Sputnik-1 e os 65 anos da Era Espacial

Nesta terça-feira (04) o Sputnik-1 completa 65 anos. Ele foi o primeiro satélite artificial a entrar em órbita da Terra, lançado no dia 4 de outubro de 1957, e foi responsável não só pelo início da corrida espacial, mas também marcou o começo de uma nova era da humanidade. O lançamento do Sputnik-1 foi o responsável pelo início da era espacial!

Se hoje você pode usar um aplicativo de GPS para lhe guiar a um destino desconhecido, ou assistir ao vivo os jogos da Copa do Mundo do outro lado do planeta, se você pode acessar a Internet da Starlink ou assistir TV via satélite, você precisa agradecer os feitos dessa pequena esfera metálica chamada de Sputnik-1.

O Mundo pós Segunda Guerra acompanhou uma tensa corrida armamentista entre americanos e soviéticos. As duas principais potências do planeta procuravam desenvolver novas armas mais potentes, aviões mais velozes e, especialmente, foguetes capazes de levar suas ogivas nucleares mais longe. Só que esses foguetes poderiam também ser usados para alcançarmos o espaço.

[ O temido míssil balístico A4 alemão deu novo impulso ao programa espacial soviético – Fonte: Imperial War Museum ]

Por esse motivo, durante o Ano Internacional da Geofísica, realizado entre 1957 e 58, Estados Unidos e União Soviética anunciaram sua intenção de lançar seus primeiros satélites artificiais. O ano internacional da geofísica foi criado pela ONU para promover a cooperação científica entre as nações. Mas entre americanos e soviéticos a competição falava mais alto.

Os Estados Unidos estavam construindo dois satélites: o Vanguard-1 e o Explorer-1. Já os soviéticos estavam trabalhando num enorme satélite com vários instrumentos científicos chamado Object-D. A União Soviética já tinha seu veículo de lançamento, o poderoso foguete R7, mas o desenvolvimento do Object-D estava sofrendo com uma série de atrasos e eles temiam que os americanos lançassem seus satélites antes.

[ Réplica do satélite Object-D, posteriormente rebatizado para Sputnik-3 – Foto: Енин Арсений ]

Foi aí então que entrou em ação o engenheiro Sergei Koroliov. Koroliov vinha argumentando há algum tempo que os soviéticos deveriam colocar em órbita um satélite mais simples para conquistar o pioneirismo espacial. Ele vinha sendo ignorado até então, mas o anúncio americano de lançar seus satélites durante o curso do Ano Internacional da Geofísica, acabou se tornando o argumento incontestável que ele precisava.

Koroliov projetou então um satélite muito simples. Uma esfera de alumínio de 58 centímetros de diâmetro, com 4 antenas na parte externa dispostas em um ângulo de 35°, de forma a encaixar perfeitamente na parte externa do cone da ponta do foguete R7. No interior da esfera, um conjunto de baterias alimentando um transmissor de rádio, que gerava uma sequência de bips enquanto o satélite orbitava a Terra.

[ Partes constituintes do Sputnik-1. De cima para baixo: coifa externa; coifa interna pressurizada; fixação de antena; sensores de pressão e temperatura; baterias e equipamentos de rádio; ventilador de resfriamento; coifa interna pressurizada; coifa externa – Imagem: wikimedia.org ]

Algo tão simples que foi rapidamente construído. E no dia 4 de outubro de 1957, o Sputnik-1 foi lançado a partir do Cosmódromo de Baikonur, a bordo de um foguete R7, que colocou o primeiro satélite artificial da história da humanidade em uma órbita baixa, entre 215 e 939 km de altitude.

O Sputnik-1 não tinha nenhum instrumento científico e nenhuma missão específica em órbita. Ele serviu apenas para dar à União Soviética o pioneirismo do espaço e assombrar o ocidente. E Koroliov queria justamente essa reação. Não à toa, mandou polir a superfície do Sputnik-1 para que ele pudesse refletir ao máximo a luz do sol e ser facilmente visível durante suas passagens no início e no final das noites.

Além disso, todos poderiam sintonizar o Sputinik em suas passagens e ouvir seus bips, que não diziam nada, mas anunciavam para todas as partes do mundo que os soviéticos tinham a capacidade de colocar um satélite em órbita. E se podiam colocar algo em órbita, poderiam levar suas bombas para qualquer parte do globo.

O satélite tinha sido projetado para operar por duas semanas, mas acabou durando um pouco mais, passando 22 dias transmitindo seus bips para a Terra. Quando suas baterias se esgotaram, ele ainda passou alguns dias em órbita, até que em 4 de janeiro de 1958, o Sputnik-1 deixou o espaço para reentrar na atmosfera terrestre, deixando um rastro de fogo no céu e um importante legado para a história humana no espaço.

[ Réplica do Sputnik-1, o primeiro satélite artificial da Terra em exposição no Museu Nacional do Ar e do Espaço – Imagem: NSSDC / NASA ]

O lançamento do Sputnik-1 foi o principal responsável pelo início da corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética. Mas a importância deste feito vai muito além disso e muito além do pioneirismo espacial. O Sputnik-1 marcou o início de uma verdadeira revolução científica e tecnológica.

Os americanos, que vinham tendo problemas com o desenvolvimento dos seus foguetes, resolveram aproveitar os foguetes militares Júpiter e adaptá-los para lançar o Explorer-1 em fevereiro de 58. Mas antes disso, os soviéticos já haviam colocado em órbita o Sputnik-2, que levava a cadela Laika, primeiro ser vivo no Espaço. Em março, os americanos lançaram o Vanguard-1 e em maio, os soviéticos levaram ao espaço o Object-D, rebatizado para Sputnik-3. A Corrida Espacial começava a toda velocidade.

Muita gente se esquece, mas essa corrida também provocou uma revolução no sistema de ensino daqueles países. Ao contrário do que ocorre em um certo “país do futuro”, que corta verbas da educação em momentos de crise, Estados Unidos e União Soviética investiram pesado na educação, especialmente nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. E isso lhes garantiu não apenas a vanguarda da exploração espacial, mas a liderança, até hoje, na produção científica em diversas áreas do conhecimento.

E tudo isso começou por conta do Sputnik-1, aquela pequena esfera metálica, colocada em órbita há 65 anos. Parabéns, Sputnik-1!

FONTE: https://olhardigital.com.br/2022/10/04/ciencia-e-espaco/sputnik-1-e-os-65-anos-da-era-espacial/