Por que a Amazon planeja expandir seus escritórios no mundo pós-Covid-19

Enquanto muitos falam em expansão do home office, Amazon parece estar no sentido contrário ampliando sua presença física

Quem olhar para movimentos das gigantes de tecnologia em busca de dicas sobre o futuro dos escritórios pode ficar um pouco confuso. A Amazon recentemente anunciou um investimento de US$ 1,4 bilhão (R$ 7,685 bilhões em conversão direta) em escritórios para 3.500 novas vagas em novas sedes espalhadas pelos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que empresas como o Twitter e o Facebook adotaram o home office para seus funcionários indeterminadamente.

O que está acontecendo, exatamente? E qual dos movimentos dão mais dicas do que podemos esperar para o futuro do trabalho pós-pandemia da Covid-19? A resposta pode ser um pouco dos dois.

Quando grandes empresas de tecnologia pensam sobre suas estratégias de negócio durante a pandemia, cada vez mais elas estão reavaliando suas presenças nos escritórios, afirma Sanjay Rishi, o diretor de operações do setor de soluções corporativas da firma imobiliária JLL. E essa presença tem encolhido e expandido ao mesmo tempo. “Tenho dedicado, ao longo dos últimos dois a três meses, como você deve imaginar, uma grande quantidade de tempo interagindo com os setores executivos de alto escalão de nossos clientes,” continua Rishi. “Pela perspectiva tendências, o ramo imobiliário nunca esteve tão alinhado com os executivos de alto escalão como agora,” conclui.

Mesmo se recusando a dar o nome de quais grandes empresas de tecnologia são clientes da JLL, Sanjay disse que a lista inclui “todos os nomes que você pensar.” Ele também afirma que a maioria delas está tentando compreender não só o que devem fazer com seus escritórios, mas como tais locais podem ajudá-las a encontrar e manter talentos em suas equipes. “A maior preocupação e questionamento que chega até mim é sobre atrair e manter talentos e sobre cultura, a cultura de inovação e a colaboração,” diz Sanjay.

Home Office se confirmou uma opção válida e segura em tempos de pandemia e é adotada por gigantes da tecnologia – Imagem: Pexels

Durante o anúncio de expansão, a vice presidente de recursos humanos da Amazon, Beth Galetti, explicou que os novos escritórios “estarão em cidades por todo o país com diversos tanque de talentos. Esperamos ajudar essas comunidades a crescer sua força de trabalho tecnológico.” E em cidades como Detroit, Dallas e Denver, onde o custo de vida é mais baixo do que nos grandes polos tecnológicos como o Vale do Silício, Seattle e Nova York, essa força de trabalho de tecnologia que a Amazon tanto busca pode chegar por um custo bem mais baixo.

O Twitter afirma que a flexibilização de trabalho, permitindo que seus funcionários fiquem em casa parte da “ênfase na descentralização e suporte a distribuição da força de trabalho capaz de produzir de qualquer lugar,” de acordo com o pronunciamento da empresa em maio. “Se nossos funcionários estão numa posição e situação que os permite trabalhar de casa e eles quiserem continuar a fazê-lo para sempre, faremos isso acontecer. Se não, nossos escritórios estão de braços aberto para recebê-los, com alguns cuidados adicionais e quando nos sentirmos seguros a voltar.”

Trabalho remoto é o futuro?

De acordo com a pesquisa do McKinsey & Company, empresa dedicada a consultoria e melhora empresarial em várias escalas e setores, muitos funcionários estão abertos à idéia de continuarem a trabalhar de casa. Em uma pesquisa, 80% disseram estar gostando de trabalhar em home office, e 41% disseram que se sentem mais produtivos nestes ambientes.

Mas Sanjay Rishi diz que os empregadores veem isso de maneira diferente. Líderes de empresas confidenciaram a ele que embora consigam operar seus negócios de maneira remota, poucos deles acham que conseguem fazer suas empresas crescerem dessa forma.

“Devido à Covid-19 e ao fato de que trabalho remoto é aceito e reconhecido, imaginar que os escritórios vão deixar de existir é uma maneira muito simplória de enxergar o mundo de amanhã,” diz Rishi. “A equação é muito mais complexa, e a complexidade vem do risco de portabilização de talento, o que no setor de tecnologia é algo muito grande, sempre foi e sempre será,” continuou.

Para programadores qualificados e desenvolvedores web, as habilidades necessárias para conseguir um emprego no Facebook não são muito diferentes das necessárias para uma vaga no Twitter por exemplo, o que faz esses funcionários trocarem de empresas com muita facilidade.

Programação e desenvolvimento web são alguns das carreiras de maior crescimento na próxima década – Imagem: Pexels

E a demanda para esse tipo de funcionário deve aumentar. Para a Agência Norte Americana de Estatística de Trabalho, a estimativa é de que haverá um crescimento de 12% no setor de computação e tecnologia entre os anos de 2018 e 2028, acima da média de todas as outras profissões. As empresas de tecnologia estão em constante competição por esses talentos segundo Sanjay, e ele suspeita que quanto mais tempo ele trabalhar de casa, mais fácil ele será atraído por outra empresa. O empregado “pode sair de um emprego e arrumar outro amanhã, depois de amanhã e assim por diante,” ele diz.

De acordo com números do Ministério do Trabalho dos EUA, alguns dos programadores que estão chegando ao país com o visto de trabalho estão recebendo salários na casa de centenas de milhares de dólares pelo Facebook e Google e um caso chegou a quase US$ 2 bilhões de dólares por ano, uma quantia muito acima do normal para um trabalhador da área.

A tendência, segundo Rishi, é que empresas sigam mais o caminho da Amazon abrindo escritórios em áreas conhecidas por seus talentos, em vez de simplesmente deixá-los trabalhar onde quiserem. Mas ainda é cedo para afirmar que esse será o futuro. “As mudanças não virão antes da vacina,” concluiu o executivo.

FONTE: https://olhardigital.com.br/pro/noticia/amazon-investe-mais-de-r-7-bilhoes-em-seus-novos-escritorios/106120