Startupbootcamp chega ao Brasil para investir em 20 mil startups: os destaques da semana no ecossistema

Aceleradora busca promover a inclusão de novos agentes no mercado de inovação brasileiro.

Edgar Andrade, Head da Startupbootcamp no Brasil, e Kauan Von Novack, Gestor Global da Startupbootcamp Andrea Rego Barros

No início do mês, a aceleradora Startupbootcamp desembarcou no Recife com a missão de investir em 20 mil startups brasileiras, prioritariamente lideradas por pessoas pretas, periféricas e do interior, nos próximos 10 anos. Conversamos com os líderes da aceleradora, Kauan Von Novack e Edgar Andrade, para saber como eles pretendem atingir a meta ambiciosa e o impacto que querem gerar no Brasil.

Entrevistamos Alexandre Darzé, um dos sócios da gestora LightHouse, sobre sua jornada no mercado de investimentos e nos aprofundamos na tese de injeção de capital em startups de fora do Sudeste.

A edição também conta com a divulgação do Índice de Densidade Setorial 2022, da Deloitte, aportes na Flor e Fruto e na BeUni, e muito mais.

Para mudar a cara do ecossistema

Quando o brasileiro Kauan Von Novack assumiu o cargo de gestor global da aceleradora Startupbootcamp, em novembro de 2022, ele fez dois pedidos: aumentar o legado e transformar a iniciativa em uma plataforma do bem. Segundo ele, não havia vontade de investir em mais Amazons e Facebooks. Agora, ele acaba de tirar do papel outra vontade: trazer a aceleradora para o Brasil.

A aceleradora tem como meta causar impacto no mundo, aportando capital em empresas com potencial de solucionar os problemas endereçados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Em 10 anos, a Startupbootcamp pretende investir em 100 mil empresas – e 20 mil delas virão do Brasil.

Mas o investimento não será feito em qualquer startup: prioritariamente, elas devem ser lideradas por pessoas pretas, periféricas e do interior. Segundo o mapeamento mais recente feito pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), em 2022, 72% das pessoas fundadoras são brancas; 5,6% se consideram pretas e 17,1% se classificam como pardas.

Com R$ 10 milhões já garantidos para aportar no Brasil, a aceleradora agora se movimenta para estruturar um Pacto pela Educação com agentes do ecossistema, consciente de que é preciso mexer na base para ajudar pessoas que não têm o perfil hegemônico do ecossistema de inovação.

Ainda de acordo com o mapeamento da Abstartups de 2022, os números mostraram uma concentração no Sudeste, onde estão sediadas 56% das entrevistadas, sendo que 36,3% são do estado de São Paulo. A região com menos startups é a Norte, origem para apenas 5,3% das empresas do estudo.

Na opinião de Alexandre Darzé, sócio da casa de investimentos LightHouse, existe espaço para o desenvolvimento de ecossistemas periféricos . No início de maio, a gestora anunciou que captou um fundo de R$ 100 milhões para investir em startups de fora do Sudeste, com foco nas regiões Norte e Nordeste.

Em entrevista exclusiva a PEGN, ele falou sobre a tese e as oportunidades de retorno que os negócios criados nessas regiões podem trazer aos investidores. “Num país como o Brasil, vamos ter polos concentrando volumetria, mas não quer dizer que outras regiões não possam se desenvolver e gerar retornos interessantes. Enxergo o Nordeste como um desses polos. Oportunidades só serão bem capturadas e o ecossistema só vai se desenvolver se houver bons players locais”, disse.

Segundo Darzé, a gestora se esforçou para captar os recursos do fundo localmente, com corporações, famílias e empreendedores da região, mas cotistas de outros estados que gostam da tese da regionalização e acreditam no retorno financeiro também injetaram capital. O fundo deverá ser investido em cerca de 20 startups em estágio inicial nos próximos três anos, com os cheques girando em torno de R$ 2,5 milhões por rodada.

