Seleto clube dos unicórnios tem potencial para crescer

Depois de PagSeguro, 99 e Nubank terem atingido o status de unicórnios, como são chamadas as startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão, a lista de candidatos a figurar no seleto clube está engordando. Stone, ZAP VivaReal, Neoway, Resultados Digitais, Ebanx e o aplicativo iFood, da Movile, são alguns dos nomes comumente citados por investidores quando o assunto é unicórnios.

Isso não significa que o país verá, nos próximos meses, uma nova onda de startups bilionárias, repetindo a dos primeiros três meses de 2018. O caminho a ser percorrido por boa parte dos futuros unicórnios ainda é um tanto longo já que a maioria vale menos, ou bem menos, de US$ 500 milhões

Mas, a avaliação de investidores ouvidos pelo Valor é que, com a maturidade do ecossistema de startups, os próximos dois ou três anos trarão novidades em um ritmo constante. “A busca por um unicórnio não é um fim em si, é uma consequência do mercado estar se desenvolvendo, é uma barreira psicológica que mostra que o mercado avançou”, disse um executivo que não quis ter seu nome revelado. Para ele, o país terá mais quatro ou cinco unicórnios nos próximos dois anos.

O número exato de candidatos é difícil de definir. O Valor detectou oito (ver quadro), mas há estimativas indicando cerca de 15 startups com potencial. “Não vai ser uma escada, com os números aumentando progressivamente. Vai passar uma temporada hibernando, daí aparece outro. Hiberna, depois vem outro”, diz Rodrigo Quinalha, diretor de estratégia da Kick Ventures, que investe em startups. Ele observa que as empresas têm mais dificuldade de crescimento no Brasil do que em outros países.

Da lista de palpites, pelo menos um é considerado como um unicórnio já criado, a Stone. A empresa de pagamentos fundada por André Street, que tem como sócios o fundo Arpex Capital e o banco Pan, tem quase 5% do mercado de máquinas de cartão de crédito, o que lhe garantiria esse status.

E se as ambições de seu fundador se concretizarem na abertura de capital nos Estados Unidos prevista para os próximos meses, a Stone poderá integrar um grupo ainda mais seleto: o das startups com valor de mercado superior a US$ 10 bilhões, os decacorns. Essa “espécie evoluída” de unicórnio, composta por 16 empresas, tem como representantes mais conhecidos o Uber e a Didi, as duas startups mais valiosas do mundo com – US$ 68 bilhões e US$ 56 bilhões, respectivamente.

Ao todo, 230 empresas ao redor do mundo são consideradas unicórnios, segundo a empresa de pesquisa CB Insights, especializada no universo das startups. Os Estados Unidos e a China dominam o ranking. O Brasil deve ganhar seu primeiro representante, a Nubank, na próxima atualização da lista. O Valor apurou que, na captação de recursos anunciada na quarta-feira, de US$ 150 milhões, a Nubank foi avaliada em mais de US$ 2 bilhões.

O status de unicórnio pode ser alcançado de duas formas: quando a startup recebe aporte de fundos ou quando é vendida para outra companhia. A empresa de transporte de passageiros 99, conseguiu casar esses dois momentos.

Uma nova rodada de aportes estava sendo trabalhada pela 99, quando a chinesa Didi, que já era acionista minoritária, comprou o seu controle em janeiro. Mas, nem tudo são flores. Um novo aplicativo da 99, em funcionamento há cerca de um mês, tem gerado críticas de usuários. Ao jornal “A Gazeta do Povo” e à revista “Veja”, a 99 disse que está trabalhando para resolver os problemas.

Como passou a fazer parte de uma outra empresa, a 99 deixou de ser considerada um unicórnio puro, por isso não entra na lista da CB Insight. O PagSeguro, que abriu o capital na Bolsa de Nova York com enorme sucesso há pouco mais de um mês, também fica de fora.

Desde que o ecossistema de startups começou a se organizar de forma concreta no Brasil, em 2010, o país tinha batido na trave duas vezes na ambição de ser um celeiro de unicórnios. O primeiro caso foi do site de compras coletivas Peixe Urbano, que chegou perto de valer US$ 1 bilhão, mas acabou encolhendo e vendido ao Baidu em 2014 por menos de um décimo desse valor. Outro “quase” é a varejista digital Netshoes, que planejava ir para bolsa de Nova York valendo US$ 1,5 bilhão, mas acabou listada em um terço desse valor em abril do ano passado. Ontem valia US$ 240,5 milhões.

Para Fernando Silva, diretor de inovação e investimento em tecnologia da Bozano Investimentos, mesmo os insucessos têm ajudado o mercado a evoluir, formando empreendedores mais maduros, que tendem a fazer investimentos em série. Isso faz a roda de novos negócios girar e atrai interessados em empreender.

Na avaliação de João Kepler, sócio do fundo Bossa Nova Investimentos, outro fator que estimula a criação de novos unicórnios é a facilidade que se tem hoje de captar dinheiro fora do Brasil. E mesmo no país, ele percebe maior disposição em investir em startups. “O cenário nunca esteve tão bom para fazer investimentos. As oportunidades e o mercado estão mais maduros. Startup não é mais um palavrão na boca das pessoas”.

FONTE:  VALOR ECONÔMICO