Realidade virtual, uma aliada contra a demência

Uma volta ao passado para enfrentar melhor os desafios do presente. É assim que a realidade virtual começa a ser usada com pessoas com demência – espero que a tecnologia se dissemine e também seja adotada por aqui. Explicando como funciona: na Inglaterra, o projeto The Wayback (o equivalente a “Há muito tempo”) recriou com atores, e em 3D, o dia em que a rainha Elizabeth II foi coroada, em 1953. O aplicativo é grátis e basta um celular e um par de óculos de realidade virtual – podem ser aqueles de papelão do Google – para o idoso fazer uma viagem no tempo e se sentir dentro de acontecimentos de décadas atrás. O resultado? Momentos de emoções positivas, de conexão com uma fase da vida menos sombria e angustiante. Este é o primeiro de uma série de filmes de fatos históricos que estarão disponíveis, gratuitamente, para pacientes com demência, de acordo comreportagem do jornal britânico “The Guardian”. A ideia foi desenvolvida por um grupo de amigos, todos com experiências familiares com portadores da doença.

 

Aproveitar as lembranças antigas, que ainda estão preservadas, tem sido um dos esteios dos cuidados com pessoas com demência, como este blog já mostrou ao tratar damusicoterapia. A realidade virtual traz a possibilidade de ampliar significativamente esse trabalho, resgatando a autoestima e proporcionando bem-estar, que é o mais importante para o paciente. Estudos comprovam que reviver memórias agradáveis ativa os neurotransmissores dopamina e serotonina, responsáveis pela sensação de prazer, ajudando a diminuir o isolamento dos idosos e também a suavizar sintomas como mudanças bruscas de humor, frequentes em quem tem perdas cognitivas. As experiências mais apreciadas são as de contato com a natureza – estar numa praia, por exemplo – e viagens a lugares exóticos. Só temos que aguardar a expansão desse mercado para que os preços fiquem menos salgados.

 

Como o céu pode virar o limite para a tecnologia, cientistas estão usando o jogo “Sea Hero Quest”, e sua versão em realidade virtual, com o objetivo de criar o maior banco mundial de parâmetros sobre a capacidade de orientação humana, já que seu declínio é um dos primeiros sinais de demência. No jogo, a pessoa se torna capitão de um barco que tem que navegar por águas turbulentas, ilhas desertas e oceanos gélidos. Enquanto faz as manobras, os dados do jogador são recolhidos e armazenados, com a garantia do anonimato dos participantes, e depois analisados por neurocientistas da University College London, University of East Anglia e ETH Zurich. A primeira leva de conclusões foi divulgada ano passado, mostrando que o senso de direção entra em declínio depois da adolescência, mas a proposta é mais ambiciosa: tentar identificar a doença bem no começo, uma vez que seu diagnóstico normalmente só ocorre dez anos depois dos estágios iniciais.

FONTE: Globo.com