Os gringos do rúgbi que apostaram em crowdfunding no Brasil

Plataforma EqSeed já intermediou R$ 65 milhões em rodadas e abriu primeira oferta do ano com a Taxcel.

Brian Begnoche e Greg Kelly, fundadores da EqSeed se conheceram num jogo de rúgbi — Foto: Divulgação

Se ainda está difícil para startups mais maduras atraírem um cheque, as startups de early stage ainda têm conseguido atrair interessados – o risco operacional tende a ser maior, mas o cheque é menor, o que deixa os investidores com menor exposição; além disso, estão menos sujeitas aos danosos down rounds. Para dois gringos que se conheceram jogando rúgbi no Rio, são as mais novatas que terão protagonismo em plataformas de equity crowdfunding neste ano.

“Espero uma melhoria no mercado como um todo nesse ano. Passamos um tempo abrupto de reajuste de captação e, agora, a previsão é reestabelecer essas atuações”, diz o americano Brian Begnoche, que fundou a EqSeed com o britânico Greg Kelly. “Ainda tem muito investidor que quer acesso a esse tipo de ativo e, ao mesmo tempo, empreendedores que não conseguem captar. Nosso modelo destrava esse capital.”

Kelly trabalhava para o Lloyds Bank em Londres fazendo securitização para gigantes como Nike e GM. Casado com uma brasileira, mudou-se para o Rio num sabático – a principal ocupação seria jogar rúgbi, mas as discussões sobre novas regulamentações financeiras no país e o mercado de inovação em ebulição acabaram alterando os planos.

Ele aprendeu o básico de português e passou a estudar a CVM 400, com a ideia de montar por aqui uma plataforma de equity crowdfunding semelhante às que operavam no Reino Unido. Conheceu Begnoche, economista que queria montar um negócio próprio, durante uma partida no Rio em 2014 – e acabaram configurando o que viria a ser a EqSeed dois anos depois.

A primeira captação do ano na plataforma é da Taxcel, que busca R$ 1,6 milhão para seu SaaS de gestão tributária. Em 2023, a EqSeed projeta realizar 30 rodadas de investimento chegando a R$ 45 milhões intermediados – um volume relevante para o histórico, considerando que desde 2016, quando foi fundada, a plataforma intermediu um total de R$ 65 milhões.

As ofertas ficam disponíveis para mais de 55 mil investidores cadastrados na plataforma, a maioria qualificados (com mais de R$ 1 milhão em aplicações). O tíquete médio é de R$ 13 mil, já distante do aporte mínimo, que é de R$ 2,5 mil.

Do lado do empreendedor, há a cobrança de uma taxa de 10% do valor captado, que só é liquidada quando a startup recebe a rodada. Para o investidor, há uma distribuição de 10% do lucro, mas só no momento do exit. O primeiro desinvestimento de uma startup que havia captado na plataforma foi na venda da DinDin para o Bradesco. Depois teve a aquisição do MeuPortfólio pela Warren e da Green Ant, de inteligência de dados, para a AES.

Apesar de ter como benchmark outras plataformas globais como Seedrs, comprada pela Republic por 90 milhões de libras, ou a Crowdcube, investida do Goldman, a EqSeed tem cada vez mais concorrentes regionais, como a CapTable, Bloxs, Platta, MyFirstIPO e Benfeitoria.

Os executivos dizem que o diferencial está no crivo. Menos de 1% de todas as startups que são avaliadas entram para a plataforma — em 2022, foram 6 mil escrutinadas, da papelada contábil ao jurídico. As rodadas vão até R$ 15 milhões, por determinação da CVM. “O nosso processo é o mais rígido do mercado. A gente avalia e questiona, quer saber como está a saúde do cap table”, diz o CEO. “Quando o investidor recebe o exit, fica animado e quer investir mais.”

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/os-gringos-do-rugbi-que-apostaram-em-crowdfunding-no-brasil.ghtml