O modelo de Universidade como conhecemos está com os dias contados?

Ideia de que os alunos necessitam da experiência universitária presencial é um dogma educacional que precisa ser quebrado

Hoje sabemos que se nos adaptamos aos diferentes tipos de inteligências, 98% dos alunos terão melhor resultado

Alterações nas formas de comunicação e interação, aliadas a novas reflexões sobre o modo como aprendemos, representam um potencial para mudanças nos modelos de ensino: a universidade, como conhecemos hoje, está com os dias contados.

“As únicas universidades que sobreviverão são as que têm um nome forte, como Harvard e Stanford”, diz David Roberts, especialista em inovação e membro da Singularity University, em entrevista ao El País. “Os nomes dão distinção e isso significa algo para o mundo. As outras, vão desaparecer”, completa.

Novos modelos

A Universidade Singularity foi fundada em 2009 com investimentos do Google, Nokia, Cisco, Kauffman e NASA. A instituição tem como objetivo formar líderes capazes de resolver, com inovação e tecnologia, os oito grandes desafios do planeta – acesso amplo e sustentável a energia, desenvolvimento sustentável, alimentação para todos, acesso a água potável, acabar com a pobreza, garantir educação, saúde e segurança para todos.

O modelo de inovação da Singularity está em expansão: atualmente, a instituição tem unidades nos Estados Unidos, Dinamarca e Holanda, com planos de expansão para outros países da Europa e América Latina. Em novembro deste ano, a Singularity fechou parceria com a HSM, braço de educação executiva da Anima, para a abertura de uma unidade da universidade em São Paulo em 2019.

Com aulas ministradas por professores dos Estados Unidos e do Brasil, serão trazidos para o país cursos de inteligência artificial, robótica, impressão 3D, inovação, energia, biotecnologia, big data, entre outros temas relacionados a tecnologia e inovação.

Ampliando horizontes

O modelo da Singularity é um dos caminhos para a educação do futuro, segundo Roberts. Para ele, a educação deve se distanciar do modelo tradicional de acumular conhecimentos e se aproximar da ideia mais ampla de aprendizagem.

“A educação está falida. Ensinamos as pessoas da mesma maneira durante os últimos 100 anos e, como crescemos nesse sistema, achamos que é normal, mas é uma loucura”, diz Roberts. “O verdadeiro propósito da escola deveria ser gerar curiosidade, pessoas com fome de aprender”, completa.

Novos conhecimentos de especialistas da área podem ser catalisadores para mudanças: com novas pesquisas sobre os processos de aprendizagem, novos modelos de ensino, mais eficazes, podem ser desenvolvidos para atender às necessidades dos alunos.

“Outro dos grandes dramas é a falta de personalização nas aulas. Quando um professor fala, para alguns alunos será rápido demais, para outros muito devagar e para quatro terá a velocidade certa. Depois são avaliados e sua curva de aprendizagem não importa, são acelerados no curso seguinte. Hoje sabemos que se nos adaptamos aos diferentes tipos de inteligências, 98% dos alunos terão melhor resultado”, explica Roberts.

Digitalização

Outro caminho apontado por Roberts para a universidade no futuro é a digitalização, mas, para isso, as instituições precisam reavaliar os seus modelos de ensino e aprendizagem.

“Grandes universidades não querem oferecer seus conteúdos online porque acreditam que a experiência dos alunos será pior, que não existe nada que possa igualar o frente a frente com o professor na sala de aula. Enquanto ignoram a revolução que acontece fora, a experiência de aprendizagem online irá melhorando”, diz o professor.

A digitalização do ensino é a ideia por trás de projetos como o edX, plataforma online que oferece aulas e conteúdos de instituições renomadas, como MIT, Harvard e Berkeley, gratuitamente para usuários de todo o mundo. Para Anant Argarwal, professor de ciência da computação e fundador da plataforma, o modelo é uma revolução no ensino.

“Isso vai reinventar a educação. Vai transformar as universidades. Vai democratizar a educação em escala global. Essa é a maior inovação na educação nos últimos 200 anos”, defendeu Argarwal em entrevista ao The Guardian.

Do mesmo modo, iniciativas como a Universidade Minerva começaram a ganhar espaço nos últimos anos ao oferecer uma experiência educacional diferente daquela encontrado no modelo tradicional. Na instituição, os alunos têm aulas online e ao vivo, com turmas de no máximo vinte alunos.

Uma das principais inovações da universidade é oferecer a experiência de campus itinerante: no primeiro ano, iniciado em 2014, os alunos estudaram em São Francisco, na sede da Universidade Minerva; depois disso, passam cada semestre em um país diferente.

Resistência

Mas a disrupção do modelo tradicional trazida por inovações como a Universidade Minerva e a Universidade Singularity ainda encontra resistência. Em uma análise publicada na revista The Atlantic, Michael Roth, presidente da Universidade Wesleyan apresenta críticas ao ideal de disrupção do modelo de ensino superior por meio das novas tecnologias.

“Não vamos sucumbir à fantasia tecnofantástica de pensar que o ensino superior pode ser pirateado em um aplicativo – como pedir um táxi ou organizar dados através de uma selfie”, diz “Muitos participantes de educação à distância demonstram um desejo intenso de ir a um campus universitário – um espaço físico, mesmo que híbrido, em que eles possam buscar conhecimento além das telas digitais”, segue.

Mas, de acordo com Roberts, a ideia de que os alunos necessitam da experiência universitária presencial é um dogma educacional que precisa ser quebrado. “Hoje em dia vemos a maior disrupção da história na educação e a mentalidade habitual diante dessas transformações tão radicais costuma ser a de pensar que o anterior era melhor”, diz.

FONTE: GAZETA DO POVO