Quatro startups de mulheres que se uniram a gigantes e se agigantaram

Conheça a história das empresas Carol Bassi, Troc, Simple Organic e Steal The Look, que foram adquiridas por grandes marcas e mantiveram as CEOs.

Carol Bassi e o CEO da Arezzo, Alexandre Birman

Apostar em um sonho não é fácil, principalmente se você for mulher. Elas são ensinadas desde muito jovens a prezar por segurança, tanto familiar quanto financeira e corporativa. Por isso, ter a coragem de empreender pode ser ainda mais difícil.

Porém, a iniciativa de tomar risco muitas vezes é recompensada. Para celebrar o Dia do Empreendedorismo Feminino, a Forbes conversou com quatro fundadoras de startups voltadas para o mundo feminino que não só tiveram sucesso como chamaram a atenção de gigantes como Magazine Luiza, Arezzo e Hypera.

Carol Bassi (Carol Bassi)

 

Carol Bassi, dona da marca de roupas que leva seu nome, começou a empreender em 2014, quando lançou sua primeira loja.

 

Insatisfeita com a vida, ela decidiu unir seu amor por moda às experiências de infância, na loja de roupas de seus pais. Em apenas um ano, a marca, que começou com 25 peças já entregava para todo o Brasil. “Muitas pessoas me conhecem como influenciadora digital, mas eu entrei nesse mundo por conta da minha marca”, diz ela. “Comecei sem nenhuma verba para marketing e precisei dar a cara a tapa na internet para divulgar os meus produtos, esse foi o meu maior desafio no início como empresa.”

O crescimento chamou a atenção de diversos grupos no setor, mas o santo bateu com o da Arezzo. “Eu sentei para conversar com o Alexandre Birman, CEO da Arezzo, e parecia que um quebra-cabeça se montou na minha cabeça ao longo do papo”, diz Bassi. “Os propósitos dele são os mesmos que os meus e eu senti que era ali que deveria estar.”

Luanna Toniolo (Troc)

Luanna Toniolo, fundadora da Troc, plataforma de second hand de luxo criada em 2015, fez uma mudança ainda mais radical no rumo de sua vida. Toniolo era advogada, tinha um mestrado garantido em Boston e estava grávida de sete meses quando decidiu virar a chave e empreender.

“Quando eu comecei a procurar por modelos de negócios no setor de moda, descobri uma realidade de descarte assustadora”, conta. “Fiquei pensando no que eu poderia fazer para mudar esse impacto no meio ambiente e foi dessa vontade que nasceu a Troc.”

A ideia não era simplesmente vender coisas usadas, mas sim criar uma comunidade que compre produtos selecionados, de alta qualidade e que confie no propósito. A fundadora conta que chegou a ter 90% de clientes que nunca haviam comprado peças de segunda mão.

“Ensinar” sobre os benefícios de pensar em uma economia circular foi o primeiro passo da Troc. O segundo foi entender que era necessário ter um serviço completo, já que muitas vezes as clientes não queriam ter o trabalho de tirar fotos, colocar no site e fazer o trâmite da venda sozinhas.

“Nós percebemos que seria necessário atender a cadeia completa, desde a coleta dos produtos até a entrega na casa da nova dona”, explica Toniolo. “Hoje nós temos um espaço com mais de 70 mil produtos guardados esperando para serem vendidos.”

O propósito da companhia atraiu diversos interessados em 2020 que buscavam maneiras de acelerar o setor de economia circular de suas empresas e, assim como no caso da Carol Bassi, a Arezzo se destacou.

“A Arezzo nos abordou falando que esse era o momento de ressignificação das marcas do grupo e que sentia que os consumidores estavam pedindo por iniciativas como a nossa. Naquele momento eu senti que poderíamos acelerar o processo em dez vezes tendo um grupo tão grande ao nosso lado”, conta Toniolo.

Patrícia Lima (Simple Organic)

A Simples Organic, marca de cosméticos sustentáveis criada por Patrícia Lima, surgiu de uma crise de consciência. Há nove anos, quando sua filha nasceu, ela parou para pensar em qual legado estava deixando para as próximas gerações. Chegou a uma conclusão que a preocupou: nenhum.

Na época, começava a surgir um mercado de beleza limpa na Europa, mas no Brasil nem se tocava no assunto. “Nós estamos falando de 2014, quando ninguém sequer pensava na origem dos produtos que usava”, explica Lima.

Com isso, surgiu a ideia de desenvolver fórmulas orgânicas e que não eram testadas em animais, mas garantiam a mesma eficiência dos produtos existentes. Porém, surgiu o primeiro problema. Ninguém fazia esse tipo de matéria prima no Brasil.

“Eu descobri que tinha como produzir o que eu precisava em Milão, na Itália. Não pensei duas vezes e fui para lá”, diz.

Como é de se esperar, os desafios logísticos eram imensos. A produção era limitada e os valores eram altos, mas a Hypera chegou para mudar isso.

