso futuro exige o engajamento com talentos dos profissionais marginalizados pelos avanços tecnológicos e que eles sejam preparados para novos funções na Quarta Revolução Industrial. Com um número tão grande de trabalhadores desprotegidos e empregos de tecnologia abertos em todo o mundo, requalificar é a solução óbvia. E há um bônus adicional: nada cria mais boa vontade do que ser inclusivo e proporcionar um caminho claro para uma vida melhor. O aumento da confiança será mensurável.

3. Melhores práticas – À medida que a indústria de tecnologia continua amadurecendo e crescendo em tamanho e importância, é razoável esperar que órgãos governamentais e agências reguladoras olhem para providenciar a supervisão e proteção de seus cidadãos. A próxima lei de privacidade da União Europeia, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR), é um excelente exemplo de uma abordagem abrangente e necessária para líderes e na gestão de dados. Não há nada particularmente “ruim” sobre a coleta e agregação de dados pessoais por parte de uma empresa; de fato, quando usado para fornecer interações customizáveis e de valor agregado, é uma busca muito útil tanto para a empresa, como para o cliente. Mas as organizações precisam ser transparentes sobre o uso de seus dados e criar privacidade (e segurança) em seus produtos e serviços. O GDPR é, portanto, uma legislação importante para garantir que os dados sejam protegidos e a confiança preservada.

Além da necessária regulamentação, nossa indústria também precisa fazer um balanço de nossos próprios processos e procedimentos para estabelecer práticas recomendadas. Um exemplo simples: uma pesquisa da CA Veracode mostra que 83% das organizações liberam o código antes de testar ou resolver problemas de segurança de suas aplicações, enquanto 77% dos aplicativos possuem pelo menos uma vulnerabilidade conhecida. Isso, francamente, é uma prática irresponsável e inaceitável, especialmente quando as ferramentas de teste estão amplamente disponíveis e altamente efetivas. Ao assumir a responsabilidade de estabelecer padrões elevados e nos mantermos firmes a eles, também vamos proteger nossos clientes, nossas marcas e fortalecer a confiança no setor.

Ao final do dia, sou otimista. Meus colegas e parceiros líderes na indústria de tecnologia têm uma oportunidade emocionante de deixar nossa marca na evolução do panorama tecnológico, mesmo quando o caminho a seguir não é perfeitamente claro. Também temos uma séria responsabilidade de considerar as consequências não desejadas para se concentrar nos valores e na ética humana, fundamentais para tomar todas as ações que podemos, sejam elas individuais ou coletivas, para garantir que quando olhemos para trás em nosso trabalho, possamos dizer que criamos o jogo – para todos.

FONTE: CIO FROM IDG