Startup usa tecnologia para prever doenças e riscos de hospitalização

Segundo o fundador, Pedro Freire, a Blue é capaz de prever 8 entre 10 casos em que o paciente precisará ser hospitalizado nos 12 meses seguintes.

Prever doenças e riscos de hospitalização permite oferecer melhor tratamento médico e reduzir custos para o paciente. Foi com esse objetivo que Pedro Freire passou a estudar a ineficiência do sistema de saúde público e privado. Em 2018, ele fundou a Blue AI, uma plataforma que analisa dados e faz previsões sobre a probabilidade de pessoas desenvolverem comorbidades ou sofrerem internações.

A ideia do negócio surgiu após sua avó ter sido diagnosticada com câncer. Freire afirma que essa foi uma das motivações para mapear e entender como evitar o agravamento de doenças. “Os primeiros estudos foram voltados a mapear os momentos de agravamento de casos de tumores. Lembro muito bem que existiam vários artigos do tipo ‘30% dos casos de câncer poderiam ser evitados’. Por outro lado, existia outro grande fator, a luta não é só pela doença, mas pela busca de recursos”, afirma o empreendedor.

Formado em administração, Freire percebeu que a questão envolvendo as previsões de doenças também estava relacionada à própria sustentação econômica do sistema de saúde. “Nosso sistema é caro por causa da sua retroatividade: a pessoa só usa quando vai direto para o hospital, não há um direcionamento preventivo. E dentro do hospital os custos são três vezes maiores do que procedimentos feitos em consultórios.” Diante das constatações, ele começou a construir uma tecnologia barata que pudesse antever problemas crônicos.

Em junho de 2018, o empreendedor fundou a startup Blue.Al. No início, a healthtech tinha uma solução para pequenas aplicações e utilizava dados do Ministério da Saúde. A partir deles, realizava cálculos sobre a possibilidade de pessoas desenvolverem diabetes tipo 2. “A Blue pode prever corretamente até 5 em cada 10 pessoas que terão complicações de diabetes com três anos de antecedência. Ou seja, metade dos casos já podem ser previstos três anos antes, e 70% podem ser previstos até 12 meses antes”, afirma Freire. Segundo ele, a plataforma também é capaz de prever 8 entre 10 casos em que o paciente precisará ser hospitalizado nos 12 meses seguintes.

Com esse modelo, ele inscreveu a startup no Brazil Conference, em 2019, que realizou uma competição early stage. No fim, a Blue.Al foi vencedora e ganhou um prêmio de R$ 75 mil. “Após a premiação, eu recebi uma forte demanda de operadoras de plano de saúde e empresas para fazer as mesmas previsões que tinha mostrado na competição, mas com dados do histórico do plano de cada pessoa”, relembra Freire.

Pedro Freire (ao centro) junto a colaboradores da Blue.AI durante premiação — Foto: divulgação

Pedro Freire (ao centro) junto a colaboradores da Blue.AI durante premiação — Foto: divulgação

Segundo Freire, foi a partir de 2020 que a Blue.Al começou a focar no desenvolvimento de um produto para o mercado. “Naquela época, a Blue tinha um modelo que era exportado em uma lista. Essa lista tinha as informações de quem poderia ser hospitalizado nos próximos 12 meses.” A solução chamou atenção e, em 2021, já havia 600 mil pessoas na base de dados. A próxima etapa foi criar uma plataforma que dispensasse a necessidade de enviar mais relatórios por e-mail.

“Neste ano, desenvolvemos a construção da plataforma SaaS para as pessoas poderem entrar como usuário e ver a lista de quem corre o risco de ser hospitalizada. Em julho, eu decidi chamar uma das corretoras para teste de 30 dias para ver se eles aceitavam pagar a mensalidade. A resposta foi positiva e eles decidiram assinar por dois anos”, conta Freire.

Segundo ele, o custo para cobertura de até 100 mil vidas não passa de R$ 10 mil, cerca de 10 centavos por pessoa. O público-alvo são empresas, corretoras e operadoras de saúde. A corretora de seguros norte-americana Gallagher, que tem atuação no Brasil, é uma das clientes.

Para o futuro, Freire pretende abrir uma rodada pré-seed ou seed. Além disso, o objetivo é aumentar a base de clientes, atendendo os que estão na lista de espera. Outro plano é expandir a plataforma para prever outros tipos de doenças. “Nos próximos meses, devemos incluir mais doenças como neoplasias [tumores], que foram o grande motivo que a Blue começou”, afirma.

FONTE: https://revistapegn.globo.com/startups/noticia/2022/11/startup-usa-tecnologia-para-prever-doencas-e-riscos-de-hospitalizacao.ghtml