Rastros de satélites também estragam fotos tiradas pelo Hubble

Analisando fotos tiradas pelo Hubble entre 2002 e 2021, pesquisadores concluíram que a quantidade de imagens afetadas por satélites dobrou nos últimos anos.

A parcela de imagens capturadas pelo telescópio Hubble que acabaram registrando rastros de satélites dobrou nas últimas décadas. É o que revelou um estudo de pesquisadores liderados por Sandor Kruk, do Instituto Max Planck.

telescópio Hubble foi lançado em 1990 e desde então rendeu uma série de grandes descobertas sobre o universo. Graças a ele, os cientistas puderam compreender melhor os processos de formação estelar, descobriram que o universo tem 13,8 bilhões de anos e muito mais. Só que, desde a época do lançamento, a quantidade de satélites em órbita aumentou de forma significativa.

Para o estudo, os pesquisadores trabalharam com comentários deixados no fórum do projeto de ciência cidadã Asteroid Hunters. Ali, os voluntários analisavam imagens do telescópio em busca de rastros de asteroides, que normalmente aparecem nas fotos do Hubble como rastros curvos.

Entretanto, eles acabaram descobrindo rastros curvos provenientes de objetos artificiais, além de rastros em linha reta — estes que certamente são deixados por satélites. Depois, Kruk e seus colegas usaram os dados destes tipos de rastros para treinar algoritmos de machine learning, que então identificaram outros rastros retos em mais de 100 mil imagens individuais, registradas entre 2002 e 2021.

Note que este intervalo significa que a maioria das observações foi realizada antes do “boom” das constelações de satélites de internet. A SpaceX, por exemplo, lançou sua primeira leva de satélites Starlink só em maio de 2019.

Os pesquisadores concluíram que a chance de uma foto tirada pelo Hubble entre 2009 e 2020 mostrar um rastro satélite era de apenas 3,7%. Mas essa taxa aumenta bastante ao consideraar as imagens obtidas em 2021, ano em que o número sobe para 5,9%.

Este aumento de rastros luminosos nas imagens foi associado pelos autores aos lançamentos de satélites Starlink. Quando as análises foram realizadas, havia cerca de 1.560 satélites da SpaceX e 320 da OneWeb em órbita. Hoje, estes números subiram para 3.703 e 542, respectivamente — e vão crescer ainda mais.

A equipe estima que, ainda nesta década, os rastros dos satélites podem aparecer em até metade de todas as fotos feitas pelo Hubble. Os satélites em órbitas mais altas devem aparecer com mais frequência, deixando rastros mais finos, enquanto os de órbitas mais baixas (como os Starlink) devem aparecer menos nas imagens, mas deixando rastros mais espessos.

E os autores ainda deixam outro alerta: nem sempre será possível remover os rastros luminosos no processamento das imagens do Hubble, ou mesmo no pós-processamento, com softwares de edição de imagens espaciais. Isso significa que boa parte do trabalho realizado pelo telescópio pode ser prejudicado, já que muitas imagens contendo tais rastros acabarão “indo para o lixo”.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na Nature Astronomy.

FONTE: https://www.terra.com.br/byte/ciencia/espaco/rastros-de-satelites-tambem-estragam-fotos-tiradas-pelo-hubble,7452f0eb00eb8d98acd80b183d81790eowtsuawq.html