Programa Alimentar Mundial vai testar “chatbots”

O director de inovação da agência da ONU, Robert Opp, revela que os sistemas servirão para avaliar melhor situações no terreno. Um conjunto de outros projectos inclui blockchain, IoT e inteligência artificial.

Além de ter quatro projectos de TIC já em curso, durante 2018, Robert Opp quer testar a utilização de chatbots nas operações do Programa Alimentar Mundial (WFP, sigla em inglês) para avaliação de situações no terreno. “Quando as pessoas são afectadas pela fome”, não há tempo a perder, assinala o director de inovação e gestão de mudança, na agência da Organização da Nações Unidas (ONU).

“É preciso compreender qual é de facto a situação. Há uns anos a única forma de o fazer era com papel e caneta e com entrevistas presenciais. Actualmente, com os telemóveis, o contacto pode ser feito por SMS.

O próximo passo será a utilização de chatbots, diz em declarações para o Computerworld. “Estamos a ver como as pessoas podem interagir com os sistemas e a preparar a prova de conceito, que deverá estar funcional em 2018″, revela.

No mesmo ano a WFP deverá avançar em mais projectos de transformação digital. “Ainda é cedo para falar de planos concretos”, mas o “nosso director-executivo avançou com a intenção”, afirma.

A transformação digital terá de passar “tanto pelos programas – as formas como chegamos às pessoas – como pelos nossos processos operacionais – o nosso backoffice”. Enquanto isso, o responsável que gere a mudança na organização, procura encontrar soluções para ser mais “eficiente” na gestão dos “custos e dos processos”.

Quando se trata da gestão da mudança, o maior obstáculo que encontra, internamente, é o mesmo que a generalidade das grandes organizações enfrenta: “a cultura é sempre a parte mais difícil de mudar”.  “Não é que as pessoas não queiram necessariamente mudar, mas tem de ser bem comunicado, tem de ser justificado porque a mudança é necessária”, detalha. Para o efeito, as pessoas precisam ser incentivadas e conseguir identificar “quais são as vantagens para elas”.

O responsável está optimista, porque não obstante ser uma grande organização com “sistemas resistentes à mudança”, o WFP tem ao mesmo tempo um modo de funcionamento “muito ágil”, pois consegue “responder rapidamente a qualquer situação no mundo”.

A agência está presente em 80 países, tem 15 mil colaboradores e actua em zonas de conflito e de contexto de desenvolvimento de longo prazo. No conjunto disponibiliza assistência alimentar para 80 a 100 milhões de pessoas por ano.

Trabalham directamente com Robert Opp, 45 pessoas, 30 a 35 das quais focadas na inovação. As restantes trabalham em gestão da mudança.  O responsável explica que tem um orçamento anual para tecnologias e inovação de cinco milhões de euros, que resulta de “um contributo muito generoso do governo alemão”.

Este valor “permitiu-nos desenvolver o nosso acelerador de inovação e fazer todo um conjunto de projectos iniciais”. No entanto, o valor global de investimento em inovação é difícil de quantificar. “O orçamento (de inovação)  é provavelmente maior, mas está distribuído por um grande número de equipas e fontes”.

Quatro projectos em curso no WFP

O WFP está a olhar para todas as tendências das tecnologias de informação e comunicações, mas “estamos muito entusiasmados com algumas tendências”, como é o caso da inteligência artificial e da aprendizagem automática, da conectividade universal, do blockchain ou da Internet das Coisas. “São 30 ou 40 projectos, de todo o tipo” no âmbito da aceleradora de inovação da organização, refere Opp.

Inteligência Artificial:  “Permite-nos utilizar melhor os dados disponíveis”. Em situação de emergência, é preciso “perceber o que se passa em determinada zona”. Para tal podem ser utilizadas imagens de satélite ou aquelas recolhidas por veículos aéreos não tripulados, como drones.

As imagens já são recolhidas há alguns anos, mas com as novas tecnologias, como a aprendizagem automática, “podemos melhorar a velocidade e precisão da monitorização”.

O objectivo é “treinar as máquinas para conseguir identificar quantas casas, pontes ou estradas foram destruídas, que outros obstáculos existem no terreno, para que possamos rapidamente organizar a chegada da assistência às pessoas”. Está em fase de prova de conceito.

Conectividade universal: Também “estamos a utilizar a conectividade universal” que passa por uma tendência generalizada de adopção de telemóveis e smartphones ligados à Internet e que “deverá ser uma realidade nos próximos cinco a 10 anos”. Opp explica que através das plataformas móveis “podemos disponibilizar mais serviços às pessoas”.

“Temos já a funcionar na Zâmbia uma plataforma digital (em fase  prova de conceito) que interliga digitalmente os pequenos agricultores aos compradores para evitar o transporte dos produtos aos mercados locais quando as infra-estruturas são pobres. Desde modo, a transacção pode efectuar-se, sendo combinado um lugar para a entrega das mercadorias”, exemplifica Opp.

Blockchain: O WFP está também a olhar para a blockchain e já tem um projecto em funcionamento. “Temos um sistema de blockchain em funcionamento junto de 10 mil refugiados Sírios na Jordânia. Estamos a disponibilizar vouchers digitais que podem ser utilizados em retalhistas locais para comprar alimentos”, refere o responsável de inovação.

O sistema de vouchers já existia anteriormente, mas obrigava ao recurso a instituições bancárias que cobram taxas pelas transacções. Com a alteração do backend e a introdução do blockchain é possível certificar as transacções sem recurso a terceiros”. Na prática “utilizamos as funcionalidades de registo da plataforma Ethereum para monitorizar as transacções e reunir os dados”

IoT: “Existem sensores que podem, por exemplo, monitorizar a qualidade dos solos – a humidade, os nutrientes – o que, com recurso a imagens de satélite, pode ajudar os agricultores das zonas em que intervimos”, mas que ainda não está a funcionar. “São coisas que devem acontecer para ajudar a reduzir a fome à escala global”.

FONTE: COMPUTERWORLD