Quem são as HRTechs e como elas estão mudando o processo de recrutamento das empresas

Por Maristela Barbosa – Em Startupi – em 31/07/2017

Do financeiro aos escritórios de advocacia, a tecnologia está revolucionando mercados dos mais diferentes segmentos. Já falamos aqui no STARTUPI sobre quem são e o que fazem as fintechs e as lawtechs/legaltechs. Hoje, é a vez de apresentarmos o cenário das startups de recursos humanos do Brasil, as HRTechs.

negocios disruptivos

Já bem discutido por todo o mundo, o termo HRTech (human resources technology), ainda é pouco conhecido no Brasil. Atualmente, há 17 HRTechs registradas na Associação Brasileira de Startups. Estas empresas estão sendo responsáveis por uma revolução que vem acontecendo nos processos dos recursos humanos das empresas de todo o País, principalmente nas contratações, seja de grandes corporações ou de startups.

“Hoje, a experiência para o RH da empresa é desgastante porque o profissional precisa avaliar inúmeros currículos e não tinha, até pouco tempo, ferramentas que o ajudassem neste trabalho. Para os jovens em busca de suas primeiras vagas, principalmente, esta experiência não é muito positiva. Muitas vezes as pessoas se candidatam às vagas e não sabem nem se passaram ou não no processo seletivo. Nós devemos garantir que estas pessoas saiam dos processos seletivos melhores do que entraram, e não desgastadas”, diz Kleber Piedade, CEO da MatchBox.

Em uma época em que vagas de algumas empresas estão mais disputadas que vestibular, a tecnologia destas empresas pode fazer toda a diferença. Abaixo, entrevistamos quatro HRTechs sobre o mercado onde elas estão inseridas. Confira:

Mercado

O setor de Recursos Humanos sempre foi considerado uma área pouco atrativa nas empresas para os melhores talentos e as melhores tecnologias. Contudo, no mundo atual será cada vez uma vantagem competitiva mais relevante que as organizações tenham as pessoas certas em seus times, o que faz com que esse setor possa se tornar um grande polo de oportunidades.

Guilherme Dias, cofundador da Gupy – startup de inteligência artificial e people analytics, que encontra o melhor currículo para cada vaga -, diz que fora do Brasil, diversas startups de RH estão surgindo com tecnologias muito avançadas para tornar esse setor mais eficiente e estratégico. “No Brasil esse movimento ainda está começando, porém com uma oportunidade enorme dado o grande número de empresas do país, sua alta taxa de desemprego, o impacto que a folha de pagamento e as leis brasileiras têm na produtividade das organizações e por estarmos com ferramentas de RH atrasadas e pouco eficientes para otimizar os processos deste setor”.

Luciana Caletti, cofundadora e CEO da Love Mondays – plataforma em que profissionais avaliam as empresas onde trabalham -, diz que o Brasil ainda tem muitas áreas carentes de inovação e o mercado de Recursos Humanos pode ser uma grande oportunidade para empreendedores. “É uma área que está ganhando espaço dentro das empresas e tem uma importância vital para o desenvolvimento de negócios”, diz.

Isabella Botelho, CEO da Pin People – solução de People Analytics para selecionar, reter e desenvolver pessoas com base em dados -, também vê este mercado como novo e aberto para inúmeras propostas inovadoras e disruptivas. “Sinto que todas essas novas startups são responsáveis em educar esse mercado tradicional de RH para o novo. O mercado é muito grande e, com certeza, tem espaço para boas soluções.”

Desemprego e Tecnologia

Atualmente, o Brasil vive uma crise político-econômica e enfrenta uma das maiores taxas de desemprego dos últimos tempos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego atingiu a taxa de 13,2% no primeiro trimestre do ano. Em comparação ao mesmo período do ano anterior, houve um aumento de 3,2 milhões no número de desempregados. Como as startups que desenvolvem tecnologia para recursos humanos podem ajudar a reverter esta situação tão delicada, tanto para trabalhadores quanto para empresas?

As startups possuem um papel importante de conectar diferentes setores do mercado com a inovação e tecnologia que surge a cada dia.  Em Recursos Humanos isso não poderia ser diferente e muito tem sido pensado para otimizar o esforço operacional do setor, assim como solucionar os grandes desafios que surgem com a economia. Mais recentemente, em meio a taxas de desemprego tão expressivas, algumas soluções apareceram com objetivo de apoiar esse processo.

Para Kleber Piedade, CEO da MatchBox, enquanto de um lado há bastante gente procurando emprego, de outro existem muitas empresas procurando pessoas que se encaixem às suas necessidades. “O papel das HRTechs é conectar estes dois mundos e trazer a tecnologia para aproximar jovens que estejam em busca de vagas com empresas que estejam em busca de talentos, e garantir que este match aconteça da melhor forma possível”, diz.

Já Guilherme, da Gupy, acredita que há startups focadas em encontrar o melhor candidato técnico para as vagas, outras em divulgar as vagas para um maior número de candidatos. “O foco da Gupy, por exemplo, é em organizar o processo de seleção e fazer o matching entre candidatos e empresas. Essa última solução de organizar o processo e ajudar as empresas a encontrarem o candidato ideal é fundamental não somente para o colaborador que busca uma posição, como também para a empresa que, dado o cenário de crise, precisa otimizar suas contratações e garantir cada vez mais que esta colocando a pessoa certa para dentro de casa”, diz Guilherme.

Para Luciana, da Love Mondays, as startups envolvidas no mercado de RH estão trazendo para esta área uma mudança que outros departamentos já viveram na era digital: a democratização da informação. “Hoje, os candidatos a vagas de trabalho conseguem ter acesso a muitas informações sobre a empresa e o setor na internet, o que facilita bastante encontrar a empresa ideal. Além disso, com o aumento de programas de desenvolvimento e cursos online, ficou mais fácil buscar capacitação para uma recolocação no mercado.”

Outro ponto importante é que a tecnologia consegue fazer com que processos caros relacionados à contratação e manutenção de talentos de uma empresa se tornem mais baratos. Para modernizar seus processos, o RH está começando a usar tecnologias que outros setores já começaram a investir há alguns anos. Analytics, por exemplo, estão ganhando popularidade para auxiliar o setor a tomar decisões mais embasadas e pautadas em dados. Inteligência Artificial tem ganhado espaço também para automatizar diversos processos e fazer com o que o setor reduza seu esforço operacional e ganhe mais inteligência em ações diárias.

“A Pin People quer abusar da tecnologia e dos dados para alcançar insights Humanos e Sabedoria. Acreditamos e apostamos na união entre metodologias de gestão de pessoas e tecnologia, ou seja, na combinação de boas práticas, já adotadas por empresas ao gerir cultura e pessoas, com uma plataforma capaz de capturar, processar e cruzar dados em tempo real como fator determinante de sucesso para atração e retenção de talentos em uma era digital, marcada por mudanças nas gerações e nas relações de trabalho”, diz Isabella.

Métodos

A Gupy, fundada em 2015 por Mariana Dias, Guilherme Dias e Bruna Gumarães, oferece um sistema flexível e amigável, com interfaces que criam experiências customizadas para diferentes tipos de empresas e de candidatos. Na Gupy, o RH pode criar e personalizar as vagas como desejar, pode fazer o recrutamento desde a divulgação da vaga até aprovação do candidato em um único lugar e em um clique ter todos os candidatos ranqueados de acordo com a aderência deles na vaga. Para isso, a startup utiliza Inteligência Artificial e um Dashboard focado em Analytics para empoderar o RH na tomada de decisão e assim conseguir melhorar o seu processo de recrutamento.

A Pin People, fundada em 2015, tem uma visão de integrar processos, produtos e serviços em um modelo de aprendizado contínuo para geração de valor. Os produtos de avaliação de cultura e de candidatos da Pin People consistem em: Mapeamento da Cultura Organizacional (Fotografia cultural criada a partir da percepção de cultura e valores vivenciados pelos atuais colaboradores ou desejado pela empresa), Análise de Jeito de Ser dos Candidatos (identificação da preferência das pessoas em relação a Cultura e valores das empresas e informações sobre o seu momento de vida) e Monitoramento da Experiência dos Colaboradores (ferramenta que monitora em ciclos de três meses a percepção dos funcionários nos primeiros 12 meses e dos gestores em relação à sua contratação).

O propósito é avaliar a compatibilidade entre potenciais candidatos e empresas, levando em conta as facetas variadas do indivíduo, tais como propósito, estilo de trabalho, ambiente, remuneração, momento de vida e desejos para o futuro profissional. O objetivo da solução é ajudar as empresas a tomarem decisões mais embasadas em dados e não só no feeling, reduzindo os custos com erros de contratação e com o chamado ‘turnover por arrependimento’.

Já a Love Mondays, em seus processos internos de contratação, tem um processo seletivo específico para cada posição. Mas, de forma geral, costuma aplicar testes que ajudam a identificar a proficiência com a língua portuguesa, os conhecimentos técnicos e a capacidade de raciocínio lógico e analítico. Além disso, utiliza uma série de perguntas para entender o fito cultural do candidato. “Nesta etapa, temos também convidado parte da equipe para as entrevistas, o que nos ajuda a ver quão aderente à cultura da empresa o candidato é”, explica Luciana.

A empresa surgiu em 2014 e foi eleita duas vezes a melhor startup na América Latina. Hoje faz parte do Glassdoor.com. Hoje são mais de 900 mil avaliações de ambientes de trabalho e de entrevistas de empregos e salários para 100 mil empresas. Todas as informações são postadas de forma confidencial pela comunidade de usuários e acessadas por mais de 2 milhões de pessoas ao mês.

A marca MatchBox chegou ao mercado há cerca de um mês e pretende revolucionar a forma como empresas e jovens se relacionam e se conectam. Para isso, está investindo fortemente em tecnologia, gamificação e automação, para criar soluções disruptivas para o mercado de Talent Acquisition. Uma das novidades, por exemplo, é um chatbot desenvolvido pela própria empresa que substitui os formulários tradicionais que candidatos preenchem para vagas de estágio e trainee.

A startup aposta em soluções que usem Realidade Virtual, Inteligência Artificial e Gamificação para revolucionar o mercado de Recursos Humanos, que ainda é tão engessado. Desde seu surgimento, a startup não recebeu investimento, e fechou o ano de 2016 (com a antiga marca) faturando R$2,5 milhões. Dentre seus clientes estão SAP, TOTVS, Itaú, KPMG, Bosch, EY e Heineken.

 Startups

Quais as maiores dificuldades de uma startup na hora da contratação? Para Isabella, as startups, em sua grande maioria, têm pouco recurso. Mas isso não pode ser visto como um empecilho. “Elas precisam potencializar o lado positivo e buscar pessoas que estejam num momento de vida no qual o propósito, os desafios e a autonomia falem mais alto do que remuneração. O caminho mais efetivo é buscar por indicação com pessoas que se conhece. Elas já vão ajudar no primeiro filtro, indicando pessoas que têm grande chance de combinarem com o  Jeito de Ser do candidato por conhecer bem os dois lados”, diz.

Para aqueles que buscam uma vaga em uma startup, a fundadora da Pin People recomenda conhecer a fundo o objetivo desta empresa e ver se ele esta alinhado ao propósito de vida naquele momento. “Sugerimos fazer uma experiência, às vezes como voluntário por um período, já que essas empresas costumam ser bem flexíveis para trabalhos em diferentes modelos de contratações.”

A dica que Luciana, da Love Mondays dá é: “muitas startups contam com equipes jovens, que precisam de orientação e treinamento. Uma coisa interessante para ter em mente é buscar pessoas com vontade de aprender, que tenham ímpeto empreendedor e que estejam dispostas a ajudar a construir o negócio.”

Já Guilherme, da Gupy, aponta que, para as startups, as maiores dificuldades no momento da contratação estão presentes em atrair candidatos com o perfil correto, identificar competências, habilidades e valores nesses candidatos e cruzar isso tudo com o fit de sua startup.

“Para apoiar no momento de analisar o perfil do candidato, uma sugestão é realizar uma lista do perfil ideal de colaborador com base na cultura e nas competências esperadas. Isso pode ajudar muito para a realização de primeiros contatos e triagem de pessoas. Além disso, no momento das entrevistas, é fundamental que a startup prepare previamente as perguntas específicas e situacionais para ajudar a identificar a aderência dos candidatos à vaga”, completa o CMO.

FONTE: https://startupi.com.br/2017/07/quem-sao-as-hrtechs-e-como-elas-estao-mudando-o-processo-de-recrutamento-das-empresas/