REFUGIADA DA GUERRA NA SÍRIA, JOVEM VIRA PRODÍGIO DA ENGENHARIA E CRIA DISPOSITIVO INOVADOR PARA AVIÕES

Shoushi Bakarian encontrou no Canadá um porto seguro e já trabalha em duas grandes empresas do país

Shoushi Bakarian, refugiada Síria que vive no Canadá, com sua criação, o Ventus 5 (Foto: Reprodução/Stratos Aviation)

Três anos atrás, a jovem Shoushi Bakarian, então com 19 anos de idade, temia pela própria vida logo depois de ter fugido da cidade síria de Aleppo, um dos focos da guerra contra o Estado Islâmico. Hoje, aos 22, ela se mostra uma das mais promissoras estudantes de engenharia aeroespacial da Universidade de Concordia, em Montreal, Canadá, trabalha para duas empresas de aviação e criou um produto com energia renovável que já é vendido para o mundo todo.

Na Síria, Shoushi vivia com seus pais e a irmã dois anos mais velha, Meghri Bakarian.

As irmãs conseguiram a duras penas terminar o equivalente ao ensino médio na Síria, antes que a intensidade e a proximidade das bombas explodindo tornasse a fuga necessária. “Nossa escola estava na linha de fogo, então tínhamos que estudar em uma escola de jardim da infância, com cadeiras e uma estrutura muito pequenas”, diz Shoushi.

Em 2015, não havia mais como ficar na Síria, e a família foi para o Líbano, país vizinho e com maior estabilidade. Mas com poucas possibilidades educacionais e profissionais para os jovens, uma outra mudança foi buscada.

Foi então que a notícia de que o Canadá abriria suas portas aos refugiados da guerra na Síria atendeu perfeitamente aos desejos da família Bakarian. Os quatro foram a Montreal e começaram imediatamente aulas de francês (idioma muito falado na região) e a procurar empregos.

Shoushi passou a trabalhar como atendente em uma loja do McDonald’s, um emprego que consumia 30 horas por semana, e paralelamente começou os estudos em engenharia. “Era necessário para ajudar minha família, mas eu ficava fisicamente, emocionalmente e psicologicamente esgotada”, rememora a imigrante.

O período, entretanto, apresentou a ela o que se tornaria sua nova paixão: a aviação e as tecnologias para geração de energia renovável.

Mostrando grande talento para a área nos estudos, Shoushi logo chamou a atenção de executivos do setor que observavam os melhores estudantes das universidades canadenses. A Stratos Aviation, empresa que desenvolve novas tecnologias para aeronaves, logo a contratou como parte de um programa para aumentar a presença feminina na aviação.

Outra empresa que se interessou pelas qualidades foi a Bombardier, uma das principais montadoras de aeronaves comerciais do mundo e parceira da Airbus na área – de forma semelhante ao que agora irão fazer Boeing e Embraer. Assim, em pouco tempo no Canadá ela já passou a atuar em duas das mais cobiçadas empresas do país.

Também demorou pouco para que a primeira criação com a assinatura de Shoushi Bakarian surgisse: o Ventus 5, um pequeno aparelho desenhado para aviões Cessna, que, encaixado na fuselagem, usa a energia do vento para resfriar o ambiente interno, e ainda funciona como carregador para smartphones e tablets – aparelhos muitas vezes usado por pilotos e copilotos desses aviões para fins de navegação.

O Ventus 5 capta o ar externo, com a força do próprio vento, o resfria. O aparelho também tem portas USB para o carregamento de dispositivos móveis (Foto: Reprodução/Stratos Aviation)

Trata-se de uma ideia criativa que consumiu recursos mínimos. Produzidos em impressoras 3D, os Ventus 5 são vendidos pelo site da Stratos para modelos Cessna 150, 152, 172, 180, 182. Mas a empresa diz que o produto é facilmente transformável para servir em outros tipos de aviões, e que a produção já está sendo expandida nesse sentido.

É apenas o primeiro feito notável da carreira de Shoushi Bakarian, uma das mentes brilhantes que podem ser encontradas em países que passam por graves conflitos, como a Síria. E que encontrou no Canadá, disposto a investir em imigrantes como ela, o ambiente certo para florescer.

Seu desejo, agora, além de continuar com seu desenvolvimento como engenheira, é incentivar mais mulheres a trabalhar em campos que tradicionalmente são tidos como ideais para os homens. Como a engenharia aeroespacial.

“Meninas da minha comunidade têm uma ideia muito limitada do que podem fazer. Quero me tornar um exemplo para elas e mostrar que elas não precisam se conformar com empregos considerados tradicionais para mulheres”, diz.

FONTE: PEGN