Os brasileiros do Brex estão socorrendo as startups do Vale do Silício

A fintech de cartão de crédito corporativo, está entrando no mundo dos empréstimos para ajudar as startups prejudicadas pelo colapso.

Henrique Dubugras (à direita) e Pedro Franceschi, os fundadores da fintech Brex

Enquanto as empresas que mantinham seu dinheiro no Silicon Valley Bank correm para encontrar soluções para a folha de pagamento desta semana, o CEO da Brex, Henrique Dubugras, passou os últimos dois dias no telefone para entrar no negócio de empréstimos, pelo menos temporariamente.

A fintech com sede em San Francisco anunciou no sábado (11) que já havia recebido mais de US$ 1 bilhão em pedidos de uma linha de crédito de emergência anunciada na sexta-feira (10).

Em uma entrevista, Dubugras disse à Forbes que a Brex ainda estava no processo de garantir os credores e definir as taxas, mas planejava fazê-lo até a segunda-feira. “Estamos aqui 24 horas por dia, 7 dias por semana, negociando as condições para começarmos a financiar”, disse ele.

Para o CEO da Brex a mudança das atividades de cartão de crédito corporativo e gerenciamento de gastos é temporária – por enquanto. A iniciativa visa ajudar as empresas a pagar suas folhas de pagamento nesta semana. Essa é a principal preocupação das companhias que ainda mantém dinheiro em contas SVB. “Vemos isso como um momento único, em que estamos posicionados de maneira a poder ajudar”, disse Dubugras à Forbes americana. “Muitos desses credores d9 SVB têm capital, mas não conseguem operacionalizar milhares de empréstimos.”

As empresas que solicitaram mais de US$ 1 bilhão em empréstimos até agora têm cerca de US$ 10 bilhões em ativos vinculados ao SVB com base em seus pedidos, disse Dubugras.

Esse número é separado dos bilhões que os clientes teriam transferido na quinta-feira (9) para o Brex. As contas do SVB foram congeladas abruptamente na sexta-feira, quando o banco sofreu uma intervenção do FIDC (Federal Insurance Deposit Corporation), provocando uma crise no sistema de capital de risco e problemas para as startups.

Dubugras não revelou o valor exato que foi transferido e disse não ter como saber quanto dinheiro as startups tentaram transferir na sexta-feira e não conseguiram. Uma fonte com conhecimento das transferências bem-sucedidas, no entanto, disse à Forbes que elas totalizaram cerca de US$ 2 bilhões.

O colapso
Bem conhecido e profundamente interligado com a indústria de tecnologia, o colapso do SVB significa que algumas startups de repente ficaram sem meios para pagar os funcionários conforme programado e, em alguns casos, os pagamentos já agendados podem não ser realizados.

O banco também foi usado por uma série de empresas não tecnológicas, incluindo escolas e até vinícolas, o que significa que seus problemas de folha de pagamento se estendem para vários setores.

Momento de dificuldade
Além dos esforços da Brex, algumas empresas de capital de risco disseram aos fundadores que planejavam ajudar no pagamento da folha de pagamento; outros estavam trabalhando no fim de semana para garantir soluções de empréstimo além da Brex.

“A linha de emergência da Brex é uma opção popular agora”, disse à Forbes um capitalista de risco. “Empresas de capital de risco estão considerando pegar [o dinheiro] pessoalmente ou como uma empresa”, entre outras soluções potenciais, acrescentou o investidor.

Outras empresas estão levantando capital adicional em notas conversíveis e trocando ações por dólares para passar por esse momento, disse o investidor. (E muitas startups com fundos em outros bancos ou contas não tomaram nenhuma atitude.)

Tais esforços, observou Dubugras, permanecem pendentes. “Todo mundo está meio que tentando descobrir isso em movimento. Ficamos muito felizes se os VCs estão emprestando o dinheiro, que Deus os abençoe”, disse ele. As firmas de capital de risco também poderiam ajudar agregando demanda para a Brex, acrescentou, já que um “grupo mais diversificado” de candidatos a empréstimos poderia garantir melhores taxas aos credores.

Nem todo mundo, inclusive dentro da comunidade VC, confia na Brex no momento. Alguns investidores instaram as startups a colocar seu dinheiro predominantemente nos maiores bancos dos Estados Unidos, como o JPMorgan Chase, para minimizar o risco.

Questionado pela Forbes sobre sua própria saúde financeira, o Brex disse que tinha cerca de US$ 1 bilhão em caixa. A maneira como a Brex está estruturada, enquanto isso – com o dinheiro dos clientes mantido em tesourarias de curto prazo e não emprestado ou em ativos que devem ser mantidos até o vencimento – a empresa poderia devolver o dinheiro a todos os clientes no mesmo dia, disse Dubugras, sem o risco de uma corrida aos bancos que derrubou o SVB. (A Brex disse que também não carrega esses títulos de longo prazo.)

“Temos visto algumas pessoas transferindo seu dinheiro para os grandes bancos, com certeza”, disse Dubugras. “Mas temos muito mais entradas do que saídas. E não somos um banco.”

Dubugras disse que o Brex ainda não sabe qual seria seu limite de participação na linha de crédito, mas disse que o US$ 1 bilhão já pendente está longe de seu limite. As startups interessadas, especialmente aquelas que precisam de dinheiro até hoje ou amanhã (14), devem se inscrever no fim de semana, acrescentou, especialmente se ainda não tiverem uma conta Brex.

A própria Brex planeja não lucrar com a facilitação desses empréstimos, disse Dubugras. Mas não confunda tais ações com altruísmo. A empresa espera que os clientes que usam sua linha de crédito permaneçam por seus outros serviços, disse Dubugras. De forma mais ampla, a Brex precisa que o ecossistema permaneça estável para esse negócio principal. “Para nós, muitas startups perdendo a folha de pagamento e fechando, é terrível para o nosso negócio”, disse ele. “Portanto, resolver isso é um negócio muito bom para nós.”

FONTE: https://forbes.com.br/forbes-money/2023/03/os-brasileiros-do-brex-estao-socorrendo-as-startups-do-vale-do-silicio/