Site que identifica rostos buscou fotos de pessoas mortas na web

Plataforma PimEyes usa imagens extraídas da internet para criar “impressões faciais” biométricas de indivíduos.

A plataforma de reconhecimento facial PimEyes está usando fotos de pessoas mortas para indexar características faciais e melhorar seu algoritmo. Ele identifica pessoas vivas por meio de suas conexões ancestrais, o que levanta questões éticas, de privacidade e de proteção de dados.

O caso foi descoberto por Cher Scarlett, engenheira de software e escritora que mora em Kirkland, Washington. Em fevereiro de 2022, o mecanismo de busca de reconhecimento facial revelou fotos explícitas não consensuais dela aos 19 anos, reacendendo um trauma de décadas.

Desde então, ela monitora a plataforma para garantir que as imagens não voltem. Só que em janeiro deste ano ela descobriu que a PimEyes estava retornando fotos de crianças que pareciam ter vindo de URLs do Ancestry.com (um site que monta árvore genealógica).

Como parte de um experimento, ela procurou uma versão em tons de cinza de uma de suas próprias fotos de bebê.

Revelando fotos de mortos

E aí que tudo aconteceu: durante as buscas, apareceu uma foto de sua própria mãe, quando criança, nos braços de seus avós. “Eu nem sabia quem eram os avós paternos da minha mãe”, disse ela ao site Wired.

Pesquisando mais fundo, Scarlett encontrou outras imagens de seus parentes, também aparentemente provenientes do site. Eles incluíam uma foto em preto e branco de sua tataravó de 1800 e até uma foto da própria irmã, que morreu aos 30 anos em 2018.

Nas buscas, ela descobriu que as imagens eram do seu memorial digital no Ancestry e no Find a Grave, diretório de cemitérios de propriedade da Ancestry.

Questões legais e éticas

O ocorrido levantou questões éticas e legais, segundo Scarlett. “Minha irmã está morta”, disse. “Ela não pode consentir ou revogar o consentimento por estar inscrita nisso.”

Pessoas mortas geralmente não são protegidos pelas leis de privacidade, mas o processamento de suas imagens e dados não é automaticamente um jogo justo, explicou ao Wired Sandra Wachter, professora de tecnologia e regulamentação do Oxford Internet Institute.

“Só porque os dados não pertencem mais a uma pessoa, isso não significa automaticamente que você pode pegá-los. Se é uma pessoa que morreu, temos que descobrir quem tem direitos sobre ela”, disse.

A reportagem questionou as empresas sobre a exposição de dados sem consentimento. A porta-voz da Ancestry, Katherine Wylie, disse que os clientes do site mantêm a propriedade e o controle sobre seus dados, incluindo árvores genealógicas, e que seus termos e condições “proíbe a extração de dados, incluindo fotos, dos sites e serviços da Ancestry, bem como a revenda, reprodução ou publicação de qualquer conteúdo ou informação encontrada na Ancestry”.

Já Giorgi Gobronidze, diretor do PimEyes, disse que o algoritmo rastreia apenas sites que oficialmente nos permitem fazer isso. “Foi… uma notícia muito desagradável que nossos rastreadores de alguma forma quebraram a regra”.

Ele afirmou que o PimEyes agora está bloqueando o domínio do Ancestry e os índices relacionados a ele estão sendo apagados.

FONTE: https://www.terra.com.br/byte/site-de-reconhecimento-facial-buscou-fotos-de-pessoas-mortas-na-web,fe301777901e2e9379035d64b6f51d37akkwjyzy.html