O super desafio da requalificação

Youngstown foi uma das mais emblemáticas cidades dos EUA no século passado. A siderurgia atraiu multidões ao município, os trabalhadores possuíam um dos salários mais altos do país e as famílias desfrutavam um estilo de vida fantástico. Porém, um decreto de 1977 fechou as usinas locais e matou a euforia criada lá. Milhares de pessoas perderam seus empregos, metade da população abandonou a região e Youngstown ficou marcada pra sempre como um triste capítulo da história americana.

Se a atual força de trabalho não se requalificar, eventos assim se repetirão. Não mais motivados por decretos, mas pela velocidade das inovações que desafia os tradicionais empregos da classe média. Vivemos uma das maiores transformações que qualquer geração já precisou enfrentar. Os avanços tecnológicos afetam não só carreiras, negócios e governos, mas o próprio sentido da humanidade.

O que acontecerá com motoristas quando os carros forem autônomos? Com cozinheiros quando o preparo das refeições for automatizado? Com médicos quando as doenças forem diagnosticadas proativamente por sensores? Independente da atividade, parte dela (ou toda) será feita por robôs ou softwares nos próximos anos.

As necessidades da era industrial empacotaram o trabalho em empregos padronizados, previsíveis e em tempo integral, que atenderam perfeitamente as exigências da época. No entanto, apesar dos requisitos profissionais terem evoluído, muitas empresas ainda mantêm a mentalidade inflexível do passado. Em geral, definem cargos baseados em tarefas e remunerações equivalentes às horas trabalhadas nessas tarefas. Essas escolhas geram 2 efeitos colaterais. Primeiro, as atividades previsíveis estão sendo rapidamente substituídas pela tecnologia, pois sistemas de tarefa única são simples de construir. E segundo, milhões de trabalhadores passaram a ter profissões repetitivas. Atuam mais como máquinas do que como humanos. Infelizmente, essas ocupações também se tornarão obsoletas em breve.

A conseqüência disso aparece nas massas de pessoas qualificadas para uma realidade que já acabou. Para um mundo que não existe mais. Enquanto há cerca de 12 milhões de desempregados no Brasil, sobram vagas no Sine, nos mutirões de emprego e em quase todos os setores da economia. Nos EUA, há 7 milhões de postos de trabalho que não conseguem ser preenchidos. É por isso que muita gente começou a agir.

A Amazon, por exemplo, anunciou que investirá U$ 700 milhões para requalificar 100 mil trabalhadores, principalmente em áreas tecnológicas. Em parceria com a Universidade de Helsinque, o governo finlandês lançou o The Elements of AI, um curso online gratuito de Inteligência Artificial para a população. A coroa inglesa investiu no The Institute of Coding, uma iniciativa para capacitar quem possui empregos ameaçados pelos recentes avanços. A Dinamarca criou o Disruption Council, um conselho liderado pelo primeiro-ministro com objetivo de preparar os dinamarqueses para os trabalhos do amanhã. Em tempos onde a meia-vida de uma competência é de 5 anos, adquirir conhecimento é o único antídoto capaz de combater os efeitos das atuais mudanças.

Quanto à Youngstown, o que ocorreu lá nos anos 70 é hoje retratado em um museu. Nele, enquanto o antigo trabalhador da cidade (um dos mais bem pagos da época) é exposto com uma placa de “extinto”, o profissional atual é apresentado bem próximo, dando a entender que logo será extinto também.

FONTE: https://www.linkedin.com/pulse/o-super-desafio-da-requalifica%C3%A7%C3%A3o-mauricio-benvenutti?articleId=6622413314775404544