“Sedativo digital”: empresa usa realidade virtual para acalmar pacientes e evitar anestesia geral

Além de oferecer o serviço a cirurgiões individuais, a empresa fornece a solução de RV para hospitais e clínicas nos Estados Unidos e Reino Unido, com planos para iniciar operações no Brasil em 2024.

Em pequenos procedimentos cirúrgicos, o uso de realidade virtual (RV) pode funcionar como uma espécie de anestésico digital, que acalma os pacientes, evitando o uso da sedação completa. É com essa premissa que o cirurgião James Clarkson, professor assistente de Cirurgia na Michigan State University, nos EUA, cofundou a Wide Awake VR, empresa que oferece o serviço de “anestésicos digitais” com uso de tecnologias de RV.

“Existe um problema crônico nos EUA, que é o uso excessivo de anestésicos. Os pacientes já esperam que sejam colocados para dormir até para procedimentos em que essa sedação não seria necessária”, explica Clarkson, em entrevista a Época NEGÓCIOS.

No pano de fundo disso está o medo dos pacientes diante do ambiente hospitalar e cirúrgico – um sentimento que, segundo ele, poderia ser superado com a ajuda de tecnologias imersivas. “A sala de cirurgia pode ser um lugar assustador. Você vê todos aqueles instrumentos, médicos e equipamentos, e isso tem um efeito nos centros de medo de nosso cérebro”.

A saída, defende ele, é aliar o uso da RV com anestésicos locais. “A RV é o meio ideal para gerenciar ansiedades ambientais. É uma possibilidade de oferecer um meio-termo entre o paciente estar completamente consciente e estar absolutamente apagado”, diz. “E é um ganho de eficiência para os médicos e hospitais, mas também para os pacientes, que recebem apenas uma anestesia local e não precisam lidar com todos os efeitos negativos e preparativos de uma cirurgia com anestesia geral”.

Um estudo publicado por ele com outros pesquisadores da Michigan State University, em março deste ano, mostrou que a imersão na realidade virtual reduz os níveis de ansiedade de pacientes durante cirurgias. A pesquisa, publicada na revista Plastic and Reconstructive Surgery, acompanhou 400 pessoas que realizaram procedimentos médicos convencionais e com RV ao longo de quatro anos.

Planos de operar no Brasil

Empresa usa realidade virtual para reduzir uso de sedativos em ambientes médicos  — Foto: Reprodução/WAVR

Entre os conteúdos imersivos gerados pela Wide Awake VR para “sedar” o medo dos pacientes estão um tour pela Estação Espacial Internacional (ISS), uma jornada pelos planetas do sistema Solar, uma caminhada pelo Polo Sul e uma exploração dos ecossistemas marinhos.

Para criar a Wide Awake VR e replicar a técnica de uso da RV em outros consultórios e hospitais, o médico cirurgião se uniu, em 2021, ao designer de jogos David Wheeler, que é diretor criativo sênior da empresa de games Electronic Arts (EA), e ao empreendedor da área de healths techs Joe Gough.

Além de oferecer o serviço a cirurgiões individuais, a empresa fornece a solução de RV para hospitais e clínicas nos Estados Unidos e Reino Unido, com planos para iniciar operações no Brasil em 2024.

“Sabemos que o acesso à anestesia é muito limitado em muitas partes do mundo. O que esperamos também é ter capacidade de expandir o suficiente para oferecer a tecnologia para comunidades que não podem pagar por anestesias gerais, mas que não deveriam sofrer com o desconforto de estarem completamente acordados”, projeta o cofundador.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/tecnologia/noticia/2023/04/sedativo-digital-empresa-usa-realidade-virtual-para-acalmar-pacientes-e-evitar-anestesia-geral.ghtml