TELES REDUZEM GASTOS COM EXPANSÃO DE REDES PELO 3º ANO SEGUIDO

Aportes em antenas e fibra ótica devem cair 5% em 2017. Mas uso de celular cresce.

O celular é a principal forma de comunicação no país, seja pela voz ou pelo acesso à internet, segundo especialistas (Foto: Pexels)

Os investimentos em telecomunicações devem registrar seu terceiro ano consecutivo de queda em 2017. Especialistas estimam que os recursos destinados à expansão de antenas e redes de fibra óptica caiam 5% este ano, para R$ 26,6 bilhões — no momento em que o país precisa ampliar essa infraestrutura para se manter conectado. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, cerca de 63% dos lares brasileiros usam apenas o celular para falar. São 41,2 milhões de residências. Na outra ponta, apenas 1,3 milhão de lares se comunicam somente pelo telefone fixo, cerca de 2% do total. E mais: 60,3% das famílias (41 milhões) acessam a internet pelo telefone móvel.

O celular é a principal forma de comunicação no país, seja pela voz ou pelo acesso à internet, segundo especialistas. Mesmo assim, o brasileiro já vem sentindo na pele os efeitos dos baixos investimentos das empresas. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da consultoria Teleco revelam que o país chega ao fim de 2017 com 471 municípios sem cobertura 3G. No caso da quarta geração de telefonia móvel (4G), que confere maior velocidade de conexão móvel, falta levar antenas para 2.207 cidades. O país tem, no total, 5.570 municípios.

De acordo com a Huawei, um dos principais fabricantes de equipamentos para o setor, somente a demanda por internet móvel vai crescer 45% ao ano até 2020. O especialista em infraestrutura Hermano Pinto afirma que, no Brasil, o celular, a exemplo do que ocorre nas principais economias, vai se tornar o principal produto para uma série de atividades, como fazer fotos, gravar vídeos e assistir televisão ao vivo. Mas para isso, ressalta, uma boa conexão é essencial para colocar o Brasil no mesmo patamar dos países mais avançados.

— Com a crise econômica, as teles estão muito preocupadas com sua margem. Um investimento em telecomunicações leva de três a quatro anos para dar retorno. E, tendo em vista o atual cenário, com uma concorrência maior com as empresas de internet e os provedores menores, as grandes teles vêm priorizando o investimento onde há maior rentabilidade, com taxas de retorno em torno de um ano e meio. Mas telecom é capital intensivo — afirma Hermano Pinto.

Especialistas explicam que, na estratégia das grandes empresas do setor, pesam não só o ritmo lento de recuperação da economia, como as incertezas relacionadas ao processo eleitoral em 2018, a crise da Oi e a pressão por mudanças na legislação.

ACESSO À INTERNET MAIOR NO CELULAR

Nesse cenário, acrescenta Basílio Perez, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), são as pequenas prestadoras de serviços que estão levando a conexão para o interior. Segundo ele, os provedores locais já somam 15% do mercado de telefonia móvel e internet banda larga.

— A maior parte das pequenas e médias empresas do setor atua em cidades com menos de cem mil habitantes. O curioso é que em casas onde há jovens não há mais interesse nem na TV por assinatura. O foco é mesmo internet e telefonia móvel — ressalta Perez.

A edição mais recente da pesquisa TIC Domicílios, elaborada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), mostra que a banda larga móvel tem sido fundamental para garantir o acesso quando a rede fixa não está disponível. O percentual de lares sem computador, mas com acesso a internet dobrou em dois anos, passando de 7% para 14% entre 2014 e 2016. O levantamento, divulgado em novembro, destaca que o crescimento da banda larga móvel ocorre com maior intensidade entre classes sociais menos favorecidas e nas áreas rurais. Na Região Norte, tradicionalmente menos atendida por infraestrutura fixa, o percentual chega a 22%.

A popularização da internet móvel está ligada ao custo menor do celular, que ganhou a preferência dos brasileiros nos últimos anos, destaca Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad:

— Nos domicílios com crianças pequenas, por exemplo, sai mais barato deixar um telefone celular pré-pago para falar com a babá do que pagar a assinatura de um telefone fixo. Além disso, no celular é mais fácil encontrar a pessoa a qualquer hora.

As empresas afirmam que a retomada do investimento depende de mudanças regulatórias. Elas avaliam que o principal desafio é aprovar o projeto de lei complementar (PLC) 79, que permitirá transformar a concessão em autorização, no âmbito da atualização da Lei Geral de Telecomunicações, atualmente parado no Congresso. As empresas estimam que, caso essas mudanças avancem, há um potencial para se elevar os investimentos em mais de R$ 10 bilhões por ano.

INCENTIVO PARA OFERTA DE BANDA LARGA

Um exemplo envolve a obrigatoriedade de ampliação e manutenção dos orelhões públicos, caso de Oi e Telefônica. As teles argumentam que esses recursos poderiam ser direcionados a outras áreas, como ampliação dos serviços de banda larga. Outro caso é o uso dos chamados bens reversíveis, que hoje não podem ser vendidos como forma de gerar caixa para mais investimentos. Caso que, além de Oi e Telefônica, afeta a Embratel, que pertence ao mesmo grupo da Claro, a América Móvil.

— É preciso atualizar a regulamentação. As concessionárias, que são as maiores companhias do país e indutoras do desenvolvimento do setor, estão presas em uma legislação que as obriga a investir onde não há mais demanda, como o telefone fixo. Por isso, a mudança é necessária — afirma o advogado Nelson Santos, especialista em telecomunicações.

Para Arthur Barrionuevo, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vagas (FGV), o setor precisa de incentivos para ampliar a oferta de banda larga. A mudança na Lei Geral de Telecomunicações, diz, seria um estímulo:

— Uma empresa como a Oi, independentemente da crise, quando está fazendo investimento em banda larga, fica em uma situação complicada. Fica a dúvida sobre se, quando acabar o contrato, ela vai ter de volta o investimento.

A carga tributária sobre o setor, destaca Barrionuevo, também é um entrave:

— Temos um imenso potencial. Empresários vivem chorando por imposto, mas, no caso da telefonia, eles têm razão. Quase metade do faturamento é imposto. É óbvio que isso atrapalha, porque o investimento fica menos rentável.

O nível de investimento aquém do ideal se reflete no número de antenas instaladas no país. Segundo a SindiTelebrasil, associação que reúne as teles, o país conta com 86 mil estações. O número é pequeno se comparado a cidades como Pequim, na China, onde há 60 mil antenas, destaca a Huawei. Carlos Lauria, diretor de Relações Governamentais da companhia, cita a vasta legislação para a instalação dos equipamentos a nível municipal.

— Embora a Lei da Antena tenha beneficiado o setor, há uma série de leis municipais que dificultam o investimento. São mais de cinco mil cidades, e cada uma tem suas regras. É preciso resolver todos esses impasses, pois o 5G daqui a pouco está chegando, e o número de antenas vai aumentar. A imagem em ultradefinição vai precisar de mais banda — diz Lauria, lembrando que os fabricantes vêm desenvolvendo equipamentos menores para poder ampliar a cobertura.

FONTE: Pequenas Empresas Grandes Negócios