Por que escritórios flexíveis estão fazendo sucesso?

Surge um novo conceito de espaço compartilhado que se sobrepõe ao coworking, mas possui uma variedade mais ampla de subcategorias.

Para muitos negócios, mudar de escritório é um ranstorno. Mas a empresa de interesse comunitário What Works Wellbeing fez isso seis vezes em oito anos. Nunca assinando contratos de locação longos, a empresa, que coleta e analisa evidências sobre como melhorar o bem-estar no local de trabalho, paga para usar um espaço compartilhado para sua sede em Londres, três dias por semana. Para os “dias em equipe” mensais, ela temporariamente expande, alugando salas de reunião no prédio e ocupando mesas vizinhas.

“Temos um acordo com as equipes de outras companhias ao nosso lado para compartilhar espaços”, disse Nancy Hey, diretora executiva. Ela é uma pioneira no que está se tornando conhecido como escritório flexível. Apesar da marca mais reconhecida do setor de coworking, a WeWork, ter entrado em falência após anos de má gestão, o modelo que ela popularizou continua, agora chamado de “espaço flexível”.

O conceito se sobrepõe ao coworking, mas possui uma variedade mais ampla de subcategorias: vários tipos de escritórios compartilhados, incluindo suítes executivas e incubadoras, compartilhamento de escrivaninhas e mesas por hora. Enquanto o coworking era direcionado principalmente a indivíduos e startups, os escritórios flexíveis também podem atrair empresas maiores e estabelecidas. Eles parecem adequados ao momento pós-pandêmico na vida profissional, com empresas abandonando espaços de trabalho fixos à medida que o trabalho remoto se torna mais comum.

As mudanças na forma como as pessoas trabalham já causaram uma crise no setor imobiliário comercial. As taxas de vacância de espaços de escritório no Reino Unido e nos EUA permanecem em níveis recordes, relata a empresa de pesquisa CoStar. Algumas quedas de valor foram espetaculares: o maior edifício de escritórios de St. Louis, a antiga Torre AT&T, que foi vendida por US$ 205 milhões em 2006, em breve será leiloada com lances a partir de US$ 2,5 milhões.

 Temos um acordo com as equipes de outras companhias ao nosso lado para compartilhar espaços”
— Nancy Hey

Alguns escritórios excedentes serão convertidos em moradias, mas, em muitos casos, leis de zoneamento restritivas ou estruturas inadequadas tornam isso impossível. Assim, eles precisarão se tornar escritórios adequados aos tempos atuais.

A maioria das empresas ainda deseja espaço de escritório; poucos chefes aprovam o trabalho remoto em tempo integral. No entanto, os inquilinos se encontram em um mercado favorável e relutam em assinar contratos de cinco ou dez anos que costumavam ser comuns. As empresas estão buscando uma nova flexibilidade, muitas vezes por meio de “prazos de locação mais curtos e mais liberdade para expandir ou reduzir seu espaço total”, relatam os consultores imobiliários da CBRE. A liberdade dos inquilinos de sair do trabalho em escritório a qualquer momento, também coloca pressão contínua sobre os proprietários para oferecer espaços de trabalho atrativos, às vezes equipados com academias ou até mesmo creches.

Pela primeira vez, muitos trabalhadores podem escolher um escritório cuja localização e cultura os atendam, em vez de se deslocarem para um local que a empresa alugou anos antes.

Por enquanto, os escritórios flexíveis ainda são raros – apenas 1,7% do total de escritórios nos EUA, segundo a CBRE. Mas estão surgindo vários tipos. Com muitos funcionários indo ao escritório apenas dois ou três dias por semana, algumas empresas estão adotando o “modelo de time share”: compartilhando espaço com uma empresa que trabalha em dias diferentes.

Há também os “espaços flexíveis” surgindo em bairros nos subúrbios e cidades pequenas para acomodar os novos trabalhadores remotos que deixaram de se deslocar. Teoricamente, essas pessoas agora trabalham em casa, mas grande parte de seu trabalho não é feito realmente em casa. Alguns trabalhadores remotos precisam encontrar um terceiro espaço devido a moradias apertadas, cônjuges não cooperativos ou crianças barulhentas. Muitas vezes, os empregadores os ajudam a alugar uma mesa de trabalho perto de casa. O Spotify, por exemplo, ofereceu aos funcionários “uma associação a um espaço de coworking se quiserem trabalhar em um escritório”.

A IWG, maior rival de coworking da WeWork, disse que “lançou um grande programa de expansão e adicionará mil espaços à sua rede global ao longo do próximo ano, a maioria em locais suburbanos e rurais, e frequentemente em cidades pequenas”.

Esses “espaços flexíveis” em cidades pequenas têm o potencial de se tornarem centros de comunidades locais – lugares onde as pessoas podem se conhecer.

Alguns inquilinos de espaços flexíveis serão startups. A flexibilidade permite que comecem com custos mínimos de escritório e depois cresçam rapidamente se prosperarem. Outras empresas menores podem optar por compartilhar escritórios flexíveis com seus pares.

“Se não houver muitas pessoas no escritório, é mais seguro e interessante estar perto de pessoas”, explica Hey, da What Works Wellbeing. Uma mulher trabalhando até tarde em um escritório vazio poderia se sentir insegura, acrescentou. A maioria dos colegas dela mora longe da sede da empresa em Londres, alguns no exterior.

Uma de suas funcionárias distantes é Joanne Smithson. Morando no nordeste da Inglaterra, ela começou a trabalhar na empresa em uma mesa gratuita, no meio de uma equipe de saúde pública de um conselho local. Smithson forneceu aos seus colegas de trabalho conhecimentos sobre bem-estar, enquanto absorvia as “experiências cotidianas dos trabalhadores da linha de frente”. Ela acredita que ouvir pessoas em empregos diferentes reduz o risco de pensamento único e limitador de grupo. Ela descobriu que as colaborações espontâneas, como fazer chá juntos ou almoçar, podem ser mais produtivas do que reuniões formais.

É irônico que a WeWork tenha falido justamente quando os espaços de escritório compartilhados e flexíveis em que ela foi pioneira parecem estar decolando. O co-fundador da empresa, Adam Neumann, pode ter tido razão ao afirmar neste mês: “A WeWork falhou em aproveitar um produto que é mais relevante hoje do que nunca.” (Tradução de Samara Leonel)

FONTE:

https://valor.globo.com/carreira/noticia/2024/01/15/por-que-escritorios-flexiveis-estao-fazendo-sucesso.ghtml