Startups à procura da afirmação. Das apps para autismo ao crowdfunding com trocos

Os “alphas” são as pequenas start-ups, a darem os primeiros passos, que têm na Web Summit a grande oportunidade de se afirmarem. A concorrência é feroz mas, da ecologia e solidariedade à saúde, há projetos que se destacam, incluindo nacionais

Os “alphas” são as pequenas start-ups, a darem os primeiros passos, que têm na Web Summit a grande oportunidade de se afirmarem

Na linguagem própria da Web Summit ter uma identificação “Alpha” não equivale ao estatuto de líder da matilha. Mas isso não significa que muitos não acabem por lá chegar. Os “Alphas” são os representantes – em muitos casos os fundadores e únicos funcionários – de start-ups na fase inicial da sua afirmação. Aqueles que, mais do que todos os outros, têm neste evento uma oportunidade de se mostrarem e encontrarem os apoios e parceiros necessários para darem o passo em frente.

Organizadas por áreas, nos diferentes pavilhões da Feira Internacional de Lisboa, entre stands de empresas de topo, fundos de investimento soberanos e todo o tipo de “facilitadores” de negócio, os “Alphas” têm espaços diminutos e uma concorrência feroz, com propostas para todas as áreas imagináveis dentro do universo tecnológico. Alguns, como a empresa que propõe monitorizar as nossas emoções 24 horas por dia, com base no ritmo cardíaco, ou a aplicação que nos permite encontrar quem nos faça aquela tatuagem que andamos a imaginar há algum tempo, não parecem aspirar a mais do que encontrar um nicho no mercado das apps. Mas há quem pense em grande. Mesmo começando com muito pouco.

1. Forestberg, proteger a floresta dos madeireiros ilegais

O arménio Albert Amirbekyan começou a desenvolver a Forestberg, um sistema integrado de proteção florestal, “a pensar nos madeireiros ilegais, que são um problema muito grande no meu país”. Mas, aos poucos, foi incorporando novos recursos, que lhe permitem prevenir fogos florestais e até preservar a biodiversidade.

“Colocamos o nossos sistema e diferentes setores da floresta, recolhendo dados de som e climatéricos. Através do som conseguimos detetar atividade ilegal de madeireiros, caça ilegal e classificar os animais que vivem em cada setor. Além disso, desenvolvemos uma plataforma de gestão de riscos florestais, com um mapa que antecipa os pontos mais quentes de risco de incêndio, enviando alertas de emergência com coordenadas para as autoridades”.

2. Sixpence, crowdfunding em tostões

Christoper Haylett, CEO e fundador da Sixpence, lançou a sua aplicação, que propõe uma abordagem inteiramente nova ao crowdfunding – o financiamento de projetos por grandes grupos de investidores, com pequenas quantias cada um – há apenas “cerca de seis meses”. E o dinheiro que angariou para as causas que aderiram à fase-piloto da aplicação, “cerca de mil dólares”, foi menos do que teve de desembolsar só para vir dos Estados Unidos a Lisboa apresentar a sua ideia. Mas o otimismo é total.

“A sixpence é a primeira plataforma de crowdfunding do mundo que funciona através do arredondamento das compras. Ou seja: as pessoas podem contribuir para uma causa sem mais exigências do que fazerem o arredondamento das suas compras diárias”, explica. O conceito é semelhante ao de algumas campanhas lançadas por grandes superfícies, nomeadamente em Portugal. Mas tem uma grande diferença: permite que os utilizadores selecionem a causa – ou as causas – que pretendem apoiar.

A Lung Transfer Foundation, que apoia doentes pulmonares sem seguros ou dinheiro para suportarem as suas despesas médicas, foi uma das primeiras a apoiar a iniciativa. Nos Estados Unidos, explica Christopher, só nos últimos seis meses 65% das pessoas que poderiam ter contribuído para uma campanha de crowdfunding solidária desistiram devido ao custo da parcela que lhes era pedida.

3. PIPA, contra o autismo

A PIPA, um programa integrado para o autismo, foi lançada por Cláudia e João Bandeira de Lima e baseia-se, explica Cláudia, em métodos já testados na prática e verificados cientificamente. “Isto surgiu da nossa prática clínica, em que já trabalhamos há mais de dez anos, e de uma área muito específica em que nos especializámos que são os distúrbios do espetro de autismo”.

O sistema divide-se em duas etapas: o diagnóstico precoce, através de um questionário online ao qual os pais podem responder a partir dos dois anos de idade da criança, e que permite determinar a probabilidade de a criança ter ou não um distúrbio do espetro do autismo. “O objetivo é reduzir o tempo que leva a obter-se um diagnóstico mas, naturalmente, depois é importante que haja uma consulta médica que tire as dúvidas. Numa e uma segunda fase, caso esta condição tenha posteriormente sido confirmada em consulta por profissionais, em que as famílias podem recorrer a um conjunto de ferramentas digitais terapêuticas que as ensinam a ajudar os filhos. A plataforma, ainda em fase de testes, vai arrancar à escala “mundial, porque esta é uma doença global”.

4. Fala Cidadão, amplificador de direitos

Finalmente, do Brasil, mas à procura de parceiros “entre algumas cidades e localidades de Portugal”, chega a plataforma Fala Cidadão, que pretende ser um amplificador do exercício dos direitos e deveres de cidadania que podem ser usados com apenas alguns cliques no telemóvel. A ferramenta, explica Carlos Eduardo Pires, permite aos cidadãos alertarem as autoridades locais para todos os pequenos ou grandes problemas que podem afetar o seu quotidiano ou dos seus concidadãos. “O cidadão reporta a ocorrência, a perfeitura ou a câmara consegue administrar essa ocorrência, e dá todo o retorno ao cidadão. Em todos os estados da ocorrência vai sendo dado feedback por email e também notificação no telefone das pessoas”. O sistema, acrescenta, simplifica muito o processo de participação: “Em questão de dois, três cliques, ele já consegue criar uma ocorrência. Pode tirar uma fotografia e ela fica geolocalizada”.

FONTE: DIÁRIO DE NOTÍCIAS