Portugal entra na rota da inovação em internet das coisas

A primeira grande conferência nacional de IoT reuniu casos práticos em empresas portuguesas e discutiu tecnologias nacionais com potencial de exportação

O mercado português pode transformar-se num centro de inovação de internet das coisas (IoT) se o ecossistema de empresas, fornecedores e investidores avançar de forma concertada. Apesar de estar numa fase incipiente, o mercado nacional de projetos IoT mostra capacidade de exportação e condições apropriadas para ser território fértil. O que falta? A consolidação do ecossistema, mais parcerias e mais capital de risco. Estas foram conclusões da primeira grande conferência sobre o tema em Portugal, a Vodafone IoT Conference, que decorreu ontem no Pátio da Galé, em Lisboa.

Uma conferência esgotada e a sala cheia antes das dez da manhã já deixavam entrever o interesse do tecido empresarial português naquele que é dos temas mais transformadores das próximas décadas. E foi isso que demonstraram os empresários portugueses que participaram em dois painéis de debate dedicados à indústria e ao retalho.

A CardioID desenvolveu uma tecnologia que capta o sinal eletrocardiográfico das pessoas e tem potencial de internacionalização, já que poderá ser instalada em muitos tipos de dispositivos e numa miríade de aplicações. O difícil, disse o CEO André Lourenço, “é integrar estas tecnologias em coisas que já existem.” Além disso, há uma questão importante de segurança e privacidade: “Não queremos ser o Big Brother.”

As boas iniciativas da engenharia nacional poderão andar mais depressa se houver mais apostas e investimento. “Há muitas ideias novas, mas acho que estamos atrasados por questões orçamentais das próprias empresas”, afirmou Cristóvão Cleto, CEO da Crossing Answers.

Filipe Lopes, wireless lead da Cisco Portugal, disse que a mudança de mentalidades começa a partir do consumidor. “No retalho andamos há anos a avaliar tendências, mas existe uma mentalidade que tem de ser mudada”, analisou. O responsável pelo Digital Transformation Office do Millennium bcp, Sérgio Magalhães, indicou também a apetência dos portugueses por numerário como uma das características que justificam uma abordagem mista à digitalização. E Nuno Ferreira, da ThinkDigital, declarou que será fundamental para qualquer indústria incorporar a digitalização. “Se não forem digitalizadas, seguramente vão fechar portas.”

José Mendes Leal, diretor-geral da Elis, explicou o porquê de um projeto IoT nas suas unidades em Portugal: “Medir sistematicamente significa que a produtividade pode aumentar.” As lavandarias industriais da empresa têm agora sensores que lhe permitem perceber o tipo de consumo que é feito e as emissões libertadas, calculando o consumo de energia por quilo de roupa lavada.

O futurista Gerd Leonhard pôs uma questão de forma enfática: “Tudo o que não puder ser digitalizado ou automatizado vai tornar-se extremamente valioso.” E isso centra-se em qualidades humanas que nenhum algoritmo de machine learning pode emular. O visionário frisou que o propósito da tecnologia é obter a felicidade dos humanos e que o objetivo da IoT, seja qual for o vertical em que é aplicada, é satisfazer os clientes.

Rudy De Waele, autor de Shift 2020, falou da importância de basear o desenvolvimento da tecnologia em valores humanos. “Tudo o que conhecíamos já não vai funcionar no futuro”, vaticinou.

FONTE: DN