O governo da China “compra” engenheiros na Asia para turbinar fábricas locais de microchips

China contrata cientistas japoneses, gerando temores de fuga de tecnologia. Ao mesmo tempo, compra fábricas de chips para aplicar o “learning-by-doing” para acelerar a inovação no país. Ainda em 2016, Toshitaka Kajino, 64, professor do National Astronomical Observatory  do Japão, tornou-se o primeiro diretor do International Research Center for Big-Bang Cosmology and Element Genesis at the Beijing University of Aeronautics and Astronautics. Conhecida como autoridade em física teórica, Kajino aceitou um convite irrecusável do governo chinês que oferecia uma remuneração anual superior à de outros professores que trabalhavam na China. O número de acadêmicos japoneses trabalhando na China tem aumentado constantemente. Cerca de 8.000 deles estavam na China em outubro de 2017, disse o Ministério das Relações Exteriores do Japão. O número de acadêmicos japoneses que permaneceram na China por menos de um mês no ano fiscal de 2018 chegou a 18.460, um aumento de cerca de 25% em relação ao ano de 2014 e marcando um aumento pelo quarto ano consecutivo, de acordo com o Ministério da Educação, Cultura e Esportes do Japão, Ciência e Tecnologia. A China está recrutando ativamente acadêmicos. De acordo com o Australian Strategic Policy Institute, a China tem mais de 600 “estações de trabalho de recrutamento de talentos no exterior”, incluindo 46 no Japão. Eles costumam ser administrados por grupos simpáticos a Pequim, em todo o mundo. Assim funciona o processo da construção de aprendizagem para internalizar conhecimento e lograr o catch up tecnológico. Essa a estratégia de inovação na China para fabricação de Chips. A China adquiriu máquinas japonesas de fabricação de chips para entrar em fábricas 3G.  A Intang Intelligent Controls assumiu a Pioneer Micro Technology e planeja enviar suas 5 máquinas de litografia para a China. A ideia é que isso lhe permita ‘projetar’ um salto para a fabricação de chips de computador de ponta, o componente crítico que falta atualmente no continente. No ano passado, as importações chinesas de chips de computador totalizaram US$ 300 bilhões, ultrapassando o total das despesas nacionais com petróleo – U$ 240 bilhões.

Com a guerra comercial e tecnológica entre EUA e China, a Huawei aprendeu que precisa controlar os elos da cadeia de suprimentos, como muitos outros perceberam depois que a globalização foi revertida quando o coronavírus chegou. Com isso, a estratégia chinesa é absorver conhecimentos do mundo no setor, aplica engenharia reversa, para avancar em  sua curva de aprendizado. É importante lembrar que o governo da China construiu um Plano de US$ 1,4 trilhão para dominar a indústria mundial de semicondutores, principalmente em resposta às restrições dos EUA, a China elabora plano para dominar a indústria mundial de semicondutores até 2025. Os chips de computador, a tecnologia central da era digital, são uma prioridade no plano de cinco anos proposto pela China de US $ 1,4 trilhão para ultrapassar os EUA. As iniciativas chinesas incluem 4 dimensões:

1º dimensão: Contratação de milhares de engenheiros de fabricação de chips de Taiwan para trabalhar no continente pagando o dobro dos salarios. As empresas chinesas já haviam contratado 3.000 engenheiros de chips taiwaneses no final do ano passado, de acordo com vários relatórios. No início deste ano, a China atraiu 100 dos principais engenheiros da Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC).

2º dimensão: Nova aliança de pesquisa com a Rússia, uma potência científica que forma mais engenheiros a cada ano do que os EUA. A Huawei está expandindo suas operações de P&D, principalmente na Rússia, onde também está construindo o sistema nacional de banda larga 5G. O fundador da Huawei, Ren Zhengfei: “Depois que os EUA nos incluíram na Lista de Entidades, transferimos nosso investimento nos EUA para a Rússia, aumentamos o investimento russo, expandimos a equipe de cientistas russos e aumentamos o salário dos cientistas russos”.

3º dimensão: Um programa de enorme orçamento para aumentar a produção de chips de última geração na China. Somente a TSMC e a Samsung podem produzir os chips de 7 nanômetros nos telefones tops de linha da Huawei. As probabilidades são de que a Huawei será capaz de produzir um chipset Kirin de 7 nanômetros de última geração dentro da China sem equipamento dos EUA antes de 2021.

4º dimensão: Linhas de produção de semicondutores sem equipamentos americanos. A Huawei planeja construir suas próprias fábricas. O projeto de fabricação do chip “Tashan” da Huawei foi em agosto. Resultado: soberania nacional via política industrial e de inovação.

FONTE:

https://www.paulogala.com.br/o-governo-da-china-compra-engenheiros/