Só 7% das fintechs são fundadas por mulheres, e quase todas estão no Sudeste e no Sul

Pesquisa da ABFintechs e da PwC revela perfil e demografia das novas empresas que mesclam tecnologia e serviços financeiros e aponta potencial de evolução no setor

Apenas 7% das fintechs brasileiras foram fundadas por mulheres, e 93% dessas novas empresas de tecnologia e serviços financeiros estão nas regiões Sudeste e Sul do país.

Os dados são da Fintech Deep Dive 2018. Promovida em conjunto pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFntechs) e pela empresa global de auditoria PwC, a pesquisa traça uma demografia do setor e aponta potencial de evolução nos próximos anos.

Salta aos olhos uma esmagadora maioria masculina entre os empreendedores: 90% das 224 fintechs brasileiras analisadas na pesquisa foram fundadas por homens, contra apenas 7% fundadas por mulheres – 3% das empresas não informaram o gênero de seus fundadores.

Essa realidade contrasta com a do mercado; dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Ministério da Economia apontam que 51% dos novos empreendimentos no país são de mulheres.

O perfil das fintechs revela ainda que a maioria dos empreendedores têm entre 30 e 39 anos (47%)estudaram até a graduação (39%) e se formaram em administração (31%).

Quem é o empreendedor-fundador de fintechs no Brasil?

Gênero:

  • 90%: masculino
  • 7% feminino
  • 3%: não informaram

Idade:

  • de 20 a 29 anos: 19%
  • de 30 a 39 anos: 47%
  • de 40 a 49 anos: 25%
  • de 50 a 59 anos: 8%
  • acima de 60 anos: 1%

Escolaridade:

  • 1º grau: 0%
  • 2º grau: 3%
  • graduação: 39%
  • mestrado: 14%
  • doutorado: 2%

Área de formação:

  • administração: 31%
  • TI: 27%
  • engenharia: 11%
  • marketing: 10%
  • outros: 21%

A pesquisa também mostra uma discrepância regional no surgimento de fintechs: 93% delas foram criadas nas regiões Sudeste e Sul do país, com o estado de São Paulo (58%) à frente.

  • SP: 58%
  • MG: 9%
  • RJ: 8%
  • PR: 7%
  • SC: 6%
  • RS: 4%
  • Outros: 7%

Além disso, três quartos das fintechs foram fundadas há menos de quatro anos, 51% estão em início de operação e a maioria concentra a atuação nos segmentos de meios de pagamento, crédito e gestão financeira.

Segmentos das fintechs:

Percentual de empresas por ano de fundação:

  • 46% nasceram após 2016
  • 28% entre 2011 e 2014
  • cerca de 8% antes de 2009

Estágios de maturidade das fintechs:

  • ideia – ainda em revisão de modelo: 1%
  • MVP (minimum viable product) – sem clientes e em processo de validação: 7%
  • início da operação – com clientes e faturamento ou investimento: 51%
  • expansão – validada pelo mercado: 28%
  • consolidação – faturamento ou investimento acima de R$ 20 milhões: 13%

Baixo acesso a recursos indica potencial

Segundo o levantamento, dois terços das fintechs brasileiras faturaram menos de R$ 1 milhão em 2017 ou não tiveram faturamento algum, enquanto apenas 10% tiveram receita superior a R$ 10 milhões.

Por outro lado, 67% esperavam crescer mais que 30% em 2018.

Faturamento

  • até R$ 350 mil: 35%
  • entre R$ 350 mil e R$ 1 milhão: 14%
  • entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões: 21%
  • acima de R$ 10 milhões: 12%
  • sem faturamento: 16%
  • não responderam: 3%

Pela junção de fatores como início de operação, dificuldade de acesso a capital e forte base tecnológica, 87% das fintechs empregam menos de 50 pessoas. Com o amadurecimento, o potencial de geração de empregos aumenta: 76% das fintechs que atingem a fase de consolidação têm mais de 50 funcionários.

Além disso, mais de metade das fintechs (57%) diz ter recebido investimentos – mas, nesses casos, os aportes ficaram concentrados nas faixas abaixo de R$ 1 milhão (40%) e entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões (29%).

Quase dois terços das empresas esperavam fazer captações em 2018, e cerca de 90% delas pretendia obter mais de R$ 1 milhão.

Colaboração recebida pelas fintechs:

  • nenhuma: 39%
  • aceleradora: 21%
  • iniciativa de open innovation: 11%
  • incubadora: 9%
  • outras: 20%

A baixa incidência de captação, aliada ao ‘spread’ e à concentração bancária altíssimos no Brasil, sinalizam potencial imenso de crescimento para as fintechs, segundo o estudo.

Spread bancário na América do Sul:

  • Brasil: 38,4%
  • Paraguai: 14,3%
  • Argentina: 9,7%
  • Uruguai: 8,8%
  • Colômbia: 7,7%
  • Bolívia: 5,6%
  • Chile: 1,6%

Concentração bancária: participação dos cinco maiores bancos do país no mercado é de 82%, a segunda maior do mundo (atrás apenas da Holanda, com 89%).

O que dizem os empreendedores?

Alexandre Liuzzi, cofundador e CSO da BeeTech (provedora de infraestrutura para o mercado de pagamentos internacionais) e CEO e fundador da Mar Ventures:

“É muito difícil concorrer em um segmento que tem as características regulatórias e de segurança do setor financeiro e entender aspectos do processo transacional quando você não tem conhecimento do mercado ou, pelo menos, pessoas que você possa acessar para obter esse conhecimento. Outra fragilidade é a segurança da informação.”

FONTE: VALOR INVESTE