O sonho dessas startups: criar o ‘sistema operacional’ do agro

Duas startups que estão tentando injetar tecnologia e dados no agronegócio brasileiro estão fundindo seus negócios.

A fusão entre a Seedz e a Gaivota vai dar origem a uma nova companhia que será controlada pelos acionistas da Seedz: o fundador e CEO Matheus Ganem e fundos geridos pela Alexia Ventures, 10b, The Yield Lab, Vox Capital e Volpe Capital.

Já os acionistas da Gaivota — os três fundadores e fundos da Mandi Ventures, Canary, Valor Capital e Alexia — ficarão com uma participação minoritária mas relevante no negócio.

A Seedz começou em 2017 como uma plataforma de CRM para empresas que vendem para o agronegócio, como a John Deere, Syngenta e Agrogalaxy.

Na prática, a startup criou um software que permite às empresas integrar seus próprios dados e criar campanhas de relacionamento com seus clientes.

Quando o agricultor compra um produto de uma empresa cliente da Seedz, ele ganha um crédito que pode ser trocado por descontos, produtos ou dinheiro.

“O agricultor faz poucas compras por ano porque tem poucos momentos da safra, então fidelizar esse cliente e evitar o churn é muito importante para essas empresas,” Matheus disse ao Brazil Journal. “Nós as ajudamos a ter os melhores dados no momento que precisam.”

A plataforma já tem mais de 100 mil agricultores cadastrados e 1.200 empresas como clientes. Com esta base relevante, a Seedz começou a adicionar outras ferramentas e serviços para fazer o cross-sell.

Primeiro, comprou um software de gestão para fazendas, passando a atender o agricultor; depois, um software de planejamento de safra, e mais recentemente começou a fazer operações de crédito.

Já a Gaivota nasceu basicamente como uma plataforma de gestão de big data, com foco em dados espaciais.

Na prática, a plataforma serve de base para trabalhar dados do setor com o uso de machine learning. Segundo Alexandre Spitz, um dos fundadores, a Gaivota tem “o modelo mais preciso de identificação de cultura do mercado. Mapeamos toda a soja, milho e algodão do Brasil.”

Alexandre dá o exemplo de um grande banco que precisa monitorar suas operações de crédito em tempo real para aferir a probabilidade da safra ter alguma quebra.

“Para fazer isso, os bancos tinham que mandar uma pessoa em campo para avaliar a safra. Com nossa plataforma eles conseguem acompanhar todo o território e ter insights sobre as safras que monitoram,” disse Alexandre.

Mais importante ainda, o software da Gaivota junta esses dados espaciais com dados transacionais e dados públicos de forma que a informação seja intuitiva para qualquer pessoa — da área de crédito ao comercial.

“Antes, essas empresas usavam três, quatro plataformas diferentes: uma para trabalhar a imagem de satélite, uma para o fluxo de trabalho e outra para o dado público,” disse ele. “Ter isso de forma unificada e simples ajuda muito, por exemplo, para o representante comercial fazer o approach dele.”

A plataforma da Gaivota foi desenvolvida nos últimos cinco anos por três brasileiros que se conheceram em Stanford. Alexandre era aluno de mestrado e Mateus Neves, de doutorado. Ambos eram orientados por Ram Rajagopal, que apesar do nome é carioca.

A startup ficou em stealth mode nos últimos cinco anos e começou seus esforços comerciais há menos de um ano.

Com a fusão, Alexandre diz que a ideia é construir um ‘sistema operacional’ do agro.

“Queremos criar um software vertical. Nossa tese era pegar uma indústria e ir criando vários softwares e soluções que resolvem os problemas do setor,” disse ele. “E o agro ainda não tinha uma empresa robusta fazendo isso.”

Matheus, da Seedz, disse que a ideia com a fusão é unificar as duas plataformas em uma só. Outro plano é ampliar a equipe comercial. Hoje, segundo ele, as duas empresas têm quase 300 funcionários, mas menos de 2% deles são equipes comerciais.

A transação de hoje vem dois meses depois da Seedz levantar US$ 16,4 milhões numa rodada Série A.

FONTE: https://braziljournal.com/o-sonho-dessas-startups-criar-o-sistema-operacional-do-agro/