Por que a tecnologia 5G preocupa a Marinha dos EUA e os meteorologistas

Cientistas temem, por exemplo, que as redes 5G interfiram nas previsões climáticas

CIENTISTAS TEMEM, POR EXEMPLO, QUE AS REDES 5G INTERFIRAM NAS PREVISÕES CLIMÁTICAS (FOTO: GETTY IMAGES VIA BBC NEWS BRASIL)

Dois meses antes das restrições impostas por Donald Trump à gigante chinesa Huawei, uma das principais empresas na corrida pelas redes 5G no mundo, no interior de algumas das instituições mais importantes do país crescia uma preocupação: a ameaça que essa tecnologia poderia impor à segurança nacional americana.

A inquietação não tem a ver só com os perigos de espionagem e os supostos vínculos entre a Huawei e o Partido Comunista chinês – algo que a empresa nega com veemência.

Em 27 de março, a Marinha dos EUA tornou público um memorando dirigido à Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), no qual se alarmava sobre a velocidade da implementação do 5G no país.

O documento, baseado em estudos prévios da Nasa e da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), adverte sobre a degradação que os sistemas de previsão meteorológica podem sofrer se o desenvolvimento da tecnologia 5G não for adequadamente regulado.

A NOAA não quis dar declarações sobre o tema.

Segurança de voos e planejamento militar
Há também preocupação das forças armadas, já que ações militares navais e aéreas dependem muito de prognósticos climáticos para serem realizadas de modo seguro.

Acredita-se que o 5G poderia interferir diretamente no tipo de banda usado para medir o vapor da água, “requerido para obter parâmetros tangíveis de precipitações, como neve, gelo, chuva e altura das ondas”, afirma o memorando da Marinha.

Essa degradação prejudicaria não apenas a segurança de voos militares, mas também o planejamento estratégico e de operações nos campos de batalha.

Discute-se se a instalação das bandas pode trazer perigos à segurança nacional dos EUA (Foto: Getty Images via BBC News Brasil)

Como a medição de vapor da água é empregada para prever a trajetória, a intensidade e o posicionamento de fenômenos como ciclones tropicais, é possível que o efeito destes em terra acabe sendo mais devastador.

Os senadores americanos Maria Cantwell, do Estado de Washington, e Ron Wyden, do Oregon, pediram à FCC o controle sobre a oferta de bandas para a instalação do 5G, depois de vir à tona a informação de que foram vendidas redes de infraestrutura por US$ 2 bilhões sem que houvesse “garantias mínimas de proteção”.

“Não podemos prejudicar a previsão climática e retrocedê-la aos níveis dos anos 1970”, declarou Wyden. “Milhões de americanos vivem ameaçados por furacões, tornados e outros eventos climáticos extremos.”

Os efeitos negativos do 5G seriam sentidos principalmente nas grandes áreas urbanas, onde os repetidores desse tipo de sinal estão sendo instalados em maior abundância.

Em 2017, o furacão Harvey devastou o Golfo do México e forçou o deslocamento de mais de 30 mil pessoas para abrigos emergenciais.

As perdas materiais alcançaram as dezenas de milhões de dólares, incluindo 2 milhões de barris de petróleo de refinarias afetadas na região.

Inundações provocadas pelo furacão Harvey em 2017; risco é que previsão de fenômenos semelhantes seja prejudicada (Foto: Getty Images via BBC News Brasil)

Além dos EUA
Algumas preocupações sobre o 5G transcendem os EUA.

“Existe um potencial de que emissões não desejadas do 5G empobreçam certas observações (meteorológicas)”, explica à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) Mike Banks, gerente de operações da agência meteorológica do Reino Unido.

“Atualmente, o Reino Unido e a Europa recomendam que a banda 26GHz seja a pioneira no 5G. O problema para a comunidade científica é que nossos sensores de vapor d’água operam em uma banda adjacente à 26GHz. Estudos mostram a necessidade de limitar a banda aplicada para o equipamento do 5G de forma a proteger os dados recebidos pelos sensores em questão. Dentro da Europa, esses limites foram estabelecidos e oferecem a proteção requerida.”

Outra questão diz respeito ao comércio marítimo, que responde por cerca de 90% do comércio internacional, segundo dados de 2016 da Organização Marítima Internacional (OMI).

Dada a instabilidade do clima nos oceanos, especialistas explicam que previsões do tempo são essenciais para evitar que fortes ventos, tormentas e ondas causem danos às tripulações e às cargas de embarcações.

Comércio marítimo também depende da previsão climática (Foto: Getty Images via BBC News Brasil)

Outra questão diz respeito à comunicação entre embarcações.

“Cada rota comercial é desenhada com muito cuidado para ser realizada da forma mais eficiente possível, em busca de economia de energia e combustível”, diz à BBC Carleen Lyden Walker, embaixadora da OMI.

Sobre a tecnologia 5G, ela afirma que “há muita política e interesse econômico por trás. No longo prazo, confio que essa tecnologia permitirá incrementar o número de satélites no espaço, o que sem dúvida será uma revolução nas comunicações”.

Mais exposição a hackers
Sem dúvida, uma das grandes revoluções a serem trazidas pelo 5G será um novo impulso ao que se conhece como “internet das coisas”.

É a concepção de um novo mundo hiperconectado em que geladeiras, carros e aparelhos de ar-condicionado estarão ligados à web, recebendo e transmitindo informações.

5G vai impulsionar a 'internet das coisas' (Foto: Getty Images via BBC News Brasil)

“Ter tantos dispositivos conectados aumenta o risco de ciberataques”, explica Soledad Antelada Toledano, engenheira de cibersegurança do Berkeley Lab, na Califórnia.

“A maior exposição e a vulnerabilidade ante os hackers se intensificam.”

Antelada afirma que o grande desafio da “internet das coisas”, que vai crescer com a nova geração de conectividade, é garantir a segurança dos usuários perante o perigo de que seus dados sejam hackeados.

FONTE: ÉPOCA NEGÓCIOS