Reconhecimento facial traz dúvidas sobre privacidade

Onipresença de smartphones com câmera é fator decisivo para crescimento do recurso Por Dauro Veras — Para o Valor Economico

Kabiljo, da FullFace: parceria com DocuSign ajuda a identificar usuário na assinatura eletrônica de documentos — Foto: Divulgação

Em 2025, cerca de 1,4 bilhão de pessoas, um quinto da população do planeta, vão usar sistemas de reconhecimento facial para autenticar pagamentos, estima a Juniper Research. É mais que o dobro das 671 milhões contabilizadas em 2020. A consultoria também prevê a tendência de crescimento de outros recursos de autenticação complementares, como o reconhecimento de voz, que deve passar de 111 milhões para 704 milhões de usuários. A onipresença dos smartphones com câmera é um fator decisivo para que a identificação por imagem se consolide como reforço contra fraudes em transações financeiras. Contudo, o uso da tecnologia desperta preocupações sobre segurança e privacidade. Outro estudo, realizado pelo Dentsu Data Labs, indica que 84% dos consumidores globais já experimentaram métodos de autenticação por identificação biométrica, isto é, baseada em características físicas ou de comportamento. Foram entrevistadas 3,4 mil pessoas em 14 países. Sete em cada dez usaram impressões digitais para confirmar a identidade, 43% fizeram reconhecimento facial, 25% usaram a voz e 17%, a íris. A pesquisa, encomendada pela corporação francesa Idemia, fornecedora de produtos de identificação biométrica, mostrou que 74% do público tem uma atitude positiva diante dessas tecnologias, em especial os jovens de países emergentes. Uma das empresas brasileiras que atuam com autenticação por biometria facial é a FullFace, instalada na comunidade de inovação Cubo Itaú, em São Paulo. A startup criou uma tecnologia proprietária que não armazena imagens. Entre seus clientes estão a companhia aérea Gol, a Seguros Unimed, a varejista Lojas Pernambucanas e a gestora de crédito Quod, pertencente aos cinco maiores bancos do país – Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander. “Conseguimos até distinguir gêmeos idênticos”, diz o diretor-presidente da FullFace, Danny Kabiljo. “Mapeamos 1.024 pontos na face, a maioria deles na estrutura óssea, o que aumenta a precisão e a velocidade de validação”. No início de julho, a FullFace firmou parceria com a companhia californiana DocuSign para ajudar a identificar usuários durante a assinatura eletrônica de documentos, um nicho em expansão durante a pandemia. A meta da empresa paulistana é triplicar o faturamento em 2021 em relação ao ano passado, ampliando sua atuação para as áreas de educação e saúde em atividades como processos seletivos e telemedicina. Criada em 2018 em Florianópolis, a PayFace oferece um sistema de autenticação por reconhecimento facial que tem como principal mercado os varejos alimentares. Um de seus clientes é o Grupo Muffato, maior rede de supermercados do Sul do Brasil e a primeira do Paraná. A solução está instalada nos 28 caixas da unidade de Londrina. Para pagar por reconhecimento facial, o usuário precisa baixar no celular o aplicativo da Payface e cadastrar o rosto. No momento da compra, faz sua identificação facial em frente a um dispositivo no caixa e, depois de confirmar o valor, finaliza a operação. Outro cliente da startup é a rede de supermercados Angeloni, décima maior do Brasil, com 28 unidades em Santa Catarina e uma no Paraná. O sistema de validação está presente em todos os caixas rápidos e self-checkouts de uma loja do centro de Florianópolis. A identificação do cliente e o pagamento levam em média 15 segundos, com precisão de 99,38%, informa o cofundador da Payface, Eládio Isoppo. Ele ressalta que a ferramenta segue as diretrizes da Lei Geral de Proteção aos Dados Pessoais (LGPD): “O consentimento do usuário é um dos requisitos básicos para fazer o cadastro em nossa plataforma e durante o procedimento de compra”. Até o fim do ano, a empresa pretende atuar no comércio eletrônico. “Vamos atender clientes que querem reforçar estratégias de omnicanalidade.” A Stoque, empresa especializada em digitalização de processos com sede em Belo Horizonte, tem uma solução de reconhecimento facial por meio de fotografias, aplicada em operações financeiras como solicitação de crédito consignado, abertura de contas digitais e emissão de cartão de crédito. Pelo telefone celular, o consumidor envia uma selfie e uma foto do documento de identidade ao prestador do serviço. A análise comparativa das duas imagens é realizada com o uso de inteligência artificial e, quando necessário, com validação humana.

FONTE: https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2021/07/30/reconhecimento-facial-traz-duvidas-sobre-privacidade.ghtml