Startup brasileira se prepara para lançar seu 1º nanossatélite

Fundada em 2015, a SciCrop é uma startup que trabalha com a análise de dados. A empresa planeja lançar seu primeiro nanossatélite para observações do Brasil.

A SciCrop, startup de análise de dados para a produção de alimentos, energia e meio ambiente, está se preparando para lançar seu primeiro nanossatélite. Com lançamento programado para acontecer ainda neste ano, o futuro nanossatélite promete realizar observações do centro-oeste brasileiro, coletando dados que serão disponibilizados para a comunidade.

Fundada em 2015, a SciCrop é uma startup que coleta grandes quantidades de dados de diferentes fontes. “Sempre entendemos desde o início que uma das principais e mais prevalentes fontes de dados são as de fora da Terra”, disse José Danico, CEO da empresa, em entrevista ao Canaltech.

Ele conta que, para analisar o que acontece no nosso planeta, é preciso ter um olhar abrangente, proporcionado pelas observações espaciais. “As agências espaciais têm satélites e os dados deles são públicos, então o que nós e outras empresas fazem é coletar estes dados e processá-los”, explicou.

Entretanto, a maioria destes satélites é voltada para fins meteorológicos ou de observação da Terra. Assim, a SciCrop percebeu a necessidade de se ter um satélite que ofereça olhar sobre o Brasil, com órbita que o leve para passar pelo território brasileiro. No momento, a empresa já usa dezenas satélites para a coleta de dados da órbita terrestre, e agora segue rumo ao lançamento de seu primeiro nanossatélite.

Como lançar um nanossatélite?

Danico estima que os custos de lançamento de um satélite ficam em, aproximadamente, US$ 400 mil, mas destaca que há formas de conseguir apoio para projetos do tipo. “Existe um programa internacional da NASA onde você registra que você, eventualmente, como empresa, quer lançar um novo satélite. E você tem que provar para a NASA que o seu projeto é viável”, disse.

Para seu projeto, a SciCrop decidiu seguir uma abordagem mais prática, buscando os conhecimentos necessários para, depois, lançar seu satélite próprio. Assim, Danico e outros membros da empresa começaram a aprender como criar e operar groundstations (as estações em solo que se comunicam com os satélites), a coleta e envio de dados, entre outros etapas do processo.

Só que, além do lançamento, é preciso lidar ainda com a operação do satélite, que ocorre por meio das groundstations. “A SciCrop vai fazer essa operação — normalmente, as empresas que costumam comprar, não operam. Vamos comprar e decidimos operar o satélite”, observou.

O nanossatélite da SciCrop

Enquanto diferentes agências espaciais têm satélites no espaço para fins científicos, meteorológicos, monitoramento de mudanças climáticas e mais, a SciCrop procurou desenvolver um satélite que tenha uma órbita que permita observações do Brasil e taxa de revisita (a quantidade de vezes que o satélite passa sobre pontos de interesse) específica.

Para isso, eles vêm trabalhando em um nanossatélite que orbitará a Terra a cerca de 540 km de altitude. A nave ficará em ângulo adequado para observações do centro-oeste, sempre com seus sensores voltados para o Sol. Já a taxa de revisita será diária, acompanhada da coleta de imagens da cobertura do solo brasileiro capturadas por uma câmera de alta resolução.

As imagens podem oferecer diferentes frutos, como a detecção de colheitas de forma mais rápida, clara e econômica, quando comparada com a aquisição de imagens privadas. “Os outros são para a comunidade: o satélite vai ter dados abertos para a comunidade, e isso é uma das coisas mais fundamentais para nós”, acrescentou Danico.

A vida útil dos satélites depende de diferentes fatores, como seu porte e componentes, a órbita que terá ao redor da Terra e os recursos que tem para “lutar” contra a gravidade e o arrasto atmosférico. “Nosso satélite, que é bem pequeno, tem cerca de 15 cm de comprimento, 5 cm de largura e 5 cm de altura, queremos fazer com que ele dure três anos em órbita”, explicou Danico. “Mas há uma chance de ele durar apenas dois anos”, ressaltou.

Expectativas para a missão

O nanossatélite será lançado com o auxílio da Unicorn-2, uma plataforma criada pela Alba Orbital para o lançamento. “Na hora de soltar o satélite, existe aquele aparato que fica dentro do foguete, da cápsula, e ele tem que abrir a ‘porta’ e dar um empurrãozinho”, explicou Danico. “Ele tem um trilho e um pequeno impulsionador ali, e a Alba desenvolveu tudo isso”.

Abaixo, você confere uma demonstração da plataforma:

O nanossatélite já está pronto e, no momento, a empresa está na etapa de licenciamento dele. Além da Unicorn-2, a Alba Orbital é responsável também pela empresa que realizará o lançamento propriamente dito. “A Alba já tem um contrato pra lançar um número de satélites anualmente distribuído por essas 3 empresas. Vai ser na Guiana Francesa, se [o lançamento] for com a Arianespace, ou nos Estados Unidos, se for com a RocketLab ou a SpaceX“, disse.

Após o lançamento, vêm as etapas de comunicação com o satélite, a análise dos parâmetros dele e, claro, as imagens. “É aí que colocamos os dados para funcionar a nosso favor: esta informação vem e é usada em nossos sistemas de machine learning”, explicou ele. “Eles vão detectar inicialmente o que já fazemos no dia a dia, que é detectar plantio e colheita, mas de uma maneira muito mais rápida e assertiva”, finalizou.

FONTE: https://www.terra.com.br/byte/ciencia/espaco/startup-brasileira-se-prepara-para-lancar-seu-1-nanossatelite,f5a6588c2516468a0a7efe40cc23dc41uuctcei0.html