Estudando o mercado

Deloitte elaborou o Índice de Densidade Setorial 2022, com base em dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), para entender quais são os setores com mais espaço para novos negócios. O índice analisou o volume de startups em relação ao tamanho de cada indústria, indicando quais têm mais abertura e quais estão mais congestionados.

A pesquisa mapeou 52.678 startups em todo o país, incluindo negócios B2B, que atendem outras empresas; B2B2C, com foco em empresas que atendem diretamente o consumidor; e B2G, que atendem o setor público.

Para analisar os setores com mais ou menos espaço para novos negócios, foram observadas as altas e as quedas nos índices de densidade. Quanto mais baixos são os índices, maior é a abertura para atuação das startups.

Entre os setores com queda na densidade estão energia e saneamento (0,44%), transporte e logística (0,87%), construção civil (1,02%), agronegócio (1,53%) e atividades financeiras (3,88%). Já entre os que registraram alta na densidade estão hotelaria e turismo (2,61%), esportes e lazer (2,19%), educação e pesquisa (2,00%) e alimentos e bebidas (1,05%).

Abstartups responde a questionamentos

Nas últimas semanas, a Associação Brasileira de Startups (Abstartups) realizou demissões de 16 funcionários e foi questionada sobre as suas finanças e o seu relacionamento com parceiros.

Uma carta aberta assinada por cerca de 270 pessoas, que se definem como “dezenas de atores, líderes e membros” de diversas comunidades de startups no país, alega a existência de “série de denúncias graves de irregularidades e falta de pagamento de fornecedores, além da perda do patrocínio de alguns dos principais mantenedores da Abstartups”, e diz que a situação teria abalado a confiança dos associados, colocando “em xeque a integridade e transparência desta instituição”.

Em resposta, a entidade afirma que suas atividades “estão sendo conduzidas normalmente” e que há um processo de remodelação do setor financeiro. Segundo a associação, o pagamento das mentorias em atraso foi iniciado, com o prazo de regularização em até 30 dias. A instituição também afirmou que fornece mecanismos para estar em contato com os associados, como o Portal da Transparência e Assembleias Gerais, estando aberta e “à disposição para dialogar”.

Esta não é a primeira carta aberta demandando respostas endereçada à Abstartups neste ano. Em março, mulheres que empreendem e investem no ecossistema de startups brasileiro denunciaram o assédio no meio e cobraram mudanças.

Mais Diversas to Watch

A primeira edição do programa de mentoria Mais Diversas to Watch, promovido por PEGN, selecionou 15 startups para participarem de conversas com mentores em cinco temas estratégicos: Cultura, Vendas, Marketing, Growth e Captação de Investimentos. Após as primeiras sessões de mentorias, algumas startups já aproveitaram o conhecimento adquirido para colocar em prática novos planos. Conheça algumas:

pantynova. startup, que surgiu em 2018 como uma marca de bem-estar sexual nativa digital, está pronta para inaugurar a sua primeira loja física, em 1º de junho. A empresa criada por Heloísa Etelvina, a Lola, 43 anos, Izabela Starling, 36, e Derek Derzevic, 35, nasceu para trabalhar a sexualidade de forma divertida e quebrar padrões. As sessões de mentoria levaram os empreendedores a recalcular a rota, mudando de ideia sobre a entrada no canal farma. O momento é de arrumar a casa: neste ano, querem deixar a operação redonda para procurar investimentos em 2024. Enquanto isso, continuam fortalecendo o B2B e atuando para abrir novos canais de aquisição de clientes, como programas de afiliados para influenciadores e consumidores finais, além de marketplaces.

De Benguela. Fundada em 2016 em Curitiba (PR) por Thaís Ramos, 38 anos, a startup é pioneira na comercialização de alongamentos e apliques feitos de cabelo crespo natural. Por ser um negócio inédito por bastante tempo, recebeu mídia espontânea quando as atrizes Tais Araújo e Sheron Menezzes falaram sobre seus apliques e alongamentos. Segundo Ramos, a empresa vem crescendo, em média, 106% ao ano desde que foi lançada. Depois das sessões de mentoria, a primeira providência foi pensar na reformulação do site: embora esteja funcionando bem, pode melhorar. Os recursos recebidos pela iniciativa Google Black Founders Fund serão investidos em um novo e-commerce, que deve ser lançado em julho.

