Pequena empresa usou inteligência artificial para identificar suspeitos do vazamento de petróleo

A Hex Tecnologias Geoespaciais é especializada em sensoriamento remoto. PF usou estudo da empresa para identificar o navio Bouboulina, possível fonte da tragédia ambiental

Uma pequena empresa de base tecnológica brasileira é o destaque das investigações para identificar o foco do vazamento de petróleo que atingiu a costa marítima do país. A Hex Tecnologias Geoespaciais usa algoritmos computacionais, machine learning, inteligência artificial, processadores de imagens e imagens de satélite para identificar manchas de óleo no mar. Foi com os indicativos dessa empresa (e de outros estudos) que a Polícia Federal chegou ao principal suspeito do crime ambiental, o navio mercante Bouboulina, de bandeira grega e propriedade da empresa Delta Tankers (a informação consta na decisão do juiz federal Francisco Eduardo Guimarães Farias, da 14ª Vara Federal em Natal).

Em entrevista exclusiva a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Mariano Pascual, fundador e diretor-técnico da Hex, explicou que a análise foi feita a partir de imagens e dados de satélites da Nasa (Agência Aeroespacial dos Estados Unidos), da ESA (Agência Espacial Europeia) e da Airbus Defense and Space, divisão de monitoramento da fabricante de aviões europeia. Ela foi entregue de graça ao governo brasileiro para ajudar nas investigações. “O estudo, que mapeou uma mancha de 200 quilômetros de extensão, é para ajudar a sociedade a resolver o problema”, diz. O derramamento de óleo, um dos piores acidentes ecológicos ocorrido no país, provocou a contaminação de mais de 250 praias no Nordeste.

A Hex nasceu em 2003, em Brasilia, pelas mãos de Pascual, um especialista em computação com pós-graduação nas áreas de sensoriamento remoto, geoprocessamento e análise ambiental pela UnB (Universidade de Brasília). A ideia, desde o começo, era oferecer ao mercado tecnologias avançadas geoespaciais para empresas e governo. Mas no mesmo ano em que nasceu, a empresa entrou num hiato. “As inovações geoespaciais eram caras e incipientes e os desafios para montar um negócio eram enormes”, diz Pascual. “Eu dei uma pausa e fui trabalhar como servidor público federal”.

Mas a ideia de ter um negócio próprio e inovador não saía da cabeça de Pascual. No final de 2011, ele decidiu reabrir a empresa. A decisão se baseava no momento que a tecnologia geoespacial vivia. “De uma hora para outra, o mercado ficou maduro. A gente finalmente podia criar soluções de sensoriamento remoto para a preservação do meio ambiente e fazer o monitoramento de grandes áreas”. Dois anos após a reabertura, a Hex acumulava R$ 10 milhões de faturamento em contratos. Entre os primeiros clientes estavam a japonesa Restec (Centro de Tecnologia em Sensoriamento Remoto) e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Segundo Pascual, um dos grandes motivos para a empresa deslanchar foi a entrada do sócio Leonardo Barros, hoje diretor-executivo da empresa. “O Barros é um empreendedor nato”, diz Pascual. “Ele criou a estratégia de negócios e eu fiquei responsável pela tecnologia. Juntos, fizemos um plano para reter talentos e competir com os grandes players do mercado”.

Avanço
Mesmo com a crise financeira do país nos últimos anos, a Hex não deixou de inovar. A empresa continuou com seu roadmap de desenvolvimento tecnológico. Hoje, ela oferece serviços para os setores ambiental, energético, telecomunicações, indígena, óleo e gás, saúde, planejamento urbano, segurança e espacial. A empresa diz monitorar quase 200 milhões de km² por ano, utilizando imagens de sensores orbitais ópticos e de radar, embarcados em satélites.

A empresa criou ainda o Skynet, uma tecnologia de sensoriamento remoto que, junto com  imagens de satélites, inteligência artificial e aprendizado de máquina, faz o processamento digital de imagens em larga escala de maneira automática. Por causa da inovação tecnológica do Skynet no mercado de sensoriamento remoto, a Hex ganhou o prêmio “Innovation Challenge”, da Airbus Defense & Space. A Hex, hoje, tem pouco mais de dez clientes e fatura cerca de R$ 20 milhões por ano.

Segundo Pascual, o Brasil tem chances de ser um líder na área de sensoriamento remoto. Mas precisa incentivar o desenvolvimento e o crescimento da indústria geoespacial brasileira. “Precisamos ter um Centro Nacional de Observação da Terra”, diz. “Minha ideia é ter nanossatélites brasileiros no espaço que nos ajudem a ter imagens de todos os cantos do país diariamente”. Se a ideia der certo, o país não só pode descobrir com mais velocidade os causadores das tragédias ambientais, mas também preveni-las.

FONTE: PEGN