Produtoras de energia limpa aceleram, mas não dão conta da demanda

Produtoras de biogás e etanol, fontes limpas de energia, expandem operação, mas ainda não conseguem atender toda a demanda do mercado.

Enquanto as companhias de prospecção e produção de óleo e gás correm contra o tempo para ter um portfólio de produtos menos nocivos ao meio ambiente, alguns deles já estão disponíveis no mercado. Do etanol, produto desenvolvido pela indústria brasileira nos anos 1980, e que já está em sua segunda geração tecnológica, ao biogás e o biometano extraído de aterros sanitários, os chamados biocombustíveis têm ainda participação tímida na matriz energética global. Isso acontece mais em função de escala para atender toda a demanda do que por qualquer inviabilidade técnica.

A Gás Verde, uma das grandes produtoras de biometano no Brasil com três operações, todas no Rio de Janeiro, transforma 11 mil toneladas de lixo em 130 mil metros cúbicos de biometano por dia. Entre os principais clientes da companhia estão principalmente indústrias que já substituem os combustíveis fósseis pelos biocombustíveis no abastecimento de frotas de veículos, entre outras aplicações. “Hoje, a demanda industrial é muito maior do que somos capazes de produzir”, afirma Marcel Jorand, CEO da Gás Verde, sócio e diretor executivo do Grupo Urca Energia. Ele estima que o potencial de produção de biogás no país é de 30 milhões de metros cúbicos (m³) por dia até 2030, e que este mercado representa hoje, apenas 4% do que será dentro de dez anos. Por isso a companhia está acelerando os investimentos.

A Gás Verde já anunciou que´, ao longo deste ano, vai aplicar R$ 1 bilhão não só na construção de novos ativos, como na expansão dos que já estão em operação. Com o investimento, a operação de Seropédica (RJ), a maior da companhia, vai passar dos atuais 120 mil m3 de biometano/dia para 200 mil m3. As duas térmicas de geração de energia elétrica a biogás em Nova Iguaçu e São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, serão ainda transformadas em plantas de biometano até 2023. “A meta é produzirmos 1 milhão de metros cúbicos por dia, até 2026”, completa.

Na Orizon Valorização de Resíduos, as metas não são menos ambiciosas. Hoje a empresa administra 13 ecoparques – como prefere chamar os aterros sanitários – em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Goiás, Paraíba e Mato Grosso, e está em negociação para administrar mais dois. “Saímos de 20 megawatts (MW), em 2015 e 2016 para 97 MW em 2020, só em geração de energia a partir do biogás”, afirma o diretor de engenharia e implantação da Orizon, Jorge Rogério Elias.

Ele conta que a empresa nasceu apenas para dar destino correto aos resíduos sólidos urbanos (RSU) que, de acordo com os números da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública de Resíduos Especiais (Abrelpe), somou 81,8 milhões de toneladas em 2022. “A Orizon recebe cerca de 10 milhões de resíduos sólidos urbanos por dia. A gente podia só enterrar, mas vimos que daria para transformar esses resíduos em uma grande oportunidade de negócio”, lembra Elias. Segundo ele, atualmente a empresa atende o mercado apenas por meio de comercializadoras de energia e, o próximo passo, é passar a explorar também a produção de biogás. “E as possibilidades não são restritas aos ecoparques. Há negócios a serem desenvolvidos também no agronegócio, trabalhando com açúcar e álcool, e nas indústrias de papel e papelão”.

Enquanto as novas fontes de energia limpa e renovável dão os primeiros passos, o etanol já está em sua segunda fase tecnológica. Fruto de uma joint-venture formada pela Shell Brasil com o Grupo Cosan, em 2011, a Raízen acaba de firmar contrato para o fornecimento de 3,25 bilhões de litros de etanol para a própria Shell. Para atender a demanda, a companhia de bioenergia anunciou a construção de cinco plantas dedicadas à produção de etanol celulósico, integradas aos parques de bioenergia já existentes. Com investimentos de aproximadamente R$ 1,2 bilhão por planta, suportado pelos recursos captados na abertura de capital na B3 da Raízen, as novas unidades produtivas deverão ser entregues entre 2025 e 2027.

Maior distribuidora de combustíveis do país, a Vibra (ex-BR Distribuidora), quer ser a maior plataforma multienergia do país. Hoje, de acordo com o diretor de gás, energia e novos negócios da Vibra, Alexandre Tavares, a companhia já atende 170 postos com fontes alternativas, nos negócios B2C. “Hoje temos 600 megawatts em operação com energia eólica e solar. Nossa meta é chegar a 1,8 gigawatts, até 2025”.

FONTE: https://valor.globo.com/empresas/esg/noticia/2023/01/18/produtoras-de-energia-limpa-aceleram-mas-nao-dao-conta-da-demanda.ghtml