Cubic. Fundada por Liziane Quadros, 40 anos, em Novo Hamburgo (RS), em 2022, a startup começou desenvolvendo jogos com a temática diversidade e inclusão, principalmente para campanhas eleitorais. Em pouco tempo, com a divulgação boca a boca em outras esferas, e a empresa acabou sendo procurada por escolas. A Cubic ainda não recebeu aportes, mas o contato com possíveis investidores aconteceu a partir da participação no Mais Diversas to Watch. Segundo a fundadora, considerando o pior cenário, o faturamento do primeiro milhão da empresa deve sair em 2023.

Troca. A startup, que se define como diversitytech, trabalha para que as empresas engrossem seus quadros de funcionários com pessoas negras, LGBTQIA+, PCDs, mulheres e multigerações. A atuação se inicia com um diagnóstico de diversidade por meio de um sistema de captura de informações e interpretação de dados por machine learning. Na sequência, a Troca recomenda as ações mais adequadas a cada caso. Eles já venderam serviços para clientes como Grupo L’Oréal, Instituto Coca-Cola e Amanco Wavin. A startup está estudando propostas para trabalhar na Europa e nos Estados Unidos e, em paralelo, conversando com investidores para colocar o plano em prática o quanto antes, com a ideia de captar R$ 3 milhões até setembro.

Movimentações

Flor e Fruto. O marketplace que conecta pequenos produtores de frutas, legumes e verduras ao mercado varejista anunciou ter recebido um investimento de R$ 2 milhões. A rodada pré-seed reuniu Newlin, Angatú Ventures, Darwin Capital e 16 investidores-anjo. A startup conta com um algoritmo próprio que utiliza dados para fazer um “match” entre o que os produtores ofertam e o que os varejistas querem comprar. O processo leva em consideração características como volume, qualidade e previsão de preço. Com o aporte, o plano é expandir o negócio, triplicar o portfólio de produtos até o final de ano e aumentar o time, que hoje conta com 12 pessoas.

BeUni. ​​A startup que automatiza armazenamento, compra e envio de produtos personalizados levantou uma rodada de R$ 1,725 milhão, liderada pela Investidores.vc. Fundada em 2019, a empresa possui uma plataforma que conecta diferentes categorias de produtos e serviços, como vestuário, suvenires, gráficas, galpões logísticos e transportadoras, com o objetivo de ser um one-stop-shop para criadores de conteúdo e times de áreas como eventos, marketing, vendas e RH. Segundo Murilo Prataviera, CEO da empresa, os recursos serão utilizados para ampliar o quadro de colaboradores e alavancar o portfólio de produtos tecnológicos.

Reverde. Especializada na gestão comercial de Usinas de Geração Distribuída de Energia, a startup recebeu um investimento de valor não revelado da Raízen, em parceria com o Grupo Gera. A empresa oferece um serviço de assinatura de energia limpa para pessoas físicas, dispensando a instalação de painéis solares, na modalidade de Geração Compartilhada. Atualmente, a Reverde atua nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, com presença em 876 municípios, nas áreas de cobertura das distribuidoras Cemig e Light. Parte do aporte será direcionada para o aprimoramento da experiência do cliente, e outra será destinada à ampliação da atuação em mais estados.

deX. A startup especializada em engenharia de dados na nuvem anunciou a conclusão de uma rodada de investimentos pré-seed, liderada pelo fundo EquitasVC, com a participação da Grão VC. O valor do aporte não foi divulgado. O capital será usado para expandir o time de engenharia, acelerar o desenvolvimento da plataforma proprietária e aumentar o alcance de marketing. A nova plataforma utilizará inteligência artificial para elevar o nível de automação de engenharia de dados e aumentar a escalabilidade, qualidade e eficiência da indústria. A proposta de valor do produto é aumentar a produtividade dos times de dados em mais de 40% e otimizar os processos de computação em nuvem.

