OLX anuncia aquisição do Grupo ZAP — entenda o impacto no mercado imobiliário

Após fusões e aquisições para se tornarem as empresas que são hoje, OLX e Grupo ZAP se unem; ao mesmo tempo, construtechs ganham força e impulsionam o setor imobiliário

 

Oferecer soluções ao mercado imobiliário com a maior base de dados das propriedades — essa foi uma das motivações da OLX Brasil para adquirir o Grupo ZAP. A compra, no valor de R$ 2,9 bilhões, foi anunciada nesta terça-feira (3). A transação ainda passará pelo crivo do CADE, órgão regulador do mercado.

Em 2018, cresceu em 46% o número de anúncios de imóveis na OLX. São mais de 200 milhões de buscas realizadas todos os meses. Agora, essa potência une-se a uma especialista neste mercado: o Grupo ZAP. O grupo — resultado de uma fusão entre a ZAP Imóveis e Viva Real em 2017 — recebeu 28 milhões de visitas mensais no site no ano passado; teve mais de 8,3 milhões de imóveis anunciados e 230 mil buscas por hora.

A aquisição deve movimentar ainda mais o mercado imobiliário no país, que tem registrado um crescimento nos últimos meses. De acordo com levantamento do Registro de Imóveis do Brasil, a quantidade de registros de compra e venda de imóveis subiu 9,7% em São Paulo e 9,2% no Rio de Janeiro. Os dados, obtido em cartórios, são de janeiro a novembro de 2019, e comparados ao mesmo período de 2018.

Em toda sua trajetória, o grupo ZAP passou por grandes transformações. O site de busca por imóveis foi criado em 2000, enquanto o Viva Real, seu concorrente na época, chegou em 2009. A fusão foi realizada em 2017 e controlada por acionistas do Grupo Globo. Em 2018, a receita líquida da companhia foi de R$ 217 milhões.

Já a OLX foi inaugurada em 2010 no Brasil. A companhia adquiriu a operação do Bomnegócio.com, site de classificados de compra e venda de produtos usados, um ano depois. Foi com esta aquisição que o holandês Andries Oudshoorn passou a integrar a OLX e, alguns anos depois, se tornou o líder da OLX Brasil.

O uso de dados no mercado imobiliário

Além do mercado imobiliário, as companhias possuem outro ponto em comum: a tecnologia. Ambas iniciaram oferecendo soluções de busca em sites da internet e hoje desenvolvem iniciativas para utilização desses dados com mais inteligência. A OLX criou, em 2017, o Storia — uma plataforma que auxilia que os “futuros moradores” conheçam os bairros de interesse antes de morarem, tendo acesso ao ranking das melhores escolas e até avaliações de quem já é morador.

O uso de dados não é apenas qualitativo. Entre suas marcas, o Grupo ZAP possui o DataZAP e FipeZAP. O DataZAP é uma empresa de inteligência imobiliária que auxilia o processo de escolha de imóveis com dados de construção, investimento, financiamento e negociação. Já o FipeZAP é uma parceria com a própria Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que levanta preços de imóveis de todo o país.

Hoje, o DataZAP é capaz de avaliar a diferença de valores de imóveis na mesma rua e até por andar em um mesmo prédio. A companhia aposta no uso de machine learning e big data para trazer os resultados em tempo real, resultando no AVM (automated valuation models), no qual a avaliação de imóveis é automatizada.

“Nós usamos algoritmos de precificação — que consideram 72 variáveis — a partir de todos os inputs que temos. Dependendo da fonte dos dados (há algumas ricas e outras limitadas), escolhemos qual é o melhor modelo para precificar uma região. Capturamos as sutilezas e variações que há ao longo de uma rua, de acordo com o que tem de comércio e nas redondezas”, contou Renata Lorenz, chefe de produto do Grupo ZAP, em entrevista exclusiva à StartSe. Ela foi uma das palestrantes da Construtech Conference da StartSe que aconteceu em 12 de fevereiro deste ano.

As soluções tecnológicas que estão sendo desenvolvidas neste mercado têm auxiliado não apenas os compradores, mas os vendedores, corretores e as imobiliárias. Ao mesmo tempo em que a tecnologia origina o questionamento do uso de intermediários — e qual o futuro dos corretores, afinal —, ela atua como uma ferramenta para tornar o trabalho mais assertivo e os clientes mais felizes, fato destacado pelo CEO da OLX Brasil.

“A OLX Brasil e o Grupo ZAP estão na vanguarda em auxiliar os players da cadeia de valor do mercado imobiliário a se tornarem mais digitais. A transação irá impulsionar as habilidades da OLX Brasil de levar inovação e desenvolver uma experiência do consumidor superior, tornando a compra, venda e aluguel de imóveis no Brasil muito mais segura, simples e eficiente para todos os envolvidos”, disse Andries Oudshoorn no anúncio.

Mercado em ascensão

Além do crescimento na compra e venda de imóveis em SP e RJ, outro fator pode ser levado em conta para a “alta” deste mercado: as startups. Elas chegaram para rivalizar com os grandes players, como os próprios Grupo ZAP e a OLX, e estão conquistando seus lugares de destaque.

QuintoAndar e a Loft, por exemplo, se tornaram unicórnios — startups avaliadas em US$ 1 bilhão — recentemente. O valor foi conquistado através de aportes de capital de risco, o que confirma a crença do mercado financeiro no sucesso deste setor. Criada em 2018, a Loft foi a startup brasileira a alcançar mais rapidamente o status de unicórnio.

Hoje, a própria Loft está começando a adquirir outras startups — em novembro, ela comprou a startup de reformas Decorati. A aquisição relembra o histórico da ZAP e OLX, que foram somando outras companhias até se tornarem o que são hoje. Após a aquisição, a companhia de compra, reforma e venda de imóveis criou o seu próprio marketplace de reformas.

A Loft possui também outra semelhança: a de uso de dados para trazer mais transparência ao setor. A companhia disponibiliza os dados gratuitamente para compradores e vendedores em aplicativos específicos. Mas as semelhanças entre as empresas deste mercado não acabam por aí.

Enquanto isso, o QuintoAndar, que nasceu como uma plataforma online de aluguel de imóveis, se aproxima do mesmo modelo das concorrentes ao começar a intermediar a compra e venda. A companhia tem, como um dos objetivos, a redução de gastos e a diminuição de problemas típicos destes processos. “A falta de informações de qualidade sobre a situação legal da propriedade, assim como a dificuldade em obter toda a documentação correta são problemas comuns que atrasam todo o processo”, contou Gabriel Braga, cofundador do Quinto Andar, no anúncio da novidade.

Hoje, o sucesso das construtechs e das empresas estabelecidas do setor é o reflexo de um movimento que está acontecendo há algum tempo — afinal, a ZAP foi fundada em 2011 — e as aquisições recentes, seja das startups ou das grandes companhias, nos mostra que ainda há muito por vir.

FONTE: STARTSE