STARTUPS: BERLIM É A NOVA CAPITAL EUROPEIA DA INOVAÇÃO

Berlim: cidade alemã é polo de inovação (Foto: Wiki Commons)

Somos pobres, mas somos sexy.” A frase sobre Berlim, dita pela primeira vez em 2003, virou o bordão favorito de Klaus Wowereit, prefeito da cidade entre 2001 e 2014. Não raro, ela é relembrada por quem comenta o novo boom econômico da capital alemã, considerada pelo relatório Startup Ecosystem Report 2017 o segundo melhor ecossistema de startups da Europa, atrás apenas de Londres.

São 500 novas startups por ano, que fazem os empregos na economia digital da cidade crescer cerca de 15% anualmente — ritmo quatro vezes maior que nos demais setores. Na base desse movimento, está a força da economia criativa do país, que serviu como um ímã para atrair empreendedores da geração digital de todo o planeta.

GI Berlim (Foto:  )

A The Factory é a maior comunidade de inovadores de Berlim (Foto: Eudes de Santana)

O aspecto multicultural da metrópole — dos 3,5 milhões de habitantes, um terço veio de fora ou nasceu em uma família imigrante — também ajudou no processo, assim como o custo de vida acessível, com salários e preços de aluguel mais baixos frente a outros polos europeus.

As startups também são atraídas por um sistema gratuito de apoio liderado pela Berlin Partner, agência de desenvolvimento financiada por recursos públicos e privados. A BP ajuda empresas a acharem um local para as equipes, busca parceiros de negócios, promove a cooperação em P&D junto a 2 mil companhias e sinaliza alternativas de financiamento.

“Temos um serviço chamado de ‘imigração de negócios’. Um dos maiores diferenciais é que aqui, se uma empresa precisa contratar um talento de fora da Europa, leva apenas cinco dias úteis para conseguir uma permissão de trabalho. Em Londres, Paris e Munique, esse documento leva de três a seis meses para sair”, afirma Christian Herzog, diretor da Berlin Partner.

GI Berlim (Foto:  )

A Factory Berlin, sediada em um prédio de 14 mil metros quadrados, abriga uma das principais comunidades de empreendedores digitais da cidade (Foto: Eudes de Santana)

Fábrica de ideias

A disparada da economia digital trouxe a tiracolo uma leva de investidores — são cerca de 600 fundos instalados na capital alemã. Um deles é o High-Tech Gründerfonds ou HTGF, uma das gestoras mais ativas em investimentos de venture capital na Europa. A empresa investiu mais de € 300 milhões em companhias abertas no ano passado, um terço por meio de corporate venture. Financiamento não falta, seja qual for o planejamento estratégico do negócio.

“Além de oportunidades de se expandir com rapidez, via dinheiro de venture capital, também é possível crescer de forma orgânica, levantando recursos de maneira clássica, com empréstimos e subsídios”, afirma Konstantin Hanssen, do Investitionsbank Berlin (IBB), um banco público de investimentos com produtos para os vários estágios de uma empresa. Na mira dos donos do dinheiro estão times promissores na fase inicial, modelos de negócios inovadores e startups com soluções de última geração. É deles que depende a indústria 4.0, a quarta revolução industrial, que envolve automação, inteligência artificial, internet das coisas (IoT), análise de big data e segurança cibernética.

Com o crescimento do ecossistema empreendedor, boa parte das grandes empresas alemãs deciciu alocar equipes de inovação em Berlim. Com isso, a procura por locais de trabalho disparou. Espaços como o Betahaus — o primeiro coworking da Europa, criado em um antigo edifício em 2009 — têm longas filas de espera. Nos últimos nove anos, passou de apenas 20 ocupantes para 600 associados. Após espalhar escritórios e parceiros pela Europa, o Betahaus se prepara agora para ocupar uma nova sede em Berlim, em um prédio com 2,8 mil metros quadrados.

GI Berlim (Foto:  )

O Betahaus, primeiro coworking da Europa, é hoje utilizado por 600 associados, entre empreendedores, startups e criativos (Foto:Eudes de Santana)

Pioneiro

Outra iniciativa que agrega startups, times corporativos e incubadoras é o centro de inovação Factory Berlin, espaço reformado em 2011 e que conta hoje com a presença de pesos-pesados como Deutsche Bank, Audi, Siemens, Soundcloud e Google, entre outros. “Uma das nossas tarefas é tornar o ambiente estimulante para que todos se conectem. Para isso, organizamos uma intensa  programação de eventos; foram quase 350 no ano passado”, diz Catherine Bischoff, diretora de estratégia da Factory Berlin.

Em 2018, o Ministério de Negócios e Energia da Alemanha resolveu instalar no local um hub de economia digital. Para participar de uma dessas comunidades de inovadores, é preciso passar por uma pré-seleção rigorosa e pagar uma mensalidade que vai de € 50 (freelancers) a € 500 (associações corporativas).

Com o crescimento do corporate venture na capital alemã, uma das palavras mais ouvidas é matchmaking, ou seja, o momento em que se combinam a necessidade de uma grande empresa e a solução oferecida por uma startup.

O objetivo das corporações é aproveitar o potencial de inovação e a agilidade das iniciantes para descobrir talentos. Um dos exemplos de gigante que vai por esse caminho é a Bayer. Trata-se de uma das parceiras da CUBE Tech Fair, evento que teve sua segunda edição em maio de 2018.

O encontro contou com estandes de 15 startups brasileiras, participantes do programa StartOut Brasil. “Temos 60 profissionais na feira, especialistas em TI, P&D e até marketing, que procuram soluções interessantes para gerar parcerias”, diz Florian Schwalbach, gerente da Bayer. A CUBE Tech Fair recebeu startups de 50 países, ávidas para serem vistas por grandes players e por experimentar as facilidades da capital alemã.

ALEMANHA NA MIRA DAS STARTUPS BRASILEIRAS

GI Berlim (Foto:  )

Muitas startups nacionais ainda hesitam na hora de levar seus produtos ou serviços para o exterior. “Quem possui boas soluções tecnológicas tem muita chance fora do país. Basta ter a preparação adequada”, diz Marcos Vinícius de Souza, secretário de Inovação e Novos Negócios do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Com o objetivo de melhorar essa preparação, o ministério promove o programa StartOut Brasil, em conjunto com a Apex-Brasil e com apoio de parceiros como Sebrae e Anprotec.

O StartOut inclui etapas como mentoria, missão internacional — com palestras, pitch training e apresentação para possíveis investidores e clientes — e apoio para que a empresa se instale no país desejado. Berlim é a terceira cidade a receber o projeto, depois de Buenos Aires e Paris. Foram120 startups inscritas e 15 selecionadas em 2018. Confira abaixo empresas que já começaram a se beneficiar da aproximação com a Alemanha.

FONTE: PEGN