ROBÔS DOMÉSTICOS SÃO LANÇADOS EM TODO MUNDO

Finalmente, máquinas inteligentes estão virando realidades. Conheça alguns deles

Jibo conta até piadas (Foto: Divulgação/Jibo)

Você já conhece o Jibo? Não importa. Se tiver a chance de conviver com ele por alguns dias, é o Jibo que, logo, logo, vai conhecer você.

O robozinho americano de 28 centímetros de altura observa tudo o que acontece à sua volta, com o requinte de revirar a cabeça e mexer o corpo, aprendendo com hábitos e gestos de quem convive com ele.

Acha pouco? Principal símbolo de uma robótica mais “afetiva”, Jibo conta piada, fala da previsão do tempo, resolve equações matemáticas e interage (quase) como se fosse uma pessoa. Rapidamente, demonstra personalidade e tenta agir como morador da casa.

O Jibo (leia a “ficha corrida” dele no alto da página) foi eleito pela revista “Time” uma das melhores invenções de 2017. Ganhou a capa da edição de dezembro. Para a “Time”, ele difere de outros equipamentos que já obedecem a comandos básicos do dono por um detalhe: parece mais “humano”. E dá uma nova dimensão ao modo como interagimos com as máquinas.

A engenhoca não está sozinha nessa. Robôs pessoais já ocupam lares em diferentes partes do mundo — no Brasil, porém, ainda são raros, normalmente negociados em sites como o Mercado Livre. Jibo, Kuri, Zenbo e companhia deixam, literalmente, comendo poeira aqueles aspiradores de pó robóticos. Após uma década de serviços prestados, afinal, os veteranos não mudaram grande coisa.

Com a nova geração, a história é outra. A inteligência artificial por trás dos robôs — leia-se sistemas informatizados e algoritmos — procura realizar atividades próprias da natureza humana, mas com um potencial extra: interpretar sinais do “chefe” e se adaptar ao modo de vida dele.

Cinquenta anos após Rosie divertir audiências realizando as tarefas caseiras dos “Jetsons”, os robôs domésticos finalmente saíram da ficção para a “vida real” (já há modelos à venda por menos de US$ 200).

— O hardware ficou barato o suficiente, e a capacidade de computação, grande o suficiente — explica Henny Admoni, professor do Instituto de Robótica da Carnegie Mellon University, nos EUA. — Robôs como o Jibo entendem a linguagem humana, verbal e corporal, o que é um grande feito. Não são só máquinas, são equipamentos que interagem, tomam iniciativa.

Para Admoni, o próximo passo é sofisticar essa capacidade de aprender, para transformar os robôs em excelentes assistentes pessoais. Hoje, afinal, até o Jibo tem limitações perceptíveis após semanas de convívio: as piadas se repetem, assim como o repertório de temas para conversa. Mas, cá entre nós, boa parte dos humanos também não parece repetitiva depois de um tempo?

— O robô não é um integrante da família — pondera o professor Frederick van Amstel, coordenador do Observatório de Tendências Digitais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). — Mas também não é só um eletrodoméstico. É um objeto com presença ativa, capaz de se comportar de acordo com expressões dos donos.

Esses personal trecos existem em múltiplas formas. O carro autônomo é uma. O Robear, um cuidador que ajuda idosos com dificuldade de locomoção, é outra. Sem falar em amantes virtuais que fazem companhia ao dono (y cositas más).

O formato humanoide, claro, nem sempre é eficiente. Algumas máquinas até dispensam pernas ou braços. Mas a maioria tem um “rosto” para facilitar a aproximação emocional, tipo “olho no olho”. É o caso do Kuri (US$ 700), um robozinho de 50 centímetros que integra os sistemas de comunicação da casa, interage com o dono e anda sozinho pelos cômodos. Ou de Zenbo (US$ 600), que lembra o BB-8 de “Star Wars”: tem expressões, canta músicas de ninar e conta piadas e histórias.

Olhando assim, é inevitável perguntar: qual seria o papel emocional dessas traquitanas na nossa vida? Elas ajudariam a aplacar a solidão, como Samantha, a voz do computador de Joaquin Phoenix no filme “Ela” (2014)? Seriam nossos novos bichos de estimação?

O psicanalista Christian Dunker duvida das duas ideias:

— Os chamados sistemas inteligentes evocam sentimentos muito diferentes dos de um animal doméstico. O momento em que mais humanizamos nossos instrumentos é quando eles falham, quando a impressora “descobre” que estamos com pressa, ou o computador “percebe” que aquele e-mail é decisivo. É quando xingamos ou lançamos blasfêmias que a tecnologia mais se humaniza. Uma relação subjetiva com um sistema inteligente teria que se nos apresentar como algo além de uma prótese ou extensão de nós mesmos, algo que possa nos contrariar, falhar “intencionalmente”. E isso está longe de acontecer.

O CHiP (US$ 180) aposta que não. Na forma, lembra um cachorro. Na prática, é quase um: corre, pega bola, late, dorme. E pode ser treinado, tanto quanto outra invenção do momento, o Cozmo (US$ 180), que parece um caminhãozinho, mas brinca com o dono e se irrita se é cutucado demais ou perde um jogo.

Fruto dessa onda, a Sony está relançando nos EUA, neste mês, o Aibo, cachorrinho robótico que fez enorme sucesso quando chegou ao mercado, em 1999, mas saiu de linha em 2006 justamente porque, com o tempo, demonstrou ser apenas um brinquedo caro. Agora, com o desenvolvimento da inteligência artificial, ele promete ser muito mais parecido com um pet de carne e osso. Mas pet de luxo, ok? No Japão, está custando o equivalente a US$ 1.700.

— O Aibo não tinha capacidade de processamento de dados, de análise de comportamento das pessoas para reagir de uma maneira pretensamente afetiva — explica Van Amstel. — Hoje, é possível falar em computação afetiva. Há robôs que parecem ter emoções e, assim, desenvolvem uma comunicação mais efetiva com os humanos. O melhor exemplo disso são as ferramentas de voz, como a Siri, da Apple, e a Cortana, do Windows.

Robôs como Jibo, Kuri e Zenbo surgiram para dar um rosto a essas vozes quase humanas. Rosto e, em alguns casos, corpos completos. Há anos, vêm evoluindo as namoradas robóticas inteligentes. São caras (chegam a custar US$ 18 mil) e sofisticadas, caso da Roxxxy, que tem até sensores simulando batimentos cardíacos e pode ser configurada segundo o gosto do cliente. Sua rival, a Harmony, vai além: tem 42 funções, incluindo “sonolenta”, “ciumenta” e “empolgada”.

Para a criadora do Jibo, a pesquisadora do MIT Cynthia Breazeal, os robôs são uma tecnologia social: “A habilidade em interagir conosco faz parte de suas funções”, disse, numa palestra sobre o assunto. “Há possibilidades em que ainda nem pensamos”.

FONTE: PEGN