Toda empresa será uma fintech?

Toda empresa pode ser uma fintech? Pelo jeito sim, uma vez que as tecnologias de Open Banking e Open Finance permitem habilitar diferentes tipos de serviços financeiros para seus clientes. E como não perdem tempo, startups como iFood, Quinto Andar e CargoX estão tratando de fincar suas bandeiras nesse terreno, acirrando ainda mais a concorrência e acinzentando as fronteiras.

O Brasil emplacou seis startups na lista das 250 principais fintechs do mundo em 2020, de acordo com o CB Insights: Creditas, EBANX, Gorilla Invest, Nubank, Xerpa e Quinto Andar. Entre estas empresas, é a última quem chama mais atenção.

O Quinto Andar nasceu em 2013 como uma startup do mercado imobiliário, ou seja, uma construtech, retech ou proptech. Rótulos “tech” à parte, desde o ano passado a empresa entrou de vez no universo dos serviços financeiros ao financiar a reforma de imóveis disponíveis na plataforma digital. Mais recentemente, a startup lançou uma linha de crédito para auxiliar corretores e imobiliárias parceiros.

É uma estratégia de mão dupla. Por um lado, o crédito em si é um produto financeiro rentável e viável para uma startup que levantou US$ 335 milhões em investimento. Por outro, financiar proprietários e corretores parceiros fortalece o ecossistema da plataforma como um todo. O produto final, que é o imóvel, fica mais valorizado.

O movimento do Quinto Andar está alinhado a uma tendência de startups de diversos setores que passaram a oferecer serviços financeiros. É o caso do iFood, que lançou nesta sexta-feira (4 de setembro) uma conta digital para restaurantes, com cartão pré-pago e linha de crédito disponíveis. Outro exemplo é a CargoX, de logística de transporte de carga, que criou um fundo de R$ 300 milhões para oferecer financiamento a transportadoras.

É uma tendência que não fica restrita ao território brasileiro, nem somente às startups, e traz muitos benefícios. Nos EUA, o ecossistema de fintechs foi povoado por empresas originalmente de outros setores. O caso mais emblemático é o de pagamentos digitais, em que as duas carteiras mais populares do país são da Apple (uma empresa de tecnologia) e Starbucks (uma rede de cafeterias).

Produtos financeiros desenvolvidos por companhias para um nicho específico são melhores do que aqueles criados por bancos para atender à demanda mais ampla do mercado geral, diz a investidora Angela Strange. Na sua opinião, toda empresa pode se tornar uma fintech. “As pessoas que entendem os problemas de suas comunidades provavelmente criarão produtos que os solucionem melhor”, afirma.

A atenção às questões de cibersegurança e regulatórias do setor financeiro é essencial no movimento de “fintechização” das empresas. O recente caso do WhatsApp, que teve um serviço de pagamentos temporariamente suspenso no Brasil pelas autoridades, logo após o lançamento, comprova esta tese.

Há uma série de razões para crer que os serviços financeiros, no Brasil, estarão cada vez mais distribuídos entre diferentes empresas.

Embora 70% do crédito esteja concentrado nos cinco maiores bancos, ainda há 45 milhões de pessoas sem acesso a este mercado no país, como destaca estudo da PwC.

Com o retorno das atividades comerciais em meio à pandemia, o mercado busca crédito para se reestruturar e há aumento na procura de empréstimos pelo terceiro mês seguido.

A implementação do Open Banking vai tornar o mercado mais competitivo e promover maior acesso aos dados financeiros dos clientes.

E todas as empresas que têm muitos clientes têm uma oportunidade enorme de atuar como fintech.

O número total de fintechs e iniciativas de eficiência financeira em atuação no Brasil saltou de 604 em junho de 2019 para 771 em agosto deste ano, segundo o Radar FintechLab.
Além disso, o mercado brasileiro já conta com fornecedoras de tecnologia para empresas digitais que desejam oferecer produtos financeiros de forma segura. A Stefanini tem a solução Banking in a Box, com diversos serviços para clientes, parceiros e funcionários, como cartões personalizados e contas digitais. A Matera, a Axis e Zoop também oferecem sistemas para pagamentos, serviços bancários e crédito.

O mais importante é que esse movimento significa mais opções, produtos melhores e preços mais baixos para os consumidores.

FONTE: https://www.theshift.info/