Tesla abandona radar no Model 3 e no Model Y, mas isso é considerado um sério risco; entenda

A Tesla retirou no ano passado o radar dos carros Model 3 e Model Y vendidos na América do Norte e agora expandiu a medida para os mercados do Oriente Médio e da Europa. A ação começa a vigorar nessas regiões a partir deste mês, confirmando a transição da montadora para o sistema Tesla Vision, um conjunto de câmeras com tecnologia própria da marca que ela considera melhor que os sensores de radar.

“A partir de abril de 2022, os veículos Model 3 e Model Y construídos para os mercados europeu e do Oriente Médio não serão mais equipados com radar”, diz a montadora, em comunicado no site oficial. “Em vez disso, esses serão os primeiros veículos da Tesla com visão de câmera e processamento de rede neural para fornecer recursos de Autopilot, Full Self-Driving e certos recursos de segurança ativa.”

A eliminação do radar e a transição para o Tesla Vision, no entanto, suscitam algumas dúvidas. Por exemplo, o fato de as medidas não terem sido inteiramente aprovadas pela NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration), agência responsável por dados relativos à segurança de trânsito nos Estados Unidos.

Segundo a entidade, dois recursos de segurança ativa presentes no sistema — aviso de colisão frontal e frenagem de emergência automatizada —, necessitam ainda de avaliação.

A demora provavelmente está ligada ao fato de a NHTSA ter aberto uma investigação formal sobre 416 mil Teslas por problemas no sistema de frenagem automática. Os modelos envolvidos no caso são o Model 3 e o Model Y, todos fabricados em 2021 e 2022 — justamente as unidades que não contam mais com sensores de radar.

Ilustração de como funciona o Tesla Vision
Ilustração mostra como o Tesla Vision funciona na interação com o FSD (Tesla/Divulgação)

E por que eliminar o radar?

Para ser sucinto, esta é a visão do presidente da companhia Elon Musk. O executivo acredita que carros autônomos — ou semiautônomos, como os Teslas são hoje em dia — devem aprender a dirigir da mesma forma que os humanos aprendem: enxergando.

Isso fica explícito pelas críticas de Musk ao Lidar, um sistema de rastreamento óptico que surge como uma tecnologia emergente no mundo automotivo nos últimos tempos: “O sistema rodoviário foi projetado para funcionar com redes neurais e olhos biológicos, portanto, uma solução geral para a direção autônoma exigirá, necessariamente, redes neurais e câmeras de silício. É a inteligência do mundo real.”

O problema no triunfalismo de Musk é que a eficiência do Tesla Vision ainda não foi totalmente comprovada. Segundo a investigação da NHTSA, um dos problemas com o recurso de segurança ativa era que havia uma falha de comunicação entre dois chips integrados quando o veículo saía do modo Sentry (sentinela) ou do modo Summon Standby (estacionamento). Nesses momentos, um dos chips permanecia em estado de suspensão, fazendo com que as redes neurais não se conectassem de forma apropriada e executassem os comandos “de forma menos consistente que o esperado”.

Na prática, o veículo atingido poderia identificar incorretamente objetos ao seu redor — e, ao que parece, o episódio se repetiu tantas vezes que os motoristas da Tesla relataram um aumento nos avisos de colisão frontal.

Musk: reticente com sistemas de radar (Imagem: Creative Commons – Flickr)

A importância do radar

Os sensores de radar são comuns em diversos carros e caminhões modernos. A tecnologia é utilizada para detectar objetos que se aproximam rapidamente e acionar dispositivos de segurança.

E segurança é a palavra aqui: o radar faz coisas que, não importa o quanto as câmeras evoluam, elas nunca serão capazes de fazer.

A vantagem crucial do radar – mesmo comparado ao mais moderno lidar – é que ele pode enxergar o que olhos humanos não enxergam. Numa situação de nevoeiro, tempestade ou nevasca, a câmera é tão cega quanto o olho humano. O radar não é: ele vai detectar veículos e outros perigos à frente mesmo sem o motorista ou as câmeras enxergarem a um palmo.

E o lidar, do qual Musk faz tanto pouco caso, diferente de câmeras, emite sua própria luz. Então, em outra situação, na qual o objeto perigoso está no escuro – como um caminhão acidentado sem luzes – poderia também salvar o motorista, quando as câmeras e seus próprios olhos não podem.

A expansão do Tesla Vision para o mercado europeu e asiático mostra que, de fato, a companhia desistiu do radar. Em princípio, alguns recursos foram eliminados e outros foram limitados para que o sistema seja implantado. Por exemplo, o assistente de direção, cuja velocidade máxima será de 130 km/h, com uma distância de acompanhamento maior.

Resta ainda à Tesla, porém, encarar as investigações da NHTSA para entender se seu produto é seguro ou apenas mais uma jogada de marketing para os mais entusiastas da marca.

FONTE: https://olhardigital.com.br/2022/04/07/carros-e-tecnologia/tesla-abandona-radar-no-model-3-e-no-model-y-mas-isso-e-considerado-um-serio-risco-entenda/