OFICINA CRIA COWORKING PARA CLIENTES TRABALHAREM ENQUANTO ESPERAM PELO CONSERTO DOS CARROS

Conheça também uma lavanderia que tem bar, cafeteria, restaurante e um brechó para entreter seus visitantes

Fabrício Cavalcanti, da Castrol Auto Service: coworking para clientes que aguardam o carro ficar pronto (Foto: Reprodução/Agência Sebrae de Notícias)

Ninguém mais precisa perder horas de trabalho ou se preocupar com táxi para o escritório naquele dia em que o carro fica parado no mecânico. Pelo menos esse não é mais o caso dos clientes de uma oficina em Carapicuíba, na Grande São Paulo, que atende principalmente empresários e executivos que trabalham na vizinha Alphaville.

Desde janeiro, a oficina oferece um espaço de coworking equipado com tomadas, internet de alta velocidade e café, com cuidados na decoração e no conforto para deixar os clientes à vontade para trabalhar enquanto esperam o veículo ficar pronto.

O empresário Fabrício Cavalcanti, proprietário da oficina há 14 anos, conta que a ideia começou a tomar corpo quando o estabelecimento passou a ser credenciado pela marca de lubrificantes Castrol e se tornou uma oficina de referência da empresa no Brasil.

O local passou a receber muitas visitas de funcionários da multinacional – inclusive do exterior – interessados em conhecer a mecânica, hoje chamada Castrol Auto Service, assim como executivos das empresas da região, atraídos pelo boca a boca. “Nessa época, me preocupei em montar uma sala de espera melhor, e minha esposa sugeriu que eu colocasse tomadas à disposição dos clientes. A partir daí, surgiu a ideia de montar uma estrutura para eles poderem ligar o notebook e trabalhar”, conta.

Em um primeiro momento, no entanto, um espaço organizado à disposição dos clientes causou estranheza. “Eu brinco que o cliente no Brasil não está acostumado a ser bem tratado”, afirma Cavalcanti. Atualmente, o espaço de coworking já se tornou um dos principais atrativos da oficina, que trabalha principalmente com carros de luxo e importados.

“Tenho clientes que continuam a trabalhar daqui mesmo com o carro pronto. No sábado, muitos vêm para cá só para bater papo. O custo foi baixo e me agregou muito”, diz. O empresário não cobra nada pelo uso do coworking, mesmo que o cliente não esteja com um carro parado na oficina naquele momento.

Para que a conta feche ainda mais facilmente, toda a parte de café é patrocinada por uma empresa parceira. Embora gratuito, o empresário pretende aumentar sua receita com o conceito de oficina e coworking: ele abriu uma oficina menor em Barueri seguindo o mesmo padrão e, para o futuro, o plano é criar um sistema de franquias do modelo.

A oficina mecânica com espaço de coworking é parte de um fenômeno que está se tornando cada vez mais comum, especialmente nas grandes cidades: empresas que oferecem
diversos serviços diferentes no mesmo espaço para que o cliente economize tempo. A diferença delas para um posto de combustível com loja de conveniência é que, nesses casos, os “multiespaços” costumam ser do mesmo proprietário e juntam os serviços dentro do mesmo local. São os casos, por exemplo, de uma barbearia que serve cervejas artesanais ou de uma livraria que passa a oferecer café e doces.

O consultor do Sebrae-SP, Diego Smorigo, aponta que, além de oferecer comodidade aos clientes, esse tipo de negócio pode aumentar o faturamento da empresa sem precisar de mais espaço. “Estudando o perfil e o comportamento do público, o empreendedor consegue perceber se é possível atrair mais clientes agregando serviços ao que ele já oferece. Com o mesmo espaço, ele é capaz de diversificar sua receita”, diz.

Smorigo cita o caso de um salão de beleza que passou a oferecer um espaço decorado para as noivas serem fotografadas, depois que o proprietário percebeu que elas iam fazer fotos em outro local. Ou o caso de um restaurante de perfil “natural” que passou a vender temperos e ervas frescas colhidas na própria horta.

Lavar e comer

A ideia de reunir vários negócios em um só lugar não precisa se restringir a duplas mais comuns, como a livraria com café. Instalada em um espaço de 450 metros quadrados em São Paulo, a Laundry Deluxe reúne lavanderia, bar, cafeteria, restaurante e um brechó.

Já teve também uma barbearia – que deve voltar a funcionar em breve – e agora os proprietários planejam a abertura de um hostel no local. “No exterior, as lavanderias são comuns, mas é meio chato ficar esperando a roupa lavar e secar. No Brasil, esse costume ainda está começando. Principalmente na região central de São Paulo, muitos moram em apartamentos pequenos, que não têm lavanderia”, explica Jefferson

Paiano, sócio do local. Aberta em 2016 na região dos Jardins, a lavanderia funciona das 8h até o último cliente do bar. Além de servir refeições, bebidas e petiscos o espaço também recebe eventos. De acordo com Paiano, pelo menos 80% da clientela é formada por pessoas de fora de São Paulo que moram nas proximidades, incluindo uma grande quantidade de estrangeiros.

E é também de olho nesse fluxo de clientes de fora do Brasil que o empreendedor decidiu abrir o hostel. “Percebemos que muitos hóspedes de hostels da região vinham lavar roupa aqui, então decidimos aproveitar um espaço livre que temos para abrir o hostel”, afirma.
Apesar das dificuldades com a crise econômica – o local chegou a ter 11 funcionários e hoje tem seis –, Paiano não vê dificuldades em administrar vários negócios no mesmo local. “Tenho experiência no setor de bar e restaurante, mas tudo é uma questão de estudar para aprender. A concorrência em São Paulo é muito grande, então juntar serviços é um diferencial”, diz.

Adequação

Para Smorigo, do Sebrae-SP, o empreendedor que decide diversificar seus negócios precisa ficar muito atento à legislação, principalmente se for preparar alimentos. Também é preciso ter bom senso e não seguir nenhuma moda por impulso. “O empresário precisa tomar cuidado com o que o cliente vai ver. É estranho você chegar a uma hamburgueria e ver que logo ao lado estão cortando cabelo, ou mesmo fazer tatuagem no mesmo espaço em que funciona uma oficina. Os locais precisam ser bem delimitados”, afirma.

O consultor lembra que o empreendedor precisa levar em conta a adequação da proposta ao público – não dá para colocar uma oficina de moto junto com uma livraria, por exemplo – e é fundamental fazer um planejamento. “Ainda que a empresa seja a mesma, são negócios diferentes. Cada um tem sua formação de preço, os processos-chave são específicos, o planejamento de estoque é diferente”, explica.

FONTE: PEGN