Por que esse fundo quer investir milhões em startups das favelas?

A proposta é investir em startups de diversas áreas de atuação com cheques entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões.

Cozinheiras do Nossa! Cozinhas (Fonte: divulgação Instagram)

Fundado há mais de 2 anos para apoiar negócios criados em periferias e favelas brasileiras, o fundo Pyaar agora finaliza sua fase de estruturação e captação dos recursos. O veículo tem um target inicial de R$ 100 milhões, dos quais metade já foi captada. A expectativa é levantar o restante do dinheiro ainda este ano.

A proposta é investir em startups de diversas áreas de atuação com cheques entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões. O foco está em empresas de educação, construção, alimentação e desenvolvimento ambiental, que já tenham teses validadas no mercado e um faturamento médio anual. Até o momento, o fundo tem duas investidas: o Nossa! Cozinhas, serviço de delivery em que cozinheiras autônomas que moram em comunidades pobres do Recife trabalham como empreendedoras autônomas, e o Silva, uma espécie de iFood para as favelas.

“Buscamos empreendedores resilientes, mas flexíveis. Que estejam abertos para ouvir e transformar, se adaptar rapidamente e trazer metodologias de gestão ágeis. Que tenham paixão e brilho, consciência de uma dor de mercado e a capacidade de articular sua visão”, afirma José Papa Neto, sócio do Pyaar, publicitário e fundador do canal de cultura afrourbana Trace Brasil. Ele criou o fundo ao lado de André Szajman, cofundador da gravadora Trama e sócio da VR Strategy; Eduardo Mufarej, founder da GK Ventures; e Felipe Rodrigues, da Macam Asset.

“Nos últimos anos, conversamos com muitos empreendedores de periferias que são absolutamente brilhantes. Há um talento ainda inexplorado no país, uma quantidade de capital criativo e uma resiliência enorme capazes de transformar o Brasil. Foi por isso que decidimos desenvolver o Pyaar”, conta José Papa, conhecido como Zizo. Para a sua estruturação, o fundo contou com o apoio da gestora Macam Asset, fundada pelo empresário Felipe Rodrigues e o Banco Master de Investimento.

PRÓXIMOS PASSOS

Os R$ 50 milhões captados até o momento vieram de Multi Family Offices e investidores-anjo, incluindo os próprios sócios. O fundo segue em processo de captação dos R$ 50 milhões restantes, e já está analisando potenciais investidas para compor o portfólio. Segundo José Papa, o Pyaar tem hoje 10 empresas no pipeline.

O empreendedor reconhece que o momento do mercado é de maior cautela, mas está otimista em relação às oportunidades e à qualidade técnica das empresas. “Independentemente da tese do fundo, o contexto macroeconômico é um desafio que todo setor que busque atrair capital tem, e é bastante complexo. No nosso caso, temos o diferencial de, além de materializar o retorno financeiro, trazer sensibilidade e mostrar que o investidor pode ter três elementos juntos: propósito, retorno financeiro e potencial de transformação”, analisa.

Mais do capital, Zizo quer dar uma atenção especial a cada negócio para ajudá-los a prosperar, conectando os founders a potenciais clientes e parceiros. “O importante é ter as articulações certas. Vamos usar toda a nossa rede para alavancar as empresas, incluindo o desenvolvimento do negócio e toda a parte de gestão e incentivo de equipes”, pontua.

As oportunidades de networking são grandes, já que o próprio Zizo está conectado com tendências de inovação há mais de uma década. Em uma temporada vivendo em Nova York, ele atuou como CEO global da WGSN, a companhia global de previsão de tendências de consumo com curadoria de dados, opinião de especialistas e conhecimento aprofundado sobre a indústria. No Brasil, ele cofundou a Trace, ecossistema de mídia de cultura afro-urbana.

“Quando se fala em projeto de futuro não dá para ignorar a realidade dos problemas que a gente tem hoje, principalmente na base do país. Comecei a observar as demandas e oportunidades das periferias e me aproximei de sócios com a mesma visão”, afirma Zizo. “Os cases que temos hoje mostram que há um potencial econômico de geração de valor no Brasil. Uma vez provada essa tese, temos a possibilidade de gerar valor nas periferias e favelas. Vamos mostrar cada vez mais que conseguimos furar a bolha do capital tradicional no Brasil”, conclui.

FONTE: https://www.startse.com/artigos/fundo-investe-em-favelas/