Podemos levar as startups a sério?

“Isto das startups é só gente a fazer que trabalha.” Custa-me sempre ouvir comentários destes.

Hoje acompanhei um dos meus clientes ao escritório de uma startup com a qual estão a trabalhar. É um autêntico playground, uns jogam basquetebol e outros pingue-pongue. “Isto das startups é só gente a fazer que trabalha.” Esta era a conversa entre um casal, num jantar de sexta-feira à noite, na mesa ao lado da minha. Custa-me sempre ouvir comentários destes, sobretudo porque numa startup a sério não se faz que se trabalha.

Faz-se o possível e o impossível com os mais limitados recursos; arrisca-se muito, recebe-se muito menos do que numa multinacional e não há garantia absolutamente nenhuma de que as coisas irão funcionar. A maioria dos empreendedores fazem-no pela vontade de arriscar, o desejo de se tornarem melhores pessoas no processo de aprendizagem, e pela aventura que é começar do zero e conseguir construir uma empresa sólida.

O comentário acima fez-me lembrar o que uma outra senhora me disse numa conferência recente – “quando a Talkdesk se mudou para o lado do nosso escritório achávamos que vocês eram um bando de miúdos a fazer chamadas nos corredores e que tiravam uma fotografia semanal nas escadas do edifício”.

Éramos 30 pessoas na altura, a fotografia nas escadas serviu para documentar o crescimento acelerado, e hoje a Talkdesk emprega mais de 300 pessoas. Sempre trabalhámos de forma diferente, “como as startups”. Arduamente, de dia e de noite. Nos meses de agosto, mesmo quando prometemos às famílias que estaríamos livre de trabalho nas idas à praia, não podíamos deixar de incluir o computador na mochila, e muitas foram as vezes em que tivemos de o usar. O nosso miniplayground – obviamente improvisado e com nerf guns compradas numa venda de garagem – servia para nos forçarmos uns aos outros a desanuviar das muitas horas de trabalho, a discutir problemas, trocar ideias e alimentar a criatividade. Há empresas em que se joga basquetebol, outras têm um apertado dress code e por isso toda a gente veste fato.

Qual o valor que estas empresas geram? Esta é a pergunta que nos escapa e que deveríamos fazer como medida de sucesso. Tenho enorme respeito pelos empreendedores, e admiro a resiliência de quem nem sempre é levado a sério. Felizmente no mesmo espaço (na minha mesa), o jantar foi com um empreendedor – discutiram-se planos futuros e vontade de arriscar. E o objetivo, tal como deveria ser, é criar valor.

FONTE: DINHEIRO VIVO