Os erros e acertos da XP em busca da inovação

Na tentativa de se posicionar como empresa de tecnologia, empresa de investimentos adota “espírito” de fintech, com metodologia ágil nos processos e escritório mais moderno

THIAGO MAFFRA, SÓCIO E CTO DA XP INVESTIMENTOS: “O PRÓXIMO PASSO DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DA XP É A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DO RESTO DA EMPRESA” (FOTO: DIVULGAÇÃO/XP INVESTIMENTOS)

Quem trabalhava nos escritórios da XP Investimentos em 2017 dificilmente se imaginaria na nova sede da empresa, inaugurada neste ano. Em menos de dois anos, a companhia colocou em prática um processo de mudanças digital e estrutural, numa tentativa de posicionar a empresa de investimentos como empresa de tecnologia, no melhor estilo fintech. Essa é a sensação de quem passa pelos novos corredores do grupo, em especial pelo Lab Grupo XP, espaço de descompressão recém-inaugurado. Nas paredes, citações de empresários como Larry Page, do Google, e Elon Musk, da Tesla. Em vez de salas de reunião e camisas sociais, estão bermudas, camisetas, espaços de descompressão, parede grafitada, videogames e chopeiras. Nos processos, mudanças tão drásticas quanto a de dress code. O time de tecnologia, com cerca de 430 pessoas, foi totalmente dividido em squads, trabalhando diariamente – entre madrugadas e fins de semana – no tão falado modelo ágil.

A XP, como se espera de uma empresa de investimentos, gosta de números. É aí que Thiago Maffra, sócio e CTO (chief technology officer) do grupo, entra. Com experiência em administração e passagem em áreas de negócios da empresa, Maffra assumiu o setor de tecnologia em setembro de 2018 com a missão de colocar a XP no centro da revolução digital pela qual o mercado financeiro passa, com foco em crescer mesmo em meio a tantas transformações.

Com o aval do CEO Guilherme Benchimol, Thiago reestruturou a área de tecnologia da empresa, transformando um setor antes visto como “tirador de pedidos” em protagonista. O executivo foi atrás de startups no Brasil e no Vale do Silício que trabalhavam dessa forma em busca de inspiração. Em janeiro de 2018, antes de assumir o cargo de CTO, criou a primeira squad da XP. O objetivo do time era conciliar pilares da metodologia ágil à rotina da área.

Um exemplo prático foi a criação do aplicativo Hub XP, voltado para assessores de investimentos. Quando pensaram no produto, os executivos tinham uma ideia completamente diferente do que os clientes precisavam. Só descobriram isso por conta da metodologia. Talvez, se a mesma situação tivesse acontecido um ano atrás, a XP desperdiçasse tempo e dinheiro na criação de um app desinteressante. “Mudamos rápido”, diz Maffra.

Lab Grupo XP: espaço de descompressão conta com videogames e chopeira (Foto: Divulgação/XP Investimentos)

“Traumático”
Estruturar o processo internamente foi um desafio. Maffra conta que o período de contratação dos novos funcionários foi “traumático”, principalmente no primeiro semestre do ano passado. Segundo o executivo, esse foi o maior erro da XP na sua guinada à inovação. “Erramos bastante em pessoas e em qualidade. Contratar 400 funcionários da noite para o dia não é fácil. Não estavamos prontos para recebe-los”, diz.

Superado esse primeiro momento de transição, a XP se ajustou aos novos times. Da experiência, surgiu um novo programa de contratação. Agora, um algoritmo analisa o que o executivo chama de “fit cultural” entre candidato e companhia. Não são analisados, por exemplo, questões de gênero e formação acadêmica – movimento que a empresa faz em prol da diversidade no mundo de tecnologia.

A questão, diretamente ligada à inovação, está na pauta da XP. De acordo com Maffra, uma das últimas bandeiras adotadas pela companhia é a da inserção de mulheres nos squads – hoje, o quadro, preocupante, está em apenas 8%. Para aumentar esse número, a empresa tem promovido eventos internos sobre o tema.

Na vanguarda
De todas as metas impostas por Maffra, a principal é levar o modelo ágil toda a empresa. “O próximo passo da transformação digital da XP é a transformação digital do resto da empresa”, afirma. Na sua visão, a metodologia só é exponencial se atingir todos os setores da companhia. “Se você se limita, cria-se um gargalo.” Questionado se não acha arriscado uma empresa consistente investir dessa forma em novos modelos, o CTO é categórico. “Arriscado? Mais arriscado é não fazer. A única garantia que eu quero ter é que daqui um ano tudo vai ser diferente.”

FONTE: ÉPOCA