Pix volta a avançar sobre o débito no e-commerce

Setor tenta incentivar uso on-line da modalidade de cartão.

Mattos: Ações para estimular o débito são positivas, mas outros incentivos podem ser necessários para modalidade ser aceita — Foto: Divulgação

Em um momento em que a indústria de pagamentos discute mudanças para tentar alavancar o uso do débito no e-commerce, o Pix bateu novo recorde de aceitação enquanto a modalidade de pagamento à vista no cartão voltou a perder espaço no universo digital, mostra nova edição do Estudo de Pagamentos Gmattos.

O levantamento, antecipado ao Valor, mostra que a aceitação do Pix nas maiores lojas on-line do país atingiu 93,2%. Com o resultado, a modalidade atingiu o teto de disponibilização estimado pela consultoria (93%), que refez suas projeções e agora espera que a opção passe a ser oferecida em até 96% dos comércios eletrônicos ao longo deste ano. O estudo analisou 59 lojas on-line de destaque no mercado brasileiro.

Os estabelecimentos menos propensos a aceitar o Pix são, em geral, aqueles que já não oferecem modalidades de pagamento à vista. Isso pode ser observado, por exemplo, em alguns serviços de tíquete médio elevado, como ligados a turismo. Ainda assim, o cofundador e CEO da consultoria, Gastão Mattos, destaca que a área de pagamentos é dinâmica e, por isso, a perspectiva sobre esse limite para a aceitação vem se alterando. “O mercado está percebendo que existe uma propensão maior do consumidor a usar o Pix.”

Em março, 31% das lojas que trabalham com a modalidade ofereceram incentivos para o pagamento, com descontos de 3,5% a 12% para todos os produtos ou, mais usualmente, para itens selecionados. O estudo destaca que, com a perspectiva de implementação dos itens da agenda evolutiva do Pix pelo Banco Central (BC), é provável que a adoção siga subindo.

Ao mesmo tempo, a sondagem mostra que, em março, o débito era aceito em 27,1% das lojas analisadas, contra 30,5% em janeiro. O patamar atual é o mais baixo da série, iniciada em janeiro de 2021, e já havia sido atingido também em março do ano passado.

Mattos afirma que as ações debatidas pelo setor de pagamentos para incrementar o uso do débito são positivas, mas podem ser necessários incentivos mais diretos para que lojistas voltem a disponibilizar esse meio para os clientes.

O débito nunca foi muito aceito no ambiente virtual e tem sido ainda mais afetado desde o lançamento do Pix, em novembro de 2020. Nesse contexto, a indústria, liderada pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), trabalha em uma série de medidas para impulsionar o uso da modalidade de cartão. Entre elas, estão o “Click to Pay”, espécie de carteira digital capitaneada pelas bandeiras, a dispensa de senha para transações de baixo valor e a compensação dos pagamentos no mesmo dia.

Mattos afirma que as medidas são bem-vindas e vê potencial particularmente no “Click to Pay” devido à atenção que tem recebido da indústria. Mesmo com as novidades, no entanto, para ele, é mais provável que a disponibilização do débito fique estável do que mostre recuperação. “Provavelmente não haverá equiparação com o Pix, mas é possível que a tendência de queda seja revertida.”

O consultor destaca que há o desafio de mostrar para as lojas vantagem em voltar a implementar o débito. “Tem que ter uma agenda não só de melhoria, mas de incentivo ao consumidor e ao lojista”, afirma.

Presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABcomm), Maurício Salvador tem visão semelhante. “É difícil mexer com um meio de pagamento que se popularizou tão rapidamente quanto o Pix. Tem vantagens para o vendedor e para o consumidor.”

Em março, o débito empatou pela primeira vez em aceitação com o “Buy Now, Pay Later” (compre agora, pague depois, ou BNPL), espécie de “crediário digital”. Para Mattos, essas novas alternativas de parcelamento devem desacelerar no curto prazo devido ao momento mais adverso para o crédito, mas a tendência ainda é de crescimento.

Salvador observa que o ambiente macroeconômico já tem afetado as fintechs de BNPL. “Agora que se começa a falar em estabilização dos juros e da inadimplência pode haver um momento de virada novamente.”

O levantamento mostra ainda que o cartão de crédito segue líder absoluto em aceitação do e-commerce, com 100% de oferta pela quarta edição seguida. O boleto era disponibilizado em 67,8% das lojas analisadas e as “wallets” (carteiras digitais), em 42,4%. Ambos ficaram estáveis em relação à medição realizada em janeiro.

FONTE: https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/04/14/pix-volta-a-avancar-sobre-o-debito-no-e-commerce.ghtml