Testamos o 5G na Coreia do Sul e ele está em toda a parte. Avisa até que é hora de trocar a fralda do bebê

Em meio à guerra comercial entre China e EUA, país saiu na dianteira. Karaokês deram lugar a campeonatos de VR

SEUL – Em Gangnam, bairro dos endinheirados de Seul , não se veem mais os karaokês típicos daCoreia do Sul . Os jovens agora se divertem em campeonatos de games em VR (sigla em inglês pararealidade virtual ) em points no meio da rua, turbinados por uma conexão em altíssima velocidade na internet. Só o que não mudou foi a trilha sonora: o mesmo K Pop do pioneiro PSY, autor de “Gagnam Style”, tocado às alturas.

O hit “Gagnam Style” apresentou ao mundo o K-Pop e, aqui na Coreia, a música do PSY é considerada uma crítica à elite coreana que adere rapidamente à tecnologia. Desde abril, quando o país se tornou o primeiro a adotar em larga escala a rede 5G de telefonia móvel, com velocidade de conexão vinte vezes maior que a 4G, a tecnologia nunca esteve tão presente nas ruas de Seul.

No metrô, jovens com celular e fones de ouvidos sem fios baixam em apenas dois segundos filmes com duas horas de duração para assistir no trajeto até o trabalho. Afinal, conexão e capacidade de memória dos celulares já não são mais um problema.

A rede 5G mudou o lazer e também facilita tarefas mais prosaicas, como trocar a fralda do bebê. Além da conexão para a internet como conhecemos — para ver filmes, usar redes sociais ou, até, conversar ao telefone — o 5G possibilita o uso de objetos conectados. Assim, um sensor na mochila tipo canguru usada para carregar o bebê avisa aos pais que a fralda está cheia.

Em casa, o ar-condicinado é ligado pelo celular. A polícia usa câmeras com visão de 360 graus conectadas à internet. Informações úteis como as condições de clima e trânsito são transmitidas em tempo real e divulgadas em placas de LED pela cidade.

Nas lojas de roupas ou cafeterias, o serviço também é via tela inteligente, que recebe os pedidos dos clientes. As atrações turísticas locais, como a escultura em homenagem a Gangnam Style (com uma mão sobre a outra, no gesto típico da famosa dança de PSY), trazem painéis interativos com vídeos e informações transmitidas via conexão 5G.

Carro conectado: nove câmeras e oito telas Foto: Bruno Rosa
Carro conectado: nove câmeras e oito telas Foto: Bruno Rosa

Nos carros conectados, um modelo que deve chegar em breve ao mercado terá nove câmeras e oito telas, todas disponíveis para motoristas e passageiros, que conseguem ainda monitorar tudo pelo celular.

32 mil antenas e apoio estatal

A quinta geração da telefonia celular representará um salto também para a indústria, pois permite conexão sem atrasos, ou latência no jargão do setor. E está por trás da guerra tecnológica que opôs EUA e China nos últimos meses — a ameaça americana de banir a chinesa Huawei teve como pano de fundo a dianteira da empresa nas redes 5G.

EUA e China à parte, a Coreia do Sul saiu na frente. As principais operadoras coreanas, KT, SK Telecom e LG UPlus, lançaram a rede 5G há três meses, usando rede da Samsung.

— Estamos expandindo as operações e conversando com várias operadoras ao redor do mundo. Na Coreia do Sul, onde já lançamos a rede 5G, os resultados vieram acima das expectativas em termos de venda e da aceitação entre os clientes. Depois da Coreia, está chegando a vez dos Estados Unidos, Europa e Austrália — disse Junehee Lee, vice-presidente de Estratégia de Tecnologia da Samsung, que evitou comentar sobre a Huawei. — Nossa visão é focada no consumidor e não na concorrência.

Na Coreia do Sul, a rede 5G começou com 32 mil antenas já instaladas. O Brasil, com um território muito maior (8,5 milhões de quilômetros quadrados, contra apenas 99 mil da Coreia do Sul) conta ao todo com cerca de 90 mil equipamentos de Norte a Sul, compara Fabio Moraes, diretor de Estratégia da GSMA, associação global das operadoras de redes móveis.

No país asiático, o leilão de frequência do 5G ocorreu no ano passado. Já no Brasil a previsão é que o certame seja realizado apenas no primeiro trimestre de 2020, com os primeiros smartphones sendo vendidos apenas no Natal.

— O 5G é entendido como algo disruptivo, que vai trazer mais receita e desenvolvimento para quem deter essa tecnologia. A Coreia tem como política de estado a busca pela vanguarda das telecomunicações, com incentivo às empresas — diz Moraes.

A expectativa é que o 5G chegue a 10 milhões de usuários no fim deste ano em todo o mundo, de acordo com projeção da Ericsson. Hoje, além da Coreia, EUA e Uruguai já contam com a venda de pacotes com a quinta geração, mas disponível apenas em banda larga residencial.

EUA ficaram para trás

Segundo a 5G Americas, outros seis países estão prestes a iniciar a operação comercial. Estudo feito com 145 operadoras mundo afora pela A10 Networks, que desenvolve soluções de rede, revela o apetite global pela nova fase do setor: 67% das teles no mundo pretendem lançar a rede em 18 meses.

— As empresas coreanas foram as primeiras a lançarem suas redes e aparelhos celulares porque eles têm ambições industriais apoiadas por seu governo. O objetivo é que a indústria nacional tenha uma vantagem de pioneirismo e crie receitas de exportação para seu país — avalia Bengt Nordström, diretor-presidente da consultoria sueca Northstream AB.

Nordström ressalta que, por trás da corrida pelo 5G, está o fato de os Estados Unidos terem perdido espaço na indústria de equipamentos de telecomunicações já nos anos de 1990, devido às apostas em diversos padrões que não vingaram, como o CDMA (anterior ao GSM) e ao Wimax (rede sem fio voltada para conectar cidades).

— Embora o país esteja bem posicionado no setor de dispositivos com Apple, Google e Qualcomm, e em internet, com Facebook, Microsoft e Amazon, é uma preocupação para os EUA que a maioria dos equipamentos de telecomunicações para 5G não seja de origem americana — avalia Nordström.