Sensix. A startup de gestão de dados para o agronegócio encerrou a sua captação pela plataforma de equity crowdfunding Captable. Com o objetivo inicial de levantar R$ 4 milhões na rodada, a Sensix ultrapassou a meta, captando R$ 4,9 milhões com 454 investidores. Além dos participantes da plataforma, a captação teve a participação da SLC Agrícola e da DOMO Invest. Fundada em 2015, a agtech é responsável pelo controle de quase 2 milhões de hectares em cinco países.

OpenAI. A startup de inteligência artificial por trás do ChatGPT terminou a captação do fundo de investimentos OpenAI Startup Fund I, após levantar mais de US$ 175 milhões (cerca de R$ 875 milhões). De acordo com a Bloomberg, a empresa busca investir em startups que estejam desafiando os limites de como a IA pode impactar o mundo de forma positiva e mudar a vida das pessoas. O fundo captou um valor 75% maior do que o esperado, com apoio de 14 investidores.

Valid e Flexdoc. A IDTech Valid anunciou nesta semana a aquisição da Flexdoc, startup especializada em automação de processos e validação de usuários, com dois dos quatro maiores bancos do Brasil como clientes. O anúncio vem após a Valid registrar o seu melhor resultado para um trimestre, com lucro líquido de R$ 65 milhões no 1º trimestre de 2023. O objetivo do M&A é impulsionar a estratégia da companhia de avançar em ID Digital, de clientes públicos e privados, possibilitando a ampliação do portfólio de soluções. O valor da transação será composto por três parcelas: a primeira, de R$ 20 milhões, no ato da assinatura do contrato; a segunda, uma parcela adicional de até R$20 milhões, a depender da lucratividade da empresa em 2023 e 2024; a terceira, de 80% do lucro líquido alcançado pela FlexDoc ao longo dos próximos quatro anos.

Oportunidades

Conexão. O Centro Universitário ENIAC, em parceria com o Sebrae-SP, lançou o programa Start U, que oferecerá mentorias gratuitas para startups em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. O evento será aberto ao público e acontecerá no campus Centro da instituição, no dia 6 de junho, das 18h30 às 20h30. A data também marcará o lançamento do corporate venture builder ENIAC Ventures, com o objetivo de fortalecer o ecossistema de Guarulhos. As vagas são limitadas e os interessados devem se inscrever pelo link.

Aceleração. O laboratório de inovação do Bank of America abriu as inscrições para o cohort de setembro de 2023. Em sua terceira edição, o programa de aceleração de seis meses proporciona mentorias, networking com especialistas da indústria e acesso a potenciais investidores. O programa busca fundadores negros, latinos, indígenas e de comunidades sub-representadas, criadores de fintechs, edtechs, healthtechs ou empresas com foco em inclusão. Esta é a primeira edição que aceitará startups latino-americanas, em estágio pré-seed. As inscrições encerram em 8 de junho e podem ser feitas pela plataforma.

Nuvem. A holding de venture capital ACE Ventures e a Amazon Web Services (AWS) fornecerão treinamentos gratuitos para empreendedores e profissionais de startups que tenham interesse em adquirir conhecimento sobre os fundamentos de Cloud como oportunidade de conhecimento para aplicação no negócio. Além dos treinamentos, as startups receberão os benefícios do programa AWS Activate, com acesso aos recursos que precisam para começar a usar a plataforma rapidamente, incluindo créditos gratuitos, suporte técnico, treinamento, ofertas exclusivas com parceiros globais e suporte de entrada no mercado. As inscrições para o curso se encerram em 12 de junho e devem ser feitas pelo site.

FONTE: https://revistapegn.globo.com/startups/noticia/2023/05/startupbootcamp-chega-ao-brasil-para-investir-em-20-mil-startups-os-destaques-da-semana-no-ecossistema.ghtml