O impacto da Era Exponencial nos negócios

O escritor Azeem Azhar explora as mudanças trazidas pela Era Exponencial e explica por que as empresas passarão a mediar nossas relações cada vez mais

Por Soraia Yoshida no THE SHIFT

A bioeconomia pode valer US$ 4 trilhões nos próximos 10 a 20 anos, segundo um estudo da McKinsey. O mercado de saúde inteligente (smart healthcare) vai chegar a mais de US$ 482 bilhões até 2027, de acordo com dados da Precedence Research. Só o mercado de impressão 3D para saúde vai bater nos US$ 3,7 bilhões nos próximos cinco anos. Todos esses segmentos possuem algo em comum: ganharam destaque na última década com os avanços de novas tecnologias em um ritmo tão acelerado que antes eram vistos apenas como “coisa de laboratório”. Não mais.

Nem é preciso olhar para tão longe do nosso cotidiano para enxergar a mudança. Conexão ultra-rápida e celulares que tiram fotos de qualidade? Compras com entrega em horas a partir de um dispositivo móvel? O que permitiu tamanho avanço é exatamente o objeto do livro “The Exponential Age: How Accelerating Technology is Transforming Business, Politics and Society”, de Azeem Azhar, criador da plataforma Exponential View, especializada em análises profundas da indústria de tecnologia e autor de uma newsletter e de um podcast semanal em que trata exatamente da disrupção trazida pela era exponencial.

Com uma longa experiência na cobertura de assuntos de tecnologia também para a Economist e The Guardian, Azeem Azhar afirma que a “era exponencial é um novo período dentro da história e no qual estamos vivendo”. Esse período seria definido e movido por quatro grupos-chave de tecnologias:

Tecnologias do campo da Inteligência Artificial
Tecnologias que nos permitem manipular o mundo biológico (da engenharia de proteínas aos genomas)
Novas tecnologias de energia (para gerar e acumular energia sustentável)
Tecnologias emergentes (como impressão 3D)
“Eu considero cada uma dessas tecnologias como exponenciais porque a cada ano elas melhoram do ponto de vista de preço, em mais de 10%, e isso se compõe ao longo das décadas. E o resultado dessa combinação é que essas tecnologias estão se tornando muito baratas e muito rápido”, afirma Azeem Azhar, nesta entrevista ao London Speaker Bureau. “Porque essas tecnologias são baratas e poderosas, elas se tornam onipresentes, de modo que indústrias e economias inteiras se reorientam em torno dessas tecnologias”.

Até o surgimento das tecnologias exponenciais, a abordagem dos negócios tradicionais era confiar em modelos que tiveram sucesso ontem. Eles se baseavam em uma estratégia de que amanhã poderia ser um pouquinho diferente, mas não muito.

Para entender como esse modelo difere do que veio antes, basta pensar que no início do século 20, as mulheres passaram a ter o direito de votar, os trabalhadores passaram a ser empregados em linhas de produção em fábricas modernas e os países desenvolvidos expandiam os meios de transporte. As mudanças, escreve Azhar em seu livro, foram três tecnologia de uso geral: o telefone, o carro e a eletricidade. “Essas foram, nas palavras do historiador Vaclav Smil, as tecnologias que fizeram o mundo moderno. Não apenas os gadgets e a infraestrutura, mas a maneira como vivíamos nossas vidas”, escreve o autor.

“Considere um dos fundadores da época, Henry Ford. Ele não apenas expandiu enormemente o mercado de automóveis, mas também mudou a natureza do trabalho, proporcionando segurança econômica e pagamento decente em troca de subordinação em uma linha de fábrica. Esse modelo surgiria e se tornaria comum em todo o mundo”, cita Azhar. “Hoje, estamos em um ponto de inflexão semelhante. Quatro grandes famílias de tecnologias – computação, biologia, novas tecnologias de energia e novas técnicas de fabricação – estão melhorando rapidamente a taxas exponenciais. Essas tecnologias transformarão setores de nossa economia”.

 

O que mudou?
Basicamente, o pensamento linear baseado na suposição de que a mudança levaria décadas para acontecer, como havia sido no passado, e não meses, como enxergamos, por exemplo, com as vacinas contra Covid-19 no ano passado. O ritmo com que as ondas de mudança estão chegando e o impacto que têm nos negócios, aliado à rapidez com que são absorvidas pelas pessoas, é surpreendente. Não nos damos conta de que há 20 anos o mundo não era habitado pela onipresença de celulares com câmeras. E que parentes e amigos se despediam de quem ia viajar praticamente na porta do embarque.

“Na Era Exponencial, uma entrada principal para uma empresa é sua capacidade de processar informações. Um dos principais custos para processar esses dados é a computação. E o custo de computação não aumentava a cada ano, diminuía rapidamente. A dinâmica subjacente de como as empresas operam mudou”, afirma Azhar neste artigo para a Wired.

“A Lei de Moore reduz para metade o custo subjacente de computação a cada dois anos. Isso significa que a cada dez anos, o custo do processamento que pode ser feito por um computador diminuirá por um fator de 100. Mas as implicações desse processo vão muito além do uso de nosso laptop pessoal”, explica. Se uma organização precisa usar computação para seu negócio e o valor ainda é muito alto hoje, em alguns anos vai deixar de ser. “As organizações que compreenderam essa deflação e fizeram o planejamento para isso ficaram bem posicionadas para aproveitar as vantagens da Era Exponencial”.