“Nós recebemos 16 propostas de compra e eu estava pronta para fechar o negócio com uma empresa muito conhecida, até receber a ligação da Hypera”, conta Lima. “Na nossa primeira conversa apareceu uma executiva com um bebê no colo perguntando sobre os meus sonhos. Aquilo me quebrou. Eu só tinha falado com homens durante todo o processo.”

A empreendedora saiu da conversa convencida de que aquele era o lugar certo para sua marca. Em pouco tempo eles fecharam negócio.

Manuela Bordasch (Steal The Look)

Do trabalho de conclusão de curso da faculdade para a vida real. Foi assim que a plataforma de conteúdo de moda, beleza e lifestyle Steal The Look nasceu.

Em 2011, com o boom das blogueiras de moda na internet, a fundadora Manuela Bordasch se fez uma pergunta: por que elas não fazem o link com as marcas das roupas que usam?

“As publicações tinham fotos, muita fala e muito texto, mas nenhum link para o e-commerce da marca e aquilo pra mim parecia ser tão prático, tão óbvio, mas ninguém fazia”, conta Bordasch.

Em pouco tempo, o site estava no ar. O mix de conteúdo editorial com dicas e links para as peças chamou a atenção do público.

Bordasch conta que no início o modelo de monetização era feito na base de comissão dos produtos que as marcas vendiam por meio da empresa, mas isso foi mudando ao longo do tempo, já que a trajetória do consumidor não se mostrou ser tão linear a ponto de ser usada como única métrica.

O momento da aquisição veio com aproximadamente nove anos de empresa, em 2020. Apesar de também ter recebido muitas propostas ao longo dos anos, a fundadora sentia que não era a hora de dar o próximo passo.

Porém, com a Magazine Luiza foi diferente. “Eu fiz uma ligação de 15 minutos com a diretora executiva da vertical de moda e beleza da Magalu e senti que tinha uma sinergia incrível com o propósito da Steal The Look”, diz.

“A missão da Magalu é dar acesso a muitos o que é privilegio de poucos e o da Steal The Look também. Nós queremos democratizar a informação e permitir que todos possam usar as roupas dos famosos.”

Pós-aquisição
O período pós-aquisição pode ser definido, de forma unânime, em uma palavra: profissionalização.

Para a Simple Organic, a entrada da Hypera significou trazer a produção dos cosméticos para casa, além da presença em um ambiente focado em medicamentos e desenvolvimento de produtos de saúde, que agregou valor aos lançamentos da marca.

Em 2021, a companhia cresceu 300% nos canais digitais e faturou R$ 34 milhões.

No caso da Troc, o número de colaboradores aumentou em 330% em um ano. O processamento da companhia também aumentou em 400% em 2021 e o faturamento subiu 100% em relação a 2020.

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Para a Carol Bassi, a estrutura foi um grande diferencial para o crescimento da marca. A fundadora declarou que a gama de especialistas no setor, a área de logística e o acolhimento com as marcas dentro do grupo fizeram o processo ser bastante fácil.

Na visão de Bordasch, fundadora do Steal The Look, a visibilidade e a parceria com a companhia também agregaram muito valor na negociação.

Como chegar lá?
Para as quatro fundadoras e CEOs das empresas de sucesso, existem alguns fatores que são muito importantes para as empreendedoras que sonham em atingir patamares semelhantes ao delas.

Para Bassi, é preciso ter coragem para virar o jogo quando você não está feliz. “É preciso trabalhar dentro das suas possibilidades e cada um sabe até onde pode ir, mas tem que ter coragem”, diz. “Eu acho que a coragem é o maior combustível do ser humano para ser feliz.”

Na visão da fundadora da Simple Organic, existe muito espaço para empreender no Brasil. “Para mim é muito claro que os investidores não estão atrás da ideia grande, mas sim da ideia sustentável financeiramente, bem gerida, bem acabada e nós temos pouco disso no mercado”, avalia Lima. “Ouçam suas vozes, a voz seu próprio negócio e pense sempre no seu propósito.”

Para Bordasch, da Steal The Look, a rede de apoio é essencial. “Se eu pudesse dar um conselho falaria para que as fundadoras se apoiem em outras empreendedoras que tenham histórias similares às suas. É muito difícil empreender, mas com apoio tudo fica mais fácil”, conta. “Outra dica é não levar tudo para o pessoal. A crítica pode ser construtiva e ajudar muito no processo de crescimento.”

Na mesma linha da dica da Bordasch, a fundadora da Troc acredita que é necessário puxar as mulheres para o seu lado. Aprender juntas, passar o conhecimento e tropeços adquiridos ao longo do caminho para que esse processo seja mais tranquilo para a próxima empreendedora.

FONTE: https://forbes.com.br/forbes-money/2022/11/quatro-startups-de-mulheres-que-se-uniram-a-gigantes-e-se-agigantaram/