“Quero representar a humanidade na máquina”. A próxima meta de Ishiguro é a consciência artificial

Hiroshi Ishiguro e a sua réplica robótica.

Hiroshi Ishiguro aliou a paixão pela arte ao fascínio pela robótica com o objetivo de “representar a humanidade na máquina”. Deu à inteligência artificial um corpo. Agora, quer dar ao corpo uma consciência.

 Hiroshi Ishiguro é professor na Universidade de Osaka, no Japão, e diretor de um prestigiado laboratório de robótica. Nos últimos anos, criou vários robôs sofisticados que se assemelham fisicamente a humanos, numa tentativa de aliar a sua paixão pela arte com o interesse pela robótica e pela inteligência artificial.

Ao Público, Ishiguro admite que o seu maior objetivo é representar o humano na tela. “Vi que a inteligência artificial precisava de um corpo apropriado. Quando pus robôs a interagir com humanos, percebi a importância de uma aparência humana. O que quero fazer é representar a humanidade na máquina”, disse.

O cientista defende a necessidade de haver robôs com os quais as pessoas se sentem à vontade. Uma das aplicações é pôr estas máquinas a dar aulas. Ao jornal, o cientista contou que um robô deu aulas de inglês a alunos japoneses, que normalmente têm algumas dificuldades em falar a língua.

“Os alunos conseguiram melhores resultados. Quando falamos com humanos, não conseguimos repetir as mesmas frases muitas vezes, pode ser embaraçoso, mas com um robô podiam repeti-las quantas vezes quisessem”, conta Ishiguro.

Além disso, segundo o professor, as crianças autistas e as pessoas que sofrem de demência estão, também, mais à vontade a interagir com máquinas.

 “Estou a trabalhar com mais de dez empresas no Japão que estão muito empenhadas em desenvolver uma aplicação prática. Há uma empresa que está a usar o nosso robô num restaurante”, adianta. Outra área onde a robótica começa a ter impacto é no acompanhamento de idosos, como um “antídoto para a solidão”, cita o Público.

Ishiguro rejeita a ideia de que os japoneses são mais abertos à ideia de interagirem com robôs, em comparação com os europeus. “Provavelmente a educação e a cultura são diferentes, mas a reação em relação ao robô é semelhante. Toda a gente consegue interagir com facilidade com estes robôs semelhantes a humanos”, garante.

No entanto, reconhece que os andróides estão longe de ser um produto de massas, por serem caros e muito complicados. “Talvez venhamos a ter um robô pessoal mais barato. Mas é um desafio: temos de os fazer de forma mais barata e mais fiável”.

Ishiguro acredita que, para já, é a inteligência artificial que mais atrai as pessoas, mas afirma que a sua próxima meta será a consciência artificial, o incremento que falta na construção de robôs que funcionam como humanos.

Um dia, será possível. Não hoje. Talvez demore duas ou três décadas. O que posso dizer com clareza é que os investigadores, os neurocientistas e os cientistas de robótica, estão muito interessados na consciência. Depois da inteligência artificial, a próxima meta é a consciência artificial”, conclui.

FONTE: ZAP