 

No gráfico do alto, vemos as Instituições lineares, tecnologias exponenciais e a lacuna exponencial. A seguir, transistores por microprocessador (bilhões). Lei de Moore significa que os transistores disparam enquanto os custos de computação caem. No gráfico 3, o crescimento exponencial é quase imperceptível em A, enquanto se torna óbvio em B. No gráfico 4, a Lei de Moore (preto) vs crescimento em computação para IA (azul) ao longo de 5 anos

Um exemplo de empresa que entendeu bem a natureza da Era Exponencial é a Amazon. Em 27 anos, a companhia transformou não apenas o mercado de livros, mas toda a experiência de compras. No primeiro semestre deste ano, a Amazon registrou receita global de quase US$ 222 bilhões, 34,8% acima dos US$ 164,36 bilhões do mesmo período do ano anterior. As vendas líquidas de produtos aumentaram 25,4% de US$ 92,09 bilhões para US$ 115,50 bilhões. Como bem definiu a Fortune, “uma companhia tão grande não deveria ser capaz de crescer tão rápido”.

O sucesso da Amazon, analisa Azhar, está no fato de que a companhia investe muito em pesquisa e desenvolvimento. Em 2019, a Amazon contou com um orçamento de US$ 36 bilhões para desenvolver de tudo, desde robôs a assistentes inteligentes. Dez anos antes, o orçamento era de US$ 1,2 bilhão, ou seja, um aumento de 44% ao ano. A Amazon dobrou seu investimento em pesquisa ao longo da década de 2010. OU como bem disse Werner Vogels, diretor de Tecnologia da Amazon, se parassem de inovar “estariam fora do mercado em 10-15 anos”. “Nesse processo, a Amazon criou um abismo entre o velho mundo e o novo”, escreve o autor.

A Lei de Moore reduz para metade o custo subjacente de computação a cada dois anos. Isso significa que a cada dez anos, o custo do processamento que pode ser feito por um computador diminuirá por um fator de 100. “Mas as implicações desse processo vão muito além do uso de nosso laptop pessoal. Em geral, se uma organização precisa fazer algo que usa computação, e essa tarefa é muito cara hoje, provavelmente não será muito cara em alguns anos. Para as empresas, essa percepção tem um significado profundo. As organizações que compreenderam essa deflação e fizeram o planejamento para ela se tornaram bem posicionadas para aproveitar as vantagens da Era Exponencial”, acrescenta Azeem Azhar.

A Amazon reconheceu rapidamente e se preparou para essa tendência, o que a ajudou a se tornar uma das empresas mais valiosas da história. Não estava sozinha nesse movimento. Alibaba, Uber, Spotify e TikTok seguiram nessa trilha. As empresas da indústria de música e de publicação, que não se adaptaram às mudanças exponenciais de tecnologia, viram seu valor diminuir aos olhos do consumidor.

Azhar observa que à medida que as empresas desenvolvem novos serviços usando tecnologias inovadoras, mais aspectos de nossa vida passam a ser mediados por empresas privadas. O que antes seria considerado privado, será algo comprado e vendido por uma empresa na Era Exponencial. Ou quando novas tecnologias permitem que empresas e trabalhadores possam se conectar em plataformas, isso cria um mercado vibrante, o que é bom. Por outro lado, muitos empregos deixam de ser estáveis, os trabalhadores não têm certeza de seus direitos. “Nossa abordagem do trabalho foi desenvolvida nos séculos XIX e XX. O que isso pode nos dizer sobre o trabalho semiautomático? Esta é a lacuna exponencial”.

Quanto mais a Era Exponencial se desenvolver, essa lacuna passará a representar um problema existencial. “Cada serviço que acessamos, seja no país mais rico ou mais pobre, provavelmente será mediado por um smartphone. Cada interação com uma empresa ou nosso governo será tratada por um algoritmo de aprendizado de máquina. Nossa educação e saúde serão fornecidas por meio de tecnologias habilitadas para IA”, cita Azhar. “Nossos produtos manufaturados, sejam eles conveniências domésticas ou nossas casas, serão produzidos por impressoras 3D. As tecnologias exponenciais serão cada vez mais o meio pelo qual interagimos uns com os outros, o estado e a economia”.

“Para as pessoas e empresas que entendem essa mudança, a lacuna exponencial cria uma grande oportunidade. Aqueles que aproveitam o poder da exponencialidade se sairão muito melhor do que aqueles que não o fazem. Não se trata apenas de riqueza pessoal. Nossas regras e normas são moldadas pelas tecnologias da época – aqueles que projetam tecnologias essenciais têm a chance de moldar a forma como todos vivemos. E essas pessoas estão em minoria. Estamos testemunhando o surgimento de uma sociedade de duas camadas – entre aqueles que aproveitaram o poder da nova tecnologia e aqueles que não o fizeram”.

FONTE https://theshift.info/hot/o-impacto-da-era-exponencial-nos-